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Comportamento

Apelido de bairro pegou e antigo bloco do Nova Campo Grande virou Vila Popular

Bloco 11, registrado como Nova Campo Grande II, teve o nome alterado pela própria população

Danielle Valentim | 22/08/2019 07:43
Apelido de bairro pegou e antigo bloco do Nova Campo Grande virou Vila Popular
Os moradores forçaram o nome, lembra Delurce, filha do segundo morador do bairro. (Foto Paulo Francis)
Os moradores forçaram o nome, lembra Delurce, filha do segundo morador do bairro. (Foto Paulo Francis)

Campo Grande completa 120 anos e, apesar de nova, há muito o que se revelar, quando o assunto é história. Para celebrar a nova idade da cidade, o Lado B foi até um da da "pontas" da Capital, a a Vila Popular e retornou com uma revelação surpreendente: o nome do bairro é, na verdade, um apelido dado pelos próprios moradores.

Na cidade onde se come pão de queijo trazido pelos colonos mineiros e a chipa e o tereré dos vizinhos paraguaios, influência cultural é o que não falta. A Vila Popular, por exemplo, foi um dos bairros campo-grandenses mais escolhidos por imigrantes paraguaios nas décadas de 1960 e 1970.

A Pesquisa "Campo Grande, a Vila Popular e a Cultura Paraguaia Contada Por Seus Moradores" de Lindomar José Bois, traz dados importantes sobre a organização e estruturação da área de 646 hectares, onde está localizada a vila. A região teve seu desmembramento aprovado em 2 de fevereiro de 1963, para formar o loteamento Nova Campo Grande. A Cimobrás (Companhia Imobiliária Oeste do Brasil), que pertencia a Laucídio Martins Coelho e Filhos, ficou responsável por lotear a Nova Campo Grande II.

A área foi dividida em doze blocos, sendo onze residenciais e um industrial. De 1968 à 1977 foram construídas 198 casas, com seis modelos diferentes e o restante dos lotes foi vendido a terceiros sem construção. 

A Cimobrás construiu casas em alvenaria, mas no bloco onze - registrado como Nova Campo Grande II - a partir de 1966, a Companhia Imobiliária, construiu casas feitas de madeira, chamadas populares. A partir daí, o apelido "Vila Popular" começou a ser fixado.

Avenida 1, na década de 1970. Registro mostra os quatro filhos de Delurce, ainda pequenos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Avenida 1, na década de 1970. Registro mostra os quatro filhos de Delurce, ainda pequenos. (Foto: Arquivo Pessoal)
A via hoje se chama Amaro Costa Lima. (Foto: Paulo Francis)
A via hoje se chama Amaro Costa Lima. (Foto: Paulo Francis)

As lembranças de quando chegaram ao local ainda pairam na memória de descendentes dos primeiros moradores, como a da boleira Delurce Tereza da Silva Lima, de 66 anos, conhecida na região como Lúcia. Seu padrasto foi o segundo a chegar na região. "Só tinha mato e estrada de chão", pontua Delurce.

Hoje o bairro possui asfalto, água encanada, energia, telefone, centro de saúde, escola, centro comunitário, posto policial, creche, clube de mães, um campo e uma quadra de futebol, mercados, lojas, bares e lanchonetes. É sede da paróquia Nossa Senhora das Graças e também possui muitas outras igrejas evangélicas.

Assim que lotearam o bairro, o padrasto Jerson e a mãe Cassemira compraram um lote, na via antes chamada de Avenida 1, tempos depois renomeada Rua Amaro Castro Lima. Eles teriam sido os segundos moradores, pois o primeiro foi seu Norberto (já falecido). O pioneiro habitou uma casa na entrada do bairro.

"Eu tinha 15 anos, mas logo depois me casei fui morar em São Paulo. Assim que fiquei viúva voltei para cá. Meus pais nunca saíram daqui. Lembro que comprei o lote ao lado com dinheiro dado por meu padastro e aqui criei meus quatro filhos", frisa Delurce

Politizada desde sempre, Lúcia como também é conhecida, se lembra de quando o então prefio Levi Dias, inaugurou a rede municipal de ensino. "Meus filhos estavam na escola Frederico Soares desde a abertura. Eu fui a primeira presidente do grupo de mães da escola, onde permaneci por 15 anos. A diretora na época era Marlei Rodrigues de Oliveira", lembra.

Delurce teve sete irmãos, deu a luz a quatro filhos e hoje soma 11 netos e 13 bisnetos.

Placa do primeiro nome da rua ainda existe.  (Foto: Paulo Francis)
Placa do primeiro nome da rua ainda existe. (Foto: Paulo Francis)
Delurce teve sete irmãos, deu a luz a quatro filhos e hoje soma 11 netos e 13 bisnetos. (Foto: Paulo Francis)
Delurce teve sete irmãos, deu a luz a quatro filhos e hoje soma 11 netos e 13 bisnetos. (Foto: Paulo Francis)

O apelido na visão dos moradores - Delurce lembra como se fosse hoje, que a intenção do loteamento era a construção de "mansões", porém, a força da comunidade foi maior.

"Loteou primeiro só para a construção de mansões. Mas os pobres começaram a juntar lata velha, tábua velha, para fazer as casas. Os responsáveis barraram a construção de casas fora do padrão e decidiram criar o bloco popular. Aí, quem não lê, não entende o que falam, já começaram a chamar de Popular e ficou Vila Popular”, lembra.

O casal Expedito Fermino de Arruda, de 66 anos, e Luiza Cabreira de Arruda, de 64, inauguraram a rua Gilson Caruto. A família que veio para Campo Grande, em 1978, para fugir das enchentes que assolavam Porto Murtinho reafirmam a situação do apelido.

"O pessoal que foi fugindo das enchentes, assim como eu, meu marido e filhos soubemos desse tal bairro popular. Todo mundo que foi chegando só chamava pelo nome Popular e pegou. Na nossa rua, mesmo todos chegaram depois. Hoje em dia, os filhos cresceram e já foram embora, um mudou Terenos e o outro trabalha há 20 anos na Embrapa. A igreja católica era pequena, mas já era construída.", lembra.

Expedito relata que a criação do bairro se deu com o fim de um frigorífico e inauguração do Bordon. Ele também se recorda que o bairro no início era "terra sem lei" e a gurizada andava armada. "Quando chegamos eram só paraguaios que trabalhavam no Freeman. Quando mudou para o Bordon, doaram essa área para funcionários. Aqui também era muito perigoso, os meninos andavam armados. O negócio era feio. Com o crescimento dos táxis, eles nem entravam no bairro", frisa.

Seu Expedito trabalhou no laboratório da Remonta do Exército, onde hoje funciona a Embrapa, por 26 anos. Hoje um dos filhos é pesquisador na Embrapa.

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Luiza e Expedito. (Foto: Paulo Francis)
Luiza e Expedito. (Foto: Paulo Francis)
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