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Capital

Há 76 anos, Getúlio Vargas ganhou churrasco e deu presente para Capital

Durante visita ao Estado, que ainda estava unificado, presidente prometeu liberar verba para a instalação da rede de água e esgoto

Maressa Mendonça e Marta Ferreira | 25/08/2019 08:40
Há 76 anos, Getúlio Vargas ganhou churrasco e deu presente para Capital
Demósthenes Martins, interventor Julio Muller e Getúlio Vargas durante churrasco em 1941; o presidente aparece de costas sendo servido (Foto: Reprodução)
Demósthenes Martins, interventor Julio Muller e Getúlio Vargas durante churrasco em 1941; o presidente aparece de costas sendo servido (Foto: Reprodução)

Muitas histórias antes “escondidas” na Rua 14 de Julho acabaram vindo à tona durante as reformas feitas recentemente no local. Uma delas é sobre a primeira rede de água e esgoto instalada na cidade, resultado de muita insistência junto ao presidente da época, Getúlio Vargas.

A promessa da liberação de verba foi por Getúlio após um churrasco com o então prefeito Demósthenes Martins. O dinheiro não chegou em sua totalidade, mas foi suficiente para obras na extensão até a Rua Maracaju. Quem conta este caso são os filhos do ex-prefeito, Hélio Martins, de 88 anos, e Heliete Martins Thiellen que preferiu não revelar a idade.

Segundo eles, o projeto de instalação do sistema de água e esgoto em Campo Grande tinha sido orçado em 10 mil contos de réis, equivalente hoje a R$ 10 milhões. A verba estava sendo pleiteada há um tempo, mas sem sucesso. Nesta época, o estado de Mato Grosso do Sul ainda não tinha sido criado e a “Cidade Morena” fazia parte de Mato Grosso.

Nesse período, mais precisamente em 1941, Getúlio Vargas fez uma visita ao Estado. O prefeito Eduardo Olímpio Machado não estava nada satisfeito por não ter conseguido implantar o sistema de água e esgoto e “pediu” para o então secretário Demósthenes Martins fazer as honras da casa ao presidente.

“Doutor Machado não queria saber do Getúlio porque tinha sido negado o empréstimo federal. Então, virou-se para papai e disse: olha, eu não recebo esse indivíduo aqui. Vou para a fazenda”, lembra Hélio.

Segundo Hélio, o pai teria perguntado se era um pedido ou ordem? Após entender se tratar de uma obrigação, ele acatou. “Aí o papai recebeu o Getúlio, fez almoço, jantar, mostrou a cidade”.

Demósthenes Martins foi chefe do município durante quase um mês em 1941 e depois entre os anos de 1942 e 1945 (Foto: Arquivo Pessoal)
Demósthenes Martins foi chefe do município durante quase um mês em 1941 e depois entre os anos de 1942 e 1945 (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao que tudo indica, segundo os filhos, nessa ocasião Getúlio não teria dado tanta importância assim aos elogios feitos por Demósthenes à Campo Grande. Ele estava conversando mais com o interventor Julio Muller.

Em 1943, Vargas estava retornando de uma viagem ao Paraná quando foi informado pelo comandante da aeronave em que estava da necessidade de parar para abastecer. A parada foi feita em Campo Grande, quando Demósthenes foi informado pelo próprio comandante sobre esta visita inesperada.

Mais uma vez Demósthenes e Vargas se encontraram e, desta vez, o presidente prometeu liberar a verba para a instalação da rede de água e esgoto. Quem ouviu toda a conversa foi Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente, e isso foi fundamental para garantir que a promessa fosse cumprida.

“Papai foi ao Rio de Janeiro e não conseguia entrevista com Getúlio. Ele não conseguia marcar a entrevista. Aí ele viu o Gregório e falou o senhor se lembra de mim? Sou prefeito de Campo Grande. O Gregório disse vem a tal hora que o presidente vai atender e foi assim”, contou Heliete. “Ele conseguiu tirar os 10 mil contos de réis”, completou Hélio, com orgulho.

Pouco depois os irmãos lembraram que o valor não veio em sua totalidade, mas não souberam informar com exatidão quanto foi liberado. Segundo eles, a ideia inicial era a de instalar rede de esgoto da Rua 14 de Julho até a Avenida Mato Grosso, mas com a verba apertada os trabalhos foram feitos até a Rua Maracaju.“Então foi lançado serviço de água e esgoto aqui”, finalizou Hélio.

Sobre o legado deixado pelo pai, Hélio e Heliete citam mais que este trabalho. Eles falam em combate à corrupção, lembrando do jeito austero de Demósthenes Martins cujos apelidos variavam entre algo tipo “mão de ferro” ou “pimenta malagueta”.

Hélio Martins, de 88 anos, e Heliete Martins Thiellen (Foto: Maressa Mendonça)
Hélio Martins, de 88 anos, e Heliete Martins Thiellen (Foto: Maressa Mendonça)
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