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Em homenagem aos finados, mudas de árvores são distribuídas em três cemitérios

Serão distribuídas 2 mil mudas gratuitamente até domingo (1) no Santo Amaro, Santo Antônio e Cruzeiro

Por Mylena Fraiha e Raíssa Rojas | 01/11/2025 10:39
Em homenagem aos finados, mudas de árvores são distribuídas em três cemitérios
Tenda da prefeitura localizada na entrada do Cemitério Santo Amaro; o ponto tem distribuído mudas de árvores (Foto: Osmar Veiga).

Às vésperas do Dia de Finados, quem foi visitar parentes e amigos falecidos em Campo Grande foi recebido com uma homenagem diferente. Sob tendas montadas nas entradas dos cemitérios Santo Amaro, Santo Antônio e São Sebastião (o Cruzeiro), a Prefeitura distribuiu mudas de árvores e frutíferas neste sábado (1º), em ação que segue até domingo (2).

RESUMO

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A Prefeitura de Campo Grande realiza distribuição de mudas de árvores em três cemitérios da cidade durante o Dia de Finados. A ação, que acontece nos cemitérios Santo Amaro, Santo Antônio e São Sebastião, disponibiliza 2 mil mudas de ipês e árvores frutíferas aos visitantes. A iniciativa, uma parceria entre Águas Guariroba, Sisep e Semades, decora os pontos de entrega com a mensagem "Quando a saudade floresce, o amor cria raízes". A prefeitura estima que 42 mil pessoas visitem os cemitérios durante o feriado, com distribuição das mudas das 7h às 17h.

Os pontos de entrega foram decorados com banners com a frase “Quando a saudade floresce, o amor cria raízes”, simbolizando a união entre a memória dos que partiram e o cuidado com o meio ambiente.

Ao todo, são 2 mil mudas, entre ipês mirim e comum, além de espécies frutíferas como cajuzeiro, amoreira e goiabeira. A iniciativa é uma parceria da Águas Guariroba com o viveiro de mudas da Sisep (Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos) e a Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável).

De acordo com a Sisep, a movimentação nos cemitérios já é intensa desde sexta-feira (31). Aproximadamente 5 mil pessoas passaram pelos três locais apenas ontem, com 3 mil no Santo Amaro, 1,2 mil no Santo Antônio e 800 no São Sebastião. A estimativa é de que 42 mil visitantes circulem pelos cemitérios neste feriado.

No Cemitério Santo Amaro, na Avenida Presidente Vargas, a distribuição das mudas começou às 7h e segue até as 17h. A administração reforçou que as árvores não podem ser plantadas dentro dos cemitérios, pois as raízes podem atingir os túmulos. Caso isso ocorra, a responsabilidade pelos reparos é das famílias.

Memórias que florescem - Entre os visitantes, Nancy Damares Castilho, de 63 anos, foi uma das primeiras a chegar ao Santo Amaro, acompanhada do marido, Jorge Takashi Tanaka. Moradora do bairro Pioneiros, ela carrega todos os anos a tradição de visitar o túmulo da irmã, Isidora Castilho, falecida em 1983, aos 29 anos.

“Ela era um pilar da família, sustentava todos nós”, lembra Nancy. Ela conta que a irmã havia deixado o Paraguai na década de 1970 e foi a primeira da família a se mudar para o Mato Grosso do Sul. Posteriormente, trabalhou em garimpos na região da Alta Floresta (MT), onde contraiu malária. Após retornar ao MS, chegou a ser internada na Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu.

Em homenagem aos finados, mudas de árvores são distribuídas em três cemitérios
Nancy diz que carrega todos os anos a tradição de visitar o túmulo da irmã (Foto: Osmar Veiga).

Com o olhar voltado ao jazigo simples, Nancy explica que aproveita o momento para prestar homenagens. “A gente vem todo ano, só não veio na pandemia. A gente se sente bem, conversa com a pessoa. Contei para ela dos netos que nasceram, dos filhos que vieram. É uma forma de manter o vínculo”, contou.

Ao receber uma muda de ipê, ela elogiou a iniciativa da prefeitura. “Achei muito bonito o gesto. É difícil encontrar algo assim”.

Em homenagem aos finados, mudas de árvores são distribuídas em três cemitérios
Emerson explica que foi visitar os túmulos da irmã e do sobrinho no Cemitério Santo Amaro (Foto: Osmar Veiga).

O pintor Emerson Gabriel dos Santos, de 50 anos, também foi ao cemitério acompanhado da mãe, Valdevina da Silva, de 71, para visitar os túmulos da irmã e do sobrinho - mãe e filho -, que morreram em anos diferentes e nem chegaram a conviver.

A irmã faleceu em 1992, aos 30 anos, após complicações em uma cirurgia para retirada de pedras na vesícula. O filho dela, sobrinho de Emerson, morreu em 2022, vítima de meningite. “Ele não conheceu a mãe, porque ela faleceu quando ele tinha seis meses”, contou o pintor.

Visivelmente emocionado, ele disse que a visita revive memórias difíceis. “É muito difícil, agora eu chorei horrores. Eu não consegui ir no velório dela, estava em São Paulo trabalhando e não consegui vir. Vir hoje traz muitas recordações, ela foi uma das irmãs que mais me ajudou nos 13, 14 anos. A gente começa a lembrar de coisas que ela podia fazer por mim e eu não pude fazer por ela. Me senti inútil".

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Ao lado de Emerson, Valdevina também se emocionou diante do jazigo da filha e levou duas mudas para casa (Foto: Osmar Veiga).

Valdevina, ao lado do filho, também se emocionou diante do jazigo. “Quando a saudade bate em casa é difícil, fico muito triste. Eu ponho hino no radinho e passa. Ainda mais ele, pelo menos eles [mãe e filho] ficaram mais próximos”, disse, com a voz embargada.

Emerson contou que pretende plantar as mudas de ipê e amoreira  em um parque ecológico que fica em frente à sua casa. “Achei ótima [a ação], Campo Grande precisa de mais flores e árvores, seja de qualquer espécie. No mesmo instante que é bom, é triste. A gente nunca quer, mas uma hora vai acontecer”.

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Ademar faz visita em cemitério e leva muda de goiaba e outra de caju (Foto: Osmar Veiga).

Quem também aproveitou a manhã para fazer homenagens foi Ademar Espíndola Garcia, de 70 anos, aposentado. Com uma muda de goiaba em uma mão e outra de caju na outra, ele contou que visita o túmulo do pai e do irmão todos os anos. “Eu vim visitar o túmulo do meu pai e irmão, venho todo ano lavar. Tenho que trazer uma tinta e cimento para conservar e não deixar abandonado. Aqui é nossa morada eterna”, comentou.

Ademar lembra com detalhes das histórias da família. O pai, Esperidião Cândido Garcia, faleceu em 1988, aos 68 anos. “Ele já levou três tiros e sobreviveu, irmão dele deu facada nele e ele sobreviveu. Então ele era muito feroz, meu pai, Deus levou ele.”

Já o irmão, Wilson Espíndola Garcia, morreu há pouco mais de um ano, aos 64. “Ele bebia muito”, lamenta o aposentado. “Eles estão no mesmo túmulo, e o próximo, em cima, pode ser o meu”.

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Ademar lembra com detalhes das histórias da família (Foto: Osmar Veiga).

Apesar da emoção, Ademar diz que leva a vida com leveza. “Faço academia, me cuido bem, então não tenho preocupação”, afirmou, rindo. Religioso, ele contou que frequenta a igreja com frequência e acredita que a ação da prefeitura incentiva a esperança. “Eu acho bom a distribuição, favorece e incentiva o pessoal a plantar. Amanhã eu vou plantar com o adubo que eu tenho”.

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Antônio explica que viajou 141 km de Aquidauana para Campo Grande com a esposa especialmente para o feriado (Foto: Osmar Veiga).

Outro visitante, Antônio Espinoza, de 64 anos, viajou 141 km de Aquidauana para Campo Grande com a esposa especialmente para o feriado. Representante comercial, ele aproveitou a ida à Capital para visitar o túmulo de amigos e familiares. “Já faz alguns anos que não venho, e o cemitério muda muito, fica difícil localizar tudo. Então acendo as velas no cruzeiro, em oração por todos”.

Com dois pacotes de velas, cada um com oito unidades, ele fez sua homenagem e ressaltou que é uma tradição. “É uma tradição que vem dos meus pais. Mesmo quando não posso vir a Campo Grande, acendo as velas lá em Aquidauana. É um momento de fé, de agradecer e relembrar quem partiu”.

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Ao lado da esposa, Antônio faz homenagens em cruzeiro do Cemitério Santo Amaro (Foto: Osmar Veiga).

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