Na rota dos “nóias”, bairro encolhe, reforça segurança e sonha com porta aberta
Jockey Club fica na região urbana do Anhanduizinho, que reúne grandes bairros da cidade
A arquitetura do Jockey Club, bairro onde as ruas paralelas na vertical têm nomes de flores, mostra o desejo de manter as portas abertas, seja nos comércios ou moradias.
RESUMO
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O bairro Jockey Club, em Campo Grande, enfrenta uma significativa redução populacional e desafios de segurança devido ao fluxo de dependentes químicos que transitam em direção à Vila Nhanhá, conhecida como "cracolândia" local. Entre 2010 e 2022, a população do bairro diminuiu de 7.587 para 5.886 habitantes. Moradores e comerciantes do bairro, localizado na região do Anhanduizinho, têm reforçado a segurança com câmeras e cães de guarda. Apesar dos desafios, o bairro mantém características tradicionais, como a Mercearia Cacimba, aberta há quase 50 anos, e conta com uma base do Grupamento Especializado de Motopatrulhamento da Guarda Civil Metropolitana desde 2024.
Mas a cada entrevista os moradores reafirmam a necessidade de aumentar a segurança por causa “deles”, numa menção ao fluxo de dependentes químicos, que perambulam até a Vila Nhanhá, a “cracolândia” de Campo Grande.
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O Jockey Club fica localizada na região urbana do Anhanduizinho, que reúne grandes bairros, como Aero Rancho, Parati, Piratininga, Pioneiros, Alves Pereira e Centenário. Os números do Perfil Socioeconômico de Campo Grande, elaborados com dados dos Censos 2010 e 2022, mostram que o Jockey Club “encolheu”. Em 2010, a população era de 7.587 pessoas. Doze anos depois, o bairro aparece com 5.886 habitantes.
Acuados por esse grande problema social, que se torna de segurança pública porque os usuários furtam para conseguirem drogas, a solução é espalhar câmeras, ter cachorro no quintal e, até mesmo, deixar um recado impactante na porta de casa.
No último cenário, está Mario de Souza, 58 anos. No muro da residência, fica a placa: “Existe vida após a morte? Pule o muro e descubra”. A plaquinha comprada na internet foi escolhida pela frase “de respeito”. Ele conta que já teve até a câmera de vigilância furtada. Há 32 anos no bairro, Mario viu a tranquilidade se diluir.
Enquanto que o ponto positivo vai para o atendimento na Unidade Básica de Saúde da Família “Dr Jorge David Nasse – Jockey Club”. “O médico, o doutor Gerson é nota 10, muito atencioso e sempre de bem com a vida”. A situação na saúde pública só não é melhor porque há meses faltam remédios na unidade.
Na casa de Aridio da Silva Junior, 64 anos, que se mudou para o bairro por amor, afinal ali vivia a família de sua esposa, o muro permanece baixo, emoldurado com flores cor de rosa, e de portões abertos durante a entrevista na varanda, enquanto o balançar das árvores na calçada garantiam um refresco no forte calor da última sexta-feira (dia 17).

Com a família envelhecendo, a opção foi morar todos juntos, são cinco pessoas no imóvel. “Para poder cuidar um dos outros. A nossa ideia é ficarmos juntos. Emocionalmente isso é bom e financeiramente também. É uma família que se cuida muito”.
Sobre o bairro, ele conta que ainda gosta do Jockey Club, mas avalia que já foi melhor. “A questão das pessoas que ficam circulando por aqui, muito pedintes. Isso acaba inibindo as pessoas. Na hora de dormir, a gente se preocupa. Ficar na rua tomando tereré é um convite para um cara chegar e te assaltar”.
O morador que se recusa a doar comida, por exemplo, acaba “punido” com riscos no carro.
Com várias placas de vende-se e aluga-se, ali não se avista muitas betoneiras ou materiais de construção, indicativos de bairros em expansão imobiliária. O perfil é residencial, com setores de serviços, como oficina mecânica e academia, ao lado das moradias. O bairro também tem fábricas de salgado.
Nas portas “comerciais”, nada ali é mais tradicional do que a Mercearia Cacimba. Aberto há quase cinco décadas para Emiliano Nunes de Almeida, 74 anos, vender sorvete de “máquina americano”, o local só recebe grades quando anoitece e segue atendendo até às 21h.
Durante o dia, Emiliano fica sentado na entrada do comércio, que vende uma diversidade de “secos e molhados”, perto da Escola Municipal Padre José Valentim. Logo se destacam os baleiros, onde ficam os produtos que adoçaram muitas infâncias, como o docinho de banana, a maria mole “sorvete seco” e o de abóbora. O baleiro maior tem 47 anos. Ao lado de um menorzinho, eles são chamados, carinhosamente, de “pai e filho”.
“Cheguei em 1977 e estou aqui até hoje. A rua aqui era tudo de chão. O colégio ocupava só a metade. Vi passar gerações por essa escola. O bairro é muito bom, perto do Centro”, diz o comerciante.
Nas quase cinco décadas, ele só desistiu do fiado. “Faz uns cinco anos. Ficaram R$ 2 mil, nesses picadinhos, e não recebi nenhum tostão. Aí eu aprendi a falar a palavra não”.
Na Avenida das Primaveras, ainda há imóveis de madeira, como o de Olívia Isolina do Nascimento, 67 anos. Nas cores alviverde, a charmosa casa se destaca em meio a paleta de tons mais pálidos.
Ela conta que não é palmeirense, mas gostou da combinação do verde e branco. Há 45 anos no bairro, Olívia rememora que a casa já foi de vários familiares. “O bom de morar aqui é que é tudo perto”.
Desde 2024, o bairro conta com a base do Gemop (Grupamento Especializado de Motopatrulhamento) da Guarda Civil Metropolitana. “Embora nossa base esteja aqui no Jockey Club, nós atendemos a cidade inteira”, diz o comandante Fernando Nogueira
Ele afirma que a região é conhecida por ter muitos usuários de drogas, mas que o enfrentamento da situação vai além da segurança pública. A exemplo do entorno da antiga rodoviária de Campo Grande.

“Alguns ficam agressivos, ameaçadores. A gente orienta o pessoal a circular, mas cinco minutos depois estão de volta. E pela lei, você não pode tirar o direito de ir e vir. Tudo isso torna difícil o trabalho. A nossa parte a gente faz 100% e muito bem feita. Mas é um problema de saúde”.
O prédio funciona a sede do grupamento foi cedido pela Polícia Militar de Mato Grosso do Sul à Prefeitura de Campo Grande. Na região também fica o 10º Batalhão da PM.
Conforme a Polícia Militar, o patrulhamento preventivo é realizado diuturnamente. "Rondas preventivas e abordagens policiais ocorrem diariamente em todos os bairros da Capital, inclusive na região informada, e têm sido intensificadas de acordo com o emprego operacional das viaturas. Todo policiamento é realizado com base na análise de dados estatísticos, extraídos dos Boletins de Ocorrências e também dos atendimentos à comunidade local".
A PM reforça que é imprescindível que os moradores informem sobre eventuais problemas diretamente às equipes policiais ou registrem o Boletim de Ocorrência nas delegacias.
"Em relação à presença de pessoas em situação de rua e usuários de substâncias entorpecentes, a Polícia Militar reforça seu compromisso institucional com a manutenção da ordem pública. No entanto, ressalta-se que essa é uma questão multifatorial, que envolve também as áreas de saúde pública, assistência social, urbanismo (incluindo imóveis abandonados), dinâmica comercial e o fluxo constante de pessoas na região do Anhanduizinho".
A reportagem questionou a administração municipal sobre o fornecimento de medicamentos e aguarda resposta.
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