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Capital

Juntos há 37 anos, Adão e Luzia ficam lado a lado para tratar covid

Hospital juntou casal no mesmo quarto e já pode observar melhora nos pacientes

Paula Maciulevicius Brasil | 20/03/2021 11:41
Com 37 anos de casados, dona Luzia e seu Adão internaram juntos pela covid e não veem a hora de deixar hospital de mãos dadas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Com 37 anos de casados, dona Luzia e seu Adão internaram juntos pela covid e não veem a hora de deixar hospital de mãos dadas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Separados por metros de distância. Assim estavam seu Adão e dona Luzia até a noite de ontem (19). O casal que está junto há 37 anos, contraiu covid-19 e foi internado no Hospital El Kadri, em Campo Grande, na última terça-feira (17). Atendendo ao pedido de Luzia a equipe, que já trabalhava para remanejar pacientes, conseguiu levar seu Adão do quarto 8 para o 14. Dividindo o mesmo espaço, ainda que seja num hospital e em tratamento, os dois estão felizes e já apresentaram melhora no quadro.

Luzia Marin de Araújo tem 57 anos, a "tia Lú", chamada assim pelos alunos e também pelo marido, Adão Rodrigues de Araújo, de 56. Por ser professora e diretora de escola, Luzia não parou de trabalhar desde o início da pandemia, seja atendendo alunos, pais ou professores. Sempre se cuidando, ela começou a apresentar os primeiros sintomas para a covid-19 no dia 9 de março, e o marido três dias depois.

Antes de ficarem juntos no mesmo quarto, Luzia e Adão conversavam por chamada de vídeo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Antes de ficarem juntos no mesmo quarto, Luzia e Adão conversavam por chamada de vídeo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Adão, que sempre foi motorista, tem uma doença degenerativa há dois anos chamada paralisia supranuclear e recebia todos os cuidados da esposa, desde alimentação até ajuda para tomar banho.

O primeiro atendimento médico deles foi no dia 14, mas sem necessidade de internação. No entanto, no dia 17 eles retornaram ao hospital e foram internados. Segundo a filha, a nutricionista Alessandra Marin de Araújo Corradi, de 33 anos, eles estavam no mesmo andar, o sétimo, destinado ao tratamento de pacientes com covid, mas em quartos separados.

"Pela doença dele, eu podia ficar de acompanhante, então conseguia ver ela e ele e mediando as conversas também por vídeo. Ele chama ela de 'Baixinha' ou 'tia Lú' e ele ficava todo feliz de vê-la pelo celular. Como ele tem dificuldades para falar, você percebia que aquele olhar entre eles acalmavam um e outro", descreve Alessandra.

Nessa sexta-feira (19), a paciente que dividia quarto com Luzia foi levada para a UTI e a professora mais do que depressa pediu ao médico se poderia trazer Adão para pertinho dela.

"Na primeira oportunidade ela pediu: 'Dr, pode por meu marido aqui do meu lado?' E ele fez", comemora Alessandra. Foi ela quem entrou em contato com o Campo Grande News para que em meio a tantas notícias ruins, a história dos pais compartilhasse a esperança que a família vem sentindo.

"Eles ficaram tão felizes, ficavam se olhando, ele falando: 'tudo bem, tia Lú'? Ver os dois juntos e tranquilos, eles sempre nos ensinaram que família é tudo e sempre passaram isso para a gente e apesar de tudo, eles estarem juntos agora, dando amor um ao outro, nada é mais importante do que isso", ressalta a filha.

A família já percebeu melhoras, como por exemplo, seu Adão já não está mais no oxigênio. "É lindo de se ver, saber? Nos dias de hoje, nessa loucura toda, nós temos muito mais esperança de que juntos eles vão melhorar, já estão melhorando", avalia.

Os filhos: Andressa, Leandro com o casal Luzia e Adão e Alessandra na ponta direita. (Foto: Arquivo Pessoal)
Os filhos: Andressa, Leandro com o casal Luzia e Adão e Alessandra na ponta direita. (Foto: Arquivo Pessoal)

Hospital - Em contato com o médico que uniu o casal, Leandro Tortoza explica que o hospital já pretendia juntá-los. "Foi uma decisão da Enfermagem, que já estava entrando em contato com os setores para remanejar pacientes e fazer a troca. O próprio hospital tem essa característica familiar", comenta.

Foi ele quem ouviu o pedido de dona Luzia depois que vagou espaço no quarto. Na linha de frente há sete meses, o médico conta que desde o início a covid tem gerado muita ansiedade para a família, acompanhantes e amigos e que diminuir esse quadro de angústia ajuda no tratamento.

"Todo contexto social do paciente é abalado, psicologicamente, ele fica bem abalado, e quando você consegue quebrar esse medo e essa angústia, como no caso deles, eles entendem que vão passar por essa juntos, como aquela frase do casamento 'na saúde e na doença'", acredita o médico.

Este não foi o primeiro casal a ser unido no mesmo quarto no El Kadri, Leandro Tortoza relata que já viu uma mulher internar com quadro mais grave e dias depois chegar o marido. "E dei alta para ela e dois dias depois para ele. Tirando um pouco da angústia, da ansiedade e estando a família mais próxima, o paciente evolui melhor".

Devida a rápida evolução da doença degenerativa de seu Adão, no ano passado a família presenteou o casal com um ensaio de fotos juntando os três filhos, genros e nora e os quatro netos. "A gente quer fazer novamente, porque gostamos muito de tirar foto, e espero que seja muito em breve", finaliza Alessandra.

Ao centro, casal que foi a origem de toda a família Marin de Araújo com filhos e netos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ao centro, casal que foi a origem de toda a família Marin de Araújo com filhos e netos. (Foto: Arquivo Pessoal)


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