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Capital

Morre na Santa Casa "indiozinho" que passou por cirurgia no coração

Natalia Yahn | 25/02/2016 07:25
Edemar, com o sorriso no rosto que sempre o acompanhava. (Foto: Marcos Ermínio)
Edemar, com o sorriso no rosto que sempre o acompanhava. (Foto: Marcos Ermínio)

O “indiozinho” Edemar Gonçalves da Silva, 4 anos, morreu hoje (25) – a 0h20 –, no CTI (Centro de Terapia Intensiva) Pediátrico da Santa Casa de Campo Grande, onde se recuperava da cirurgia cardíaca que foi submetido há dois dias.

O procedimento para corrigir uma anomalia congênita no coração foi realizado na terça-feira (23), e durou aproximadamente 4 horas. Em seguida, Edemar foi encaminhado para o CTI, onde deveria se recuperar e ser acompanhado por 72 horas – período de maior risco após a cirurgia –, porém ele não resistiu e morreu no início da madrugada desta quinta-feira (25).

O menino esperava desde dezembro de 2014 pelo procedimento, que era considerado de grande risco. No fim da tarde de ontem (24), os rins de Edemar paralisaram, o que agravou o estado de saúde dele. A Santa Casa chegou a informar que o falecimento aconteceu às 5 horas, porém a informação foi corrigida, pois o falecimento aconteceu a 0h20.

A Santa Casa ainda não divulgou onde e quando irá acontecer o velório e o sepultamento do "indiozinho", mas provavelmente o corpo do garoto será levado para a Aldeia Jaguapiru, em Dourados – a 230 quilômetros de Campo Grande –, onde vive o tio materno e a irmã que cuidavam de Edemar.

O hospital informou que por conta da gravidade do caso de Edemar, a cirurgia chegou a ser marcada e cancelada pelo menos três vezes. O centro cirúrgico e o leito da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) que ele iria usar foram reservados nas ocasiões, mas todas as vezes a equipe médica responsável cancelou o procedimento, após exames clínicos do garoto mostrem problemas que poderiam atrapalhar a cirurgia. Entre os itens estabelecidos como critério estavam a capacidade de oxigenação e cicatrização do paciente.

Na semana passada ele teve um exame pré-cirúrgico adiado pela Santa Casa, após apresentar alterações em um hemograma. A análise sanguínea foi realizada no dia 15 de fevereiro, quando também estava marcado o ecocardiograma – um exame de ultrassom que avalia o funcionamento do coração. Porém o procedimento cardíaco foi adiado pelos médicos, isso porque o exame de sangue mostrou que Edemar tem déficit de vitaminas no organismo.

No dia 4 de fevereiro, o “indiozinho” realizou um procedimento pré-operatório conhecido como embolização – técnica que o preparou para a cirurgia. Ele precisou ficar internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva), por 24 horas e só retornou para o quarto, onde mora desde outubro de 2015, no dia 5.

Espera – Edemar esperava desde dezembro de 2014 pela cirurgia e desde então já passou por dois hospitais em Mato Grosso do Sul. No HU (Hospital Universitário) de Dourados, a 230 quilômetros da Capital, ele ficou internado por mais de 10 meses. E atualmente aguardava na Santa Casa de Campo Grande, para onde foi transferido em outubro de 2015.

O menino nasceu no dia 23 de dezembro de 2011, no Hospital Regional de Amambai. Entre os dias 10 e 12 de dezembro de 2012 ficou internado no HU (Hospital Universitário) de Dourados. Depois disso, só existe um registro de alta da Santa Casa de Campo Grande, do dia 7 de janeiro de 2013.

Somente no dia 4 de dezembro de 2014 o garotinho retornou para o HU de Dourados, levado pela irmã Jaqueline Lopes, 23 anos – que atualmente o acompanha (a mãe teria sido assassinada pelo pai de Edemar). O hospital informou que o menino foi internado com pneumonia. Na Santa Casa de Campo Grande ele só deu entrada dez meses depois, de acordo com a cardiopediatra que atende o menino, Cláudia Piovesan Farias, por conta do quadro de saúde delicado.

Doença – Edemar tinha um grave problema no coração, conhecido como anomalia de Ebstein. Ele nasceu com a doença rara que provoca insuficiência cardíaca por conta de uma má formação.

O problema no coração não impedia que a criança vivesse fora do hospital, ele poderia aguardar a cirurgia em casa. Porém, a “internação social” na Santa Casa é o único meio encontrado para garantir que ele receba o tratamento necessário. Ele recebeu o diagnóstico da doença também na Santa Casa de Campo Grande. Na época os pais foram informados sobre a gravidade do caso, mas não permitiram que o filho fosse submetido aos procedimentos.

O pai de Edemar, Roberto Gomes da Silva, registrou em uma carta – provavelmente escrita em 2013 – o desejo de que o menino não fosse submetido à cirurgia cardíaca. O documento está guardado junto com outras documentações do garoto, na Casai (Casa de Apoio à Saúde do Índio), na Capital.

A coordenadora da Casai, Eliete Domingues Rios Maggioni, foi até agora a única pessoa – entre representantes indígenas – que conhece e acompanha o caso de Edemar. O Campo Grande News procurou informações sobre ele junto à Funai (Fundação Nacional do Índio), Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), na Capital, em Dourados e também na sede dos órgãos (Funai e Sesai) em Brasília (DF), mas nenhum local tinha conhecimento da situação do “indiozinho”, como foi apelidado Edemar por funcionários da Santa Casa.

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