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Capital

Moradores temem aumento da violência na Vila Sobrinho com instalação de presídio aberto

Paula Vitorino | 16/09/2011 13:10

Antiga vizinhança, do São Francisco, diz que convivência era tranquila quando albergue funcionava naquele bairro

Novo prédio do presídio de regime aberto ficará na Vila Sobrinho. (Fotos: João Garrigó)
Novo prédio do presídio de regime aberto ficará na Vila Sobrinho. (Fotos: João Garrigó)
Muro ainda está sendo construído. Prédio fica aos fundos do Flamingos.
Muro ainda está sendo construído. Prédio fica aos fundos do Flamingos.

A instalação do presídio de regime aberto no bairro Vila Sobrinho não é bem-vinda pelos mais de 3.500 moradores do Residencial Flamingos, além dos residentes de bairros vizinhos. A sensação, segundo a síndica do Residencial, Cida Felske, é de total insegurança.

“Não temos estrutura de segurança para uma situação como essa. Nossa segurança está preparada para cuidar da parte interna, dos moradores. Temos medo do que vai acontecer, de pessoas entrarem aqui para se esconder. E o pior é que ninguém perguntou a opinião de quem mora no bairro”, diz.

A surpresa sobre o novo prédio na vizinhança chegou aos moradores nesta quinta-feira (15), após ficarem sabendo pela imprensa que o presídio já havia sido até inaugurado.

Conforme relato da vizinhança, na noite de quarta-feira (14) houve uma grande movimentação de pessoas no local do presídio, além de vários carros, para a suposta inauguração. “Tudo aconteceu à noite, umas 20h”, diz Aparecido Gama, de 46 anos.

O economista Alcides de Souza, de 48 anos, acredita que a mudança dos detentos para o local já foi feita, “na calada da noite”, pois diz ter visto várias pessoas chegando durante à noite. No regime aberto, o preso passa o dia fora e volta somente para dormir.

A reportagem do Campo Grande News apurou que os detentos foram transferidos do antigo prédio de regime aberto, no bairro São Francisco, neste fim de semana. O local está fechado desde segunda-feira (12) e as informações preliminares são de que os detentos foram levados para a nova instalação na Vila Sobrinho.

No entanto, o economista denúncia que isso “é um absurdo maior ainda”, já que o prédio ainda está em reformas, conforme constatou a reportagem nesta manhã. “Não tem nem muro o lugar e colocam presos lá dentro, sem a mínima segurança e conhecimento da vizinhança”, diz revoltado.

Antigo prédio do presídio de regime aberto está fechado desde o último fim de semana.
Antigo prédio do presídio de regime aberto está fechado desde o último fim de semana.

O muro ainda está em construção e as instalações da parte interna inacabadas, com paredes recém erguidas e ainda com os tijolos aparentes. A reportagem apurou que as obras estão sendo realizadas pelos próprios detentos do regime aberto e semiaberto.

Antes, existia apenas um galpão no local, onde funcionava uma antiga fábrica de carteiras escolares que também utilizava mão de obra de detentos.

A reportagem encontrou em contato com a Sejusp (Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública), mas não obteve resposta ou confirmação sobre o funcionamento do presídio na Vila Sobrinho. A Secretaria apenas disse que se manifestará em nota, que ainda não foi divulgada.

O presídio fica na esquina das ruas Américo Marque e Carmela Dutra, ao lado do Hospital Evangélico e nas proximidades da Polícia Federal, a Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) e a Praça do Papa.

Para os moradores, a escolha de uma área residencial com diversas escolas e creches ao redor é inadmissível. “Tem muitas crianças por aqui, três escolas e creches. Agora um presídio onde os presos saem e voltam à noite vai ser um perigo”, diz a síndica.

Ela frisa que o estabelecimento penal deveria ser construído em uma área mais afastada, no entanto, diz que é a favor de que os detentos sejam resoscializados. “Todos tem o direito, mas isso não deveria ser feito em uma área totalmente residencial”, diz.

A moradora Célia Maria Veiga, de 54 anos, também compartilha da opinião e diz não confiar que a Polícia dará a segurança necessária para a área. “Nem que coloquem toda a segurança aí”, diz.

Já a atendente Ariadna Borges, de 43 anos, moradora do bairro Santo Antônio, preocupa-se também com os novos freqüentadores que a presença do presídio pode trazer para a região. “Vai encher de bandidos aqui em volta. Sempre que tem um presídio muda a família também, os comparsas”, diz.

Além do medo com a segurança do bairro, os vizinhos estão preocupados com a desvalorização dos imóveis. “Quem vai querer morar ao lado de um presídio? Os imóveis vão desvalorizar muito”, frisa.

Providências - Os moradores do Flamingos participam nesta sexta-feira de assembléia extraordinária para definir quais providências serão tomadas. A síndica Cida garante que “tudo que estiver ao alcance será feito para impedir a permanência do presídio no local”.

Ela lembra que a vizinhança já enfrenta problemas e briga pela segurança com os constantes shows realizados na Praça do Papa e a decisão de realizar os desfiles de Carnaval no bairro.

“É mais um problema para nós. Toda vez que tem um show ficamos inseguros, é um tumulto, gente pulando o muro, pessoas bêbadas. E agora com o presídio não sabemos o que vai acontecer”, reclama.

Morador diz que temor à presídio na vizinhança é principalmente por fator psicológico.
Morador diz que temor à presídio na vizinhança é principalmente por fator psicológico.

Antiga vizinhança: saudade ou alívio? - Enquanto os novos vizinhos do presídio estão apreensivos, a antiga vizinhança se divide entre a sensação de alívio e saudade. A comerciante Elizabeth Santos, de 67 anos, diz que esta até sentindo falta do presídio.

“Eles mudaram, agora ficou tudo parado, antes pelo menos tinha sempre os agentes de segurança cuidando da vizinhança”, diz.

Ao contrário do que temem os moradores da Vila Sobrinho, ela diz que nunca sofreu algum tipo de violência ou teve problemas com os “vizinhos”.

No entanto, ela conta que logo que o presídio começou a funcionar os moradores da região ficaram revoltados e tentaram impedir, mas depois “se acostumaram”.

Já o publicitário Marco Sérgio Ferreira, de 42 anos, define a sensação de não ter mais o presídio na vizinhança como um alívio. Para ele, o pior incômodo era o constragimento de se sentir vigiado.

“É constrangedor, a gente perde a privacidade. Parei de ficar na frente de casa com meus filhos porque sempre tinha alguém olhando lá do presídio, fora que você não vai deixar seus filhos, visitas à vontade sabendo que tem detentos ao lado”, diz.

No entanto, ele diz afirma não ter tido grandes transtornos por conta do estabelecimento penal e acredita que o temor é mais um fator psicológico.

“Só pelo fato de saber que tem um presídio ao seu lado é algo que incômoda, mesmo sendo um regime aberto, que abriga presos de baixa periculosidade. Desvaloriza a região e sempre tem os presos que continuam no crime, fazendo bagunça na região”, diz.

Ele explica que não pode comprovar a relação entre a presença de usuários de drogas e furtos ocorridos na região com o presídio, já que outros fatores da região também são preocupantes.

“Tem a feira aqui perto, moradores de rua, então, são coisas graves que também causam insegurança e são preocupantes”, diz.

Os antigos vizinhos do Presídio Aberto de Segurança dizem que o medo inicial é quase um fator psicológico, já que de concreto não há grandes transtornos.

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