Morto na calçada, aposentado criou filho bombeiro e cortava cabelo

A imprudência no trânsito acabou com a paz dos vizinhos do aposentado Sérgio Antônio da Silva, 79 anos, que tinham o hábito de jogar conversa fora nas tardes de domingo em frente das casas. No final da tarde de ontem, um Fiat Palio desgovernado subiu na calçada, atropelou e matou o aposentado.
A tragédia não se abateu apenas sobre o único filho da vítima, o tenente do Corpo de Bombeiros, Carlos da Silva, 37. Todos os vizinhos ficaram chocados com o acidente. Após matar o aposentado, o condutor do carro abandonou o veículo, com placas de Corumbá, e fugiu a pé com medo de ser linchado pelos moradores.
Amigos e familiares ressaltaram o estilo amoroso e camarada do aposentado durante o velório, na tarde de hoje, na Igreja Batista do Jardim São Conrado. O sepultamento ocorreu por volta das 15h no Cemitério Memorial Park.
História – Sérgio era do interior de São Paulo e mudou-se para a Capital sul-mato-grossense com o filho Carlos. Separado, ele não se casou mais e criou o filho sozinho. Carlos contou que só foi conhecer a mãe com 27 anos de idade.
A boa formação do filho pelo pai foi destacada pelo pastor Natanael, da Igreja Batista, durante o velório na tarde de hoje. “Ele soube formar o filho, temos que valorizar a família, é a salvação do mundo de hoje”, destacou o religioso. Ele ressaltou que o aposentado foi um exemplo de pai.
Carlos estava de plantão , ontem, no Corpo de Bombeiros quando colegas ligaram avisando do acidente. Ele largou o plantão, mas, acostumado a salvar tantas vidas, já chegou ao bairro com o pai sem vida.
O tenente destacou que o pai foi mais uma vítima da violência no trânsito, que tem ficado impune em Campo Grande. Ele contou que o sentimento é de revolta com a impunidade dos crimes no trânsito.
“Todos os dias, saem falhas que acontecem no trânsito e as ocorrências cada vez mais grave, como bombeiro, a gente tem um sentimento de revolta”, ressaltou, sobre os autores de acidentes, que saem ilesos, fogem do flagrante, não são presos e ainda ficam impunes.
Ele promete acompanhar o caso do pai de perto e impedir que o acusado do atropelamento fique sem condenação.
Vizinhos falam com carinho do aposentado, que ainda cortava o cabelo dos moradores da região nas horas vagas. Carmem Hernandes, 67, contou que ele ajudou muito quando sua família mudou-se para o Jardim Leblon.
Ela contou que estava sentada na calçada com a neta e até conversou com Sérgio. Só foi o tempo dela entrar em casa para pegar um copo d’água, quando ouviu o barulho da batida e saiu correndo porque pensou na neta.
A menina se assustou e correu para dentro de casa. Carmem viu o aposentado caído no chão e chamou os bombeiros, enquanto seu filho saiu correndo atrás do autor do atropelamento. Ele chegou a conversar com o rapaz. No entanto, o jovem teria dito que temia ser agredido pelos vizinhos e fugiu a pé.