Sindicato ignora lei e mantém greve sem colocar mínimo dos ônibus para rodar
Entidade decidiu em reunião que nem os 70% determinados pela Justiça vão voltar às ruas

Em reunião há pouco, os trabalhadores do transporte coletivo de Campo Grande decidiram continuar com a greve nesta terça-feira e sem respeitar determinação da Justiça que manda colocar em circulação às ruas pelo menos 70% da frota de ônibus por se tratar de serviço essencial.
RESUMO
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A greve dos motoristas e cobradores em Campo Grande manteve o caos no transporte público nesta segunda-feira (15), mesmo após decisão judicial que determinou 70% da frota em circulação. Trabalhadores enfrentaram dificuldades e gastos extras com alternativas como aplicativos e mototáxi. Passageiros relataram despesas que chegaram a R$ 60 por dia com transportes alternativos, valor que, em alguns casos, equivale à diária de trabalho. O TRT da 24ª Região estabeleceu multa de R$ 20 mil por dia em caso de descumprimento da ordem judicial, e uma audiência de conciliação foi marcada para terça-feira (16).
"Os trabalhadores decidiram por continuar parados. Decidiram não rodar nem os 70%", confirmou o presidente da entidade, Demétrio Freitas diz que a categoria não está preocupada com a decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) que prevê multa diária de R$ 20 mil em caso de descumprimento dos 70%. "Depois a gente discute isso", comentou.
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O assunto só voltará a ser discutido amanhã, em audiência de conciliação que deve reunir Consórcio Guaicurus e Prefeitura de Campo Grande.
Segundo o desembargador César Palumbo Fernandes, relator do processo no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), o sindicato foi formalmente notificado às 12h36 desta segunda-feira sobre a decisão que determina a manutenção mínima de 70% dos trabalhadores em atividade durante o período de paralisação da categoria.
“A Justiça do Trabalho reconhece a importância do direito de greve, constitucionalmente assegurado aos trabalhadores e também a gravidade da situação, ante ao não recebimento dos seus vencimentos. Entretanto, a população também tem constitucionalmente garantido o acesso a serviço público de transporte urbano, caracterizado como essencial e por esse motivo não se pode aceitar a paralisação de 100% dos serviços. Há uma multa fixada inicialmente em R$ 20 mil reais por dia de descumprimento da decisão, que incide de imediato e caso não atendida pode vir a ser majorada, sem prejuízo do reconhecimento de crime de desobediência e adoção de outras medidas coercitivas cabíveis”, informou o magistrado.
Enquanto as partes não se resolvem, quem depende de ônibus têm prejuízo no bolso. No fim da tarde, os trabalhadores continuaram enfrentando dificuldades para voltar para casa em Campo Grande. Sem veículos nas ruas, a alternativa foi recorrer a aplicativos, mototáxi, caronas ou simplesmente gastar mais do que o próprio dia de trabalho rende.
Moradora do Bairro Canguru, na região do Cafezais, a videomaker Kalina Alves, de 24 anos, precisou ir ao Centro para cumprir compromissos profissionais. A ida já pesou no bolso. “Vim por volta das duas horas da tarde e paguei cerca de R$ 27 de Uber”, contou. Para voltar, o valor subiu. “Está dando quase R$ 30 só para eu voltar.”
No fim do dia, a conta se aproximou de R$ 60. “Às vezes a diária é esse valor. O que você ganha, você está gastando só para vir trabalhar. Não compensa,” desabafou. Kalina disse que acreditava que parte dos ônibus voltaria a circular. “Eu vi que 70% dos ônibus deveriam voltar. Pensei: vou de Uber e volto de ônibus. Não deu.”
A incerteza já afeta a agenda dos próximos dias. “Tenho quatro compromissos amanhã. Se os ônibus não voltarem, vou ter que desmarcar e perder serviço.”
Aos 75 anos, Eleonora Klein também precisou recorrer ao mototáxi para resolver pendências no banco. Moradora do Bairro Universitário, gastou R$ 30 para ir e mais R$ 30 para voltar. Amanhã, terá que refazer o trajeto. “Ou venho de mototáxi de novo ou venho bem cedo a pé. Se precisar, venho a pé da rodoviária até aqui.”

A aposentada Aderly Bernadette dos Santos Lemes, de 71 anos, saiu do Bairro Colibri por volta das quatro da tarde para ajudar a filha. O retorno ficou mais caro com o avanço do horário. “Está chegando perto de R$ 40. Quanto mais tarde, mais caro fica”, relatou. Se tivesse outros compromissos no Centro, diz que cancelaria.
Para quem trabalha em serviços essenciais, o cenário preocupa. Técnica em enfermagem da Santa Casa, Oreni dos Santos Lemos Freitas, de 45 anos, calcula que, em apenas um dia, gastou cerca de R$ 60 com transporte. “Dá medo de como vai ser essa semana.”
Costureira, Edileuza de Souza, de 63 anos, optou por sair mais tarde para evitar os preços mais altos da manhã. “Uma amiga viu Uber a R$ 87”, contou. Para ela, a situação se repete há anos. “Os ônibus vivem quebrando, os terminais ficam lotados. Alguém precisa resolver isso.”
Enquanto trabalhadores calculavam prejuízos, o transporte alternativo teve aumento de demanda. Mototaxista, Cacildo Gimenez de Moraes, de 60 anos, disse que o movimento quase dobrou. “Normalmente faço sete ou oito corridas. Hoje deu umas quinze. Praticamente não desci da moto.”

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