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Capital

Contador preso por furtar fiéis é acusado de “embolsar” R$ 607 mil de associação

Desvios de dinheiro da mensalidade de planos de saúde dos associados aconteceram até 2017, segundo denúncia

Anahi Zurutuza | 07/07/2021 17:10
Nota promissória com assinatura de associado, que conforme denúncia foi falsificada por contador para encobrir desvios (Foto: Reprodução do processo) 
Nota promissória com assinatura de associado, que conforme denúncia foi falsificada por contador para encobrir desvios (Foto: Reprodução do processo)

Preso por furtar doações de fiéis da Comunidade Cristã Aliançados, o contador Alípio Raymundo da Silva, de 60 anos, já teve problemas com a Justiça por querer “se dar bem”. Respondeu a processo depois que funcionários da Águas Guariroba flagraram “gato” no hidrômetro da casa dele, mas a denúncia mais grave é de apropriação indébita, que tramita desde 2019.

Alípio é acusado pela ASDNER-MS (Associação dos Servidores Federais em Transportes de Mato Grosso do Sul) de ter “embolsado”, entre dezembro de 2014 e setembro de 2017, R$ 607.937,46 que pertenceriam à entidade.

Ainda conforme a denúncia, o contador era o responsável pelas finanças da associação e, dentre outras atribuições, recebia os valores que eram pagos pelos associados para a entidade arcar com mensalidades de plano de saúde.

De acordo com a peça, assinada pelo promotor Pedro Arthur de Figueiredo, do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a direção da ASDNER só descobriu os desvios depois que percebeu que vários filiados estavam inadimplentes e precisou usar dinheiro de fundo da associação para cobrir as faturas em atraso.

Depois de arcar com os débitos dos associados, o diretor da entidade mandou que o contador emitisse notas promissórias para que os devedores reembolsassem a ASDNER. Foi quando Alípio Raymundo cometeu outra irregularidade, também segundo a denúncia, falsificando a assinatura da pessoa que tinha uma das supostas dívidas mais altas com a associação.

Conforme a investigação e peça acusatória, o contador ficava com valores repassados por associados diretamente a ele para pagar o convênio médico. Recibos e declarações escritas pelos filiados foram anexadas como prova no processo.

Associação funciona em imóvel no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande (Foto: ASDNER/Divulgação) 
Associação funciona em imóvel no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande (Foto: ASDNER/Divulgação)

Defesa - No dia 22 de maio de 2018, o contador prestou depoimento à polícia, alegando estar sendo acusado injustamente. Na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), acompanhado de advogado, ele negou as acusações. Questionado porque estava sendo denunciado por desviar dinheiro da associação, segundo registro policial, Alípio disse que estava em situação financeira complicada e “pagava um valor antecipado”, cerca de R$ 1,5 mil, mas quando recebia o salário, fazia a devolução.

Disse ainda ficou afastado das funções por 30 dias e quando voltou, foi acusado de se apropriado de R$ 220 mil. Revelou que foi demitido em outubro de 2017, antes que pudesse devolver os R$ 1,5 mil que havia pegado “a título de empréstimo”. A investigação chegou ao valor de R$ 607 mil após longa análise nos demonstrativos entregues pela ASDNER, demonstrada no processo.

Ele ainda fez acusações contra o diretor da associação. Na Justiça, ainda não apresentou defesa. Audiências para ouvir as testemunhas de acusação e interrogar o réu chegaram a ser marcadas para junho do ano passado, mas a pandemia fez juiz adiar a instrução da ação penal, que travou aí.

Não encontrado - O Campo Grande News tentou falar com o contador no celular fornecido por ele ao Judiciário nesta quarta-feira (7), mas a mensagem é que o “número está impossibilitado de receber este tipo de chamada neste momento”. No fixo, ninguém atendeu às ligações da reportagem.

O processo pela fraude no hidrômetro foi arquivado em 2015, após negociação e quitação de débitos com a Águas Guariroba.

Fiéis durante inaguração de unidade da Igreja Aliançados, que em janeiro passou a promover cultos em prédio que foi espaço para festas, o Diamond Hall (Foto: Adriano Fernandes/Arquivo)
Fiéis durante inaguração de unidade da Igreja Aliançados, que em janeiro passou a promover cultos em prédio que foi espaço para festas, o Diamond Hall (Foto: Adriano Fernandes/Arquivo)

Mais um enrosco - Alípio Raymundo da Silva foi preso em flagrante ontem (6) acusado de furtar dinheiro arrecadado pela Comunidade Cristã Aliançados com fiéis. Segundo registrado no auto de prisão, o contador confessou que surrupiava dinheiro da igreja há pelo menos dois meses. Disse que teria embolsado de R$ 18 mil a R$ 20 mil durante o período.

Denúncia foi feita à 6ª Delegacia de Polícia Civil por um advogado da instituição, que também já havia acionado a PM (Polícia Militar). Ele fala que há uns meses, a diretoria da igreja vinha notando a diferença entre os valores lançados em relatórios de contabilidade e o realmente era arrecadado durante os cultos.

Ontem, contudo, uma funcionária viu quando o contador retirou alguns envelopes que estavam sendo conferidos e os escondeu. Ela o questionou, o homem ficou nervoso, dizendo que a colega estava fazendo acusações. O advogado foi chamado, as câmeras de segurança foram checadas e as imagens confirmaram que o funcionário da igreja havia “embolsado” seis envelopes com dinheiro.

Depois do flagrante, o contador assumiu que vinha cometendo furtos. Como a contabilidade era feita semanalmente, ele acredita que levava de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil que depositava em sua conta bancária ou usava para pagar contas.

O homem trabalhava há 3 anos como assistente administrativo da igreja. Ele responderá pelo crime de furto qualificado por abuso de confiança.

Alípio passou por audiência de custódia nesta manhã e foi libertado após pagar fiança de um salário mínimo (R$ 1,1 mil).

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