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Capital

Há 6 meses, tia tenta convencer autoridades de maus-tratos a sobrinho

Rafael Ribeiro e Guilherme Henri | 28/08/2017 08:54
A tia denunciante: angústia e preocupação pelo futuro do sobrinho diante das denúncias (Foto: Rafael Ribeiro)
A tia denunciante: angústia e preocupação pelo futuro do sobrinho diante das denúncias (Foto: Rafael Ribeiro)

Desesperada, uma microempresária de 28 anos denuncia que foi tratada com descaso pelas autoridades ao denunciar maus-tratos sofridos pelo sobrinho, de 9, nas mãos da própria irmã, de 30, na região do Jardim Tarumã (zona sul de Campo Grande). A mulher alega estar em uma luta de seis meses para que o menino tenha ajuda diante das agressões, humilhações e até trabalho forçado em um pequeno comércio que a irmã mantém no bairro.

A situação foi descoberta em fevereiro, segundo ela. Durante uma visita na casa da suspeita, a microempresária flagrou o sobrinho com ferimentos nas costas e após apurar por conta própria descobriu que ele vinha apanhando constantemente da mãe, além de ser humilhado com ameaças e ofensas de baixo calão.

"Foi algo que me cortou o coração. Quando cheguei vi ele colocar a camiseta correndo para esconder as feridas", disse.

Conversando com vizinhos da irmã, ela descobriu mais.  Diz que o menino era obrigado a trabalhar numa lanchonete. E a suspeita não escondia seu desdém com a criança, a quem ameaçava constantemente de abandonar, entregando a orfanato e outras instituições que cuidam de menores abandonados.

Descaso - Começava ali também, sem ela saber, uma disputa interna com as autoridades atrás de uma solução para o caso. Naquele mesmo dia de fevereiro, ela diz ter ligado ao Conselho Tutelar da região central, que retornou depois de quatro dias para informar apenas que a escola municipal do bairro onde o menino estuda a quinta série do Ensino Fundamental respondeu que não notara nada de diferente e que ele continuava a frequentar normalmente as aulas.

A microempresária aceitou o golpe calada. Afirma que de fato concordou com as alegações de que, como tia, não poderia mesmo interferir no âmbito escolar. Mas o que viria a acontecer aumentaram as suas frustrações.

Em abril, vizinhos da irmã novamente a procuraram. Informaram que eles próprios haviam procurado o Conselho Tutelar para denunciar o trabalho infantil flagrado diariamente na lanchonete. Forneceram dados. E nada fora feito de novo.

Ela então decidiu conversar novamente com a irmã. E diz ter presenciado outra cena de agressão. Após um desentendimento com o padastro do menino, a mãe se trancou com ele em um quarto. Gritos e sons característicos de violência foram ouvidos. Atordoada, a microempresária ligou para a Polícia Militar.

"Apareceram depois de uma hora, quando minha irmã já tinha saído de casa com a criança. Disseram que não podiam fazer nada se não flagrassem ferimentos. Mas depois de tanto tempo os sinais sumiram", relembrou.

A solução, acreditou, poderia ser o Conselho Tutelar. Mais uma resposta frustrante. "A conselheira foi bem direta. Disse que não poderia fazer nada, sair para procurar o menino e ainda perguntou se valeria a pena mesmo ela se deslocar até lá", disse.

Capítulo - O drama, segundo a tia, viu um novo acontecimento no início deste mês. Os vizinhos voltaram a dizer que mantinham as denúncias ao órgão pelo trabalho infantil forçado. E seu pai, policial aposentado, descobriu que o menino parou de revelar as agressões sofridas porque as ameaças aumentaram o tom.

Desta vez decidiu procurar ajuda na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção a Criança e Adolescente). Mais uma frustração. Investigadores informaram que nada poderiam fazer sem o relato da criança, Sequer a feitura de um boletim de ocorrência, o que forçaria a abertura de um inquérito é a tão almejada investigação dos fatos.

"Só com a presença do menino, contaram. O que é impossível porque não conseguiríamos tirar ele de perto da mãe", ponderou a microempresária.

Pelo bem ou mal, a convocação da Polícia Civil pode ter auxiliado a um parecer mais favorável do Conselho Tutelar. Após a ida para a DEPCA, o órgão disse que apuraria. Colheu mais informações e até teria notificado a mãe para cobrar respostas. Mas desagradou a postura.

"Perguntaram as mesmas coisas, o que leva a crer que nada guardaram do que eu já havia denunciado. Não levaram para a frente nada, nem mantiveram um cadastro", disse

Terror - Quem sofre, claro, é o menino, segundo a tia. Ela relembra que somente há dois anos o sobrinho foi morar com a mãe, que teve problemas com drogas anteriormente. O pai "não existe", resume.

O Campo Grande News esteve na rua onde a família mora. A mãe não estava, a casa estava vazia. Os vizinhos confirmam as denúncias feitas. Sempre com a garantia da preservação da identidade. Todos têm medo do temperamento agressivo da suspeita.

"Chega ao ponto de sair ela, o marido e os dois filhos menores e deixarem ele sozinho", disse uma mulher. "Já flagrei ela batendo nele porque deixou cair uma garrafa de refrigerante no chão no atendimento. Também quase sempre ele é xingado por errar no troco, essas coisas", disse outro.

Seis meses após iniciar a disputa familiar pelo menino, a microempresária sabe que o ambiente com a irmã desaparecerá depois do caso se tornar pública. Não teme. Diz que não suporta criança apanhando. E mesmo diante do descaso se oferece até a assumir a guarda da criança. Para acabar com o sofrimento.

"Não posso ver isso tudo é ficar quieta. Não sei como ficará minha relação com ela (irmã) depois disso tudo. Mas não importo. Se conselho e polícia fazerem a parte deles e esse menino encontrar a luz que lhe pertence, já terá valido a pena. Ele tem direito a um futuro", clamou, emocionada.

Resposta – Integrantes do Conselho Tutelar Centro ouvidos pela reportagem contrariam algumas das observações ditas pela tia.

Segundo eles, a mãe compareceu na última quarta-feira (23) à unidade após ter sido notificada e negou que agredisse o filho.


A criança, por sua vez, além de não apresentar sintomas físicos e psicológicos de quem foi agredido, também não disse haver qualquer problema.

Sobre sua presença na lanchonete, a mãe ressaltou que a criança não trabalha no local e que apenas o deixa ali para que ele não fique sozinho em casa.

Funcionários explicaram ao Campo Grande News que não agiram anteriormente no caso pelo simples fato de não haver evidências de que o menino sofra maus tratos.


Procurada pelos conselheiros, a escola disse que não notou qualquer problema havendo o menino.
O órgão alega, ainda, que pessoas a acionaram usando nomes e funções falsas.


Entretanto, apesar da falta de evidências, o Conselho Tutelar disse que seguiria acompanhando o caso com todo o seu aparato, inclusive médico.


Por telefone, o delegado Paulo Sérgio Lauretto, titular da Depca, explicou que se um caso desse é registrado, só com base na denúncia da tia, sem ser testemunha e a com a criança negando, "ele não vira nada. É arquivado. Pois vai chegar no final e a criança vai negar tudo".


“Para que as investigações andem é necessário testemunhas. Cadê esses vizinhos que dizem que veem esses maus tratos e não denunciam? Eles acabam sendo coniventes com essa mãe", completou o delegado.

Ainda segundo o delegado seria necessário um flagrante do conselho ou até mesmo um vídeo feito por parte de algum morador. Ou que as testemunhas fossem ao local.

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