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Capital

Na luta contra covid mãe foi embora e pai sobreviveu, mesmo 4 vezes desenganado

Romilda foi internada junto com marido, mas só ele resistiu e vai poder conhecer a neta recém-nascida

Lucia Morel | 23/04/2021 07:19
Último aniversário deRomilda comemorado em família, no dia 17 de setembro.(Foto: Arquivo Pessoal)
Último aniversário deRomilda comemorado em família, no dia 17 de setembro.(Foto: Arquivo Pessoal)

Dor e superação andam juntas na família de Marcelo Gonsales Martins, 47 anos. De um lado, a mãe foi embora levada pela covid de forma muito rápida. Do outro, depois de 94 dias intubado e quatro boletins médicos que o desenganavam, o pai dele superou a doença e se recupera em casa.

“Foi tudo muito desafiador, porque não pudemos viver o luto da minha mãe, já que estávamos acompanhando o meu pai”, relata o filho, lembrando que quando o pai saiu da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) não podiam falar sobre a morte da mãe sob risco de que ele piorasse. “A gente desconversava”.

O suporte durante todo tempo era na fé e na unidade da família, junto com o irmão Marlon Gonsales Martins, 35 anos, que também perdeu a sogra durante esse processo. A esposa dele, que estava grávida, ganhou a pequena Antonella há dois meses, em meio ao sufoco. “Ela não conheceu nenhuma das avós”, lembra Marcelo ao falar da sobrinha.

A luta deles com a covid começou em dezembro, pouco antes do Natal. No dia 19, o pai de Marcelo, Ebelciezer Simões Martins, 73 anos, passou mal, tossia muito e foi levado ao hospital. No dia seguinte já foi para a UTI, intubado, com 70% do pulmão comprometido.



“Minha mãe estava apenas tossindo, sem fraqueza, parecendo bem normal. No dia que meu pai intubou, ela passou mal. A levamos pro hospital e estava com 80% do pulmão tomado. Naquela noite ela passou muito mal e intubou em seguida”, recorda.

O Natal e o Ano Novo foram silenciosos com os pais internados, até que em 5 de janeiro, depois de prognóstico ruim, a mãe, Romilda Gonsales Gomes Martins, 67 anos, não resistiu. O enterro foi no dia 6.

“Foi uma perda devastadora. Ela entrou andando, conversando no hospital. No dia 4 já tinham falado que ela poderia falecer a qualquer momento porque os órgãos já não estavam mais funcionando”, lamentou Marcelo.

Dias depois, a sogra do irmão morreu, também de covid e assim, as orações se intensificavam pelo pai, que por quatro vezes até a data de alta – 20 de março – foi desenganado pelos médicos.

“Meu pai teve quatro episódios em que os médicos o desenganaram. Da última vez chegaram a falar que ele era um guerreiro, mas que poderia falecer a qualquer momento. Depois desse último episódio, ele foi melhorando, melhorando até subir pro semi-intensivo”, contou.

Saudade – Lúcido, Ebelciezer perguntava da esposa aos filhos nas vistas no hospital e a resposta era – ela está bem. Por orientação dos médicos, não se falava da morte de Romilda, já que a tristeza profunda poderia fazer o pai piorar. “Contamos três dias antes dele receber alta, mas parece que não acreditou”, disse Marcelo.

Ebelciezer se recuperando em casa. (Foto: Arquivo pessoal)
Ebelciezer se recuperando em casa. (Foto: Arquivo pessoal)

A “ficha” só caiu quando chegou em casa e passou a conviver com as lembranças. “Quando ele viu minhas filhas, que eram muito unidas com minha mãe, ele chorou copiosamente e falou que a vovó delas foi morar no céu e que ela era a mulher da vida dele. Eles iam fazer 50 ano de casados”, rememora emocionado o filho.

Apesar da dor da perda da mãe, ele lembra também de como oraram pela vida do pai. “Todos os dias eu e meu irmão orávamos no hospital, pelo meu pai, pelos demais pacientes, pelos profissionais. O pessoal abria a janela para ver a gente. Ficamos conhecidos como “os dois irmãos que oram””, enfatiza.

Para ele, a cura do pai é só gratidão aos profissionais que ajudam e ajudaram e a saudade da mãe é temporária, até que eles se reencontrem no céu. O foco agora é que a reabilitação de Ebelciezer seja a melhor possível e que ele possa retomar a vida normal.

Marlon, a esposa Susane, Romilda, neta Gabriela, Ebelciezer e Marcelo.(Foto: Arquivo Pessoal)
Marlon, a esposa Susane, Romilda, neta Gabriela, Ebelciezer e Marcelo.(Foto: Arquivo Pessoal)

“Ele já está há 20 dias sem oxigênio complementar e se prepara para tirar o tubo da tráqueo. É um processo”. Sem andar e ainda sem conseguir se manter de pé, Ebelciezer perdeu 30 Kg e por enquanto, depende de cadeira de rodas, até que a musculatura se fortaleça.

“Isso tudo mudou nossa história, não é pesado como na época do hospital, mas é diferente. Aqui cada um tem sua família, mas eu e meu irmão vamos todos os dias dormir com meu pai, temos um enfermeiro 24 horas e uma cuidadora, a dona Telma, que nos ajuda em tudo. Não temos palavras, é agradecimento constante. Só Deus pra explicar meu pai estar vivo e ele está querendo muito viver, se recuperar”, finaliza Marcelo.

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