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Capital

Menino que queria coberta de super-herói agora também tem bicicleta

Apesar de importante, gesto de solidariedade é ofuscado pelos números da desigualdade

Osvaldo Júnior e Bruna Kaspary | 20/12/2017 12:25
Carlos Ariel, feliz em sua bicicleta nova (Foto: André Bittar)
Carlos Ariel, feliz em sua bicicleta nova (Foto: André Bittar)

O percurso do barraco ao mercadinho está mais alegre. Agora, Carlos Ariel, nove anos, faz o trajeto de um modo inédito em sua vida: pedalando em uma bicicleta nova. Esse foi um dos presentes recebidos pelo menino, que mora em favela, no bairro Caiobá, em Campo Grande, depois que pequena parte de sua história foi noticiada pelo Campo Grande News.

Ele e os irmãos também ganharam cobertas com personagens infantis e a família recebeu cestas de alimentos. Apesar de importantes e necessárias, as manifestações de solidariedade são ofuscadas pelo peso de estatísticas que mostram quão profundas são as contradições sociais em Mato Grosso do Sul.

“Nesses dias, ele falou que queria ganhar uma bicicleta”, contou Leila Flores, lembrando-se de conversa recente com o neto. Sem dinheiro, a avó só pôde responder à criança algo que aprendeu em sua vivência religiosa. “Você tem que orar, que um dia vai acontecer”, aconselhou. “E pouco tempo depois, chegou a bicicleta que ele tanto queria”, completou Leila, enxugando as lágrimas.

Sempre que precisa ir a algum lugar, Carlos usa a bicicleta. Se não tiver nenhum lugar para ir, ele simplesmente pedala nas imediações do barraco. “Faço tudo com ela”, disse o menino de poucas palavras, sem conseguir esconder a timidez.

Carlos há uma semana, sonhando com presente que não recebeu (Foto: Marcos Ermínio)
Carlos há uma semana, sonhando com presente que não recebeu (Foto: Marcos Ermínio)
Carlos, na manhã desta quarta-feira, depois de ganhar uma bicicleta de presente (Foto: André Bittar)
Carlos, na manhã desta quarta-feira, depois de ganhar uma bicicleta de presente (Foto: André Bittar)

Além da bicicleta, ele também ganhou coberta do Homem Aranha, mesmo presente recebido pelo irmão mais novo, Luiz Carlos, 7 anos. Era com cobertas desse tipo que Carlos e Luiz sonharam por mais de mês. No Dia das Crianças deste ano, uma pessoa que visitou a favela prometeu que daria aos meninos esse presente. Depois disso, eles passaram a correr atrás de todo carro que chegava à comunidade, com a esperança de ser a pessoa que lhes daria as cobertas.

As cobertas do Homem Aranha vieram acompanhadas de travesseiros do Homem de Ferro – um pouco de ficção para abrandar as dores da realidade. A irmã mais velha de Luiz e Carlos, Maria Isabel, de dez anos, que voltou a morar com a mãe, Indiara Flores de Lima, 27 anos, também recebeu presente parecido: uma coberta, da personagem Frozen.

A família ganhou, ainda, duas cestas básicas e uma cesta natalina. Os alimentos foram divididos com vizinhos, que vivenciam mesma situação de pobreza e têm necessidades semelhantes. “Se eu tivesse alguma coisa, iria dividir com outros que não têm”, disse Leila.

Abismo de desigualdade – Os moradores da favela do Caiobá fazem parte de universo de 444,89 mil pessoas que estão abaixo da linha da pobreza em Mato Grosso do Sul, de acordo com dados do SIS (Síntese dos Indicadores Sociais), divulgados recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com a pesquisa, havia, em 2016, 2,617 milhões de pessoas residindo em Mato Grosso do Sul. Parte significativa desse universo vivia em condição de pobreza – conforme valor adotado pelo Banco Mundial, são pobres os que contam com renda média de até US$ 5,5 por dia.

O IBGE, usando essa classificação, verificou que, no ano passado, 17% dos sul-mato-grossenses, o equivalente a 444,89 mil pessoas, tinham rendimento de até R$ 385, o que representa menos da metade do salário mínimo vigente naquele ano, de R$ 880.
Parte dessas pessoas,

Desse total, 122,99 mil pessoas (4,7% da população) contava com renda mensal de um quarto de salário mínimo da época (R$ 880), equivalente a R$ 220. Receber esse montante por mês significa ter que garantir a sobrevivência com R$ 7 por dia.

A pesquisa mostra também que, em Mato Grosso do Sul, a parcela 1% mais rica ou cerca de 26 mil pessoas tinham renda média de R$ 14.434. Por outro lado, os 20% com os menores rendimentos recebiam a média de R$ 334. O valor dos mais ricos é 43 vezes maior que o dos mais pobres.

Outros números mostram que a desigualdade também é acentuada em se tratando de sexo e raça. Os trabalhadores homens tinham, em 2016, rendimento médio mensal de R$ 2.246, 41% acima do valor médio recebido pelas mulheres, de R$ 1.591. Os brancos receberam, por mês, a média de R$ 2.333 no ano passado, 42% a mais que os negros, de R$ 1.638.

Os impactos das diferenças socioeconômicas também são mais acentuados conforme a faixa etária. Havia em 2016 37.629 jovens (16 a 29 anos) desempregados em Mato Grosso do Sul. Em 2012, eram 27.346. O crescimento foi, assim, de 37%.

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