De córregos a santos e autoridades, nomes de bairros revelam influência eclética
Primeira região oficial da Capital, Amambaí foi criado em dezembro de 1921 e significa “propriedade”

Córregos, personalidades, autoridades, espécies de árvores, características geográficas e tantas outras inspirações batizam os bairros de Campo Grande. Aos 126 anos, a Capital de Mato Grosso do Sul mostra que, do mais antigo Amambaí aos mais recentes, como o Novo Samambaia, a história e a criatividade sempre conduziram a formação dessas áreas.
RESUMO
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A história dos bairros de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, revela uma rica diversidade de influências em sua nomenclatura. Do Amambaí, primeiro bairro oficial fundado em 1921, aos mais recentes como o Novo Samambaia, os nomes refletem heranças indígenas, militares, religiosas e características naturais da região. As sete regiões da cidade - Prosa, Bandeira, Lagoa, Segredo, Anhanduizinho, Imbirussu e Centro - abrigam bairros que homenageiam personalidades históricas, como o Dom Antônio Barbosa e o Zé Pereira, além de trazerem referências à vegetação local, como o Guanandi e o Oiti, demonstrando a forte conexão entre o desenvolvimento urbano e a história local.
O primeiro bairro oficial da cidade, o Amambaí, foi fundado em dezembro de 1921. O nome vem do tupi “Amambahy”, que significa “propriedade” ou “coisa cercada”. Surgiu para abrigar militares que erguiam os quartéis, mas também operários da Companhia Construtora de Santos, responsável por obras na Capital.
Até hoje, o bairro preserva essa ligação com os militares. Suas ruas homenageiam figuras históricas: Amando de Oliveira, Guia Lopes e Coronel Camisão lembram heróis militares, enquanto Paissandu, Camapuã e Aporé mantêm viva a herança indígena.
Nos anos 40, com a forte migração para Campo Grande, nasceram bairros como São Francisco, Boa Vista e Vila Olga. O São Francisco, inicialmente chamado de Cascudo, ganhou o nome atual na década de 50, quando a ordem dos franciscanos inaugurou a Igreja São Francisco de Assis. O então prefeito Fernando Corrêa da Costa renomeou a área em homenagem ao santo.

Na mesma época, a região do Anhanduizinho começou a ser urbanizada. Ali surgiram Taquarussu e América, entre os primeiros, e também o Jacy, que herdou o nome do córrego que cortava a Fazenda Jacy. Em tupi-guarani, significa “lua”.
Outros bairros da região são Marcos Roberto, em homenagem ao filho do loteador Luiz Roberto de Souza, e o Jockey Club, que cresceu ao redor do antigo espaço de corridas de cavalos. Mais tarde, a urbanização se expandiu entre o córrego Bandeira e a avenida Guaicurus, dando origem ao Guanandi, ao Aero Rancho e, mais recentemente, ao Parque do Sol, Dom Antônio Barbosa e Jardim das Meninas.
O nome Guanandi vem da árvore típica do Cerrado (Calophyllum brasiliense), comum em matas ciliares. O bairro nasceu da divisão de grandes áreas rurais, na década de 1970. O Aero Rancho junta a proximidade com a Base Aérea ao passado de chácaras e fazendas. Já o Dom Antônio Barbosa, criado nos anos 1990, homenageia o fazendeiro e empresário Antônio Barbosa de Souza e foi planejado para abrigar milhares de famílias reassentadas.
O Novo Samambaia, por sua vez, surgiu no espaço do antigo Samambaia Country Club, que funcionou até 2005 no bairro Los Angeles. A ocupação começou em 2016, foi regularizada alguns anos depois, mas ainda enfrenta precariedade em infraestrutura e saúde.
Na região do Segredo, os bairros guardam marcas da imigração japonesa do início do século 20, quando famílias se instalaram para o cultivo de hortaliças. José Abrão, Estrela do Sul, Coophasul, Seminário, São Benedito, Jardim das Cerejeiras e Nova Lima estão entre eles. O José Abrão tem origem em um pioneiro local; o Estrela do Sul carrega a visão de prosperidade; e o Coophasul surgiu de projeto habitacional da Cooperativa Habitacional Sul-Mato-Grossense.
O Jardim Seminário recebeu o nome devido ao Seminário Maior Maria Auxiliadora, instalado nos anos 50 e que atraiu comércio e moradias para a região. Já o São Benedito remete à promessa de Eva Maria de Jesus, ex-escravizada que chegou à cidade em 1905 e construiu uma igreja em honra ao santo. O templo é a segunda igreja mais antiga da Capital.
No Prosa, a discrepância social é evidente. O Carandá Bosque faz referência à vegetação original de carandás e bosques, enquanto o Autonomista lembra a separação do Estado e o Giocondo Orsi homenageia um fazendeiro italiano pioneiro.
Já o Jardim Noroeste, apesar do nome, fica no nordeste da cidade e cresceu com famílias de presos do Complexo Penitenciário. Vizinho de áreas nobres, expõe o contraste da região, que tem a menor população de Campo Grande, com 82,3 mil habitantes.
Na região do Bandeira, bairros como Jardim Paulista, Tiradentes e Jardim Alegre surgiram nos anos 50. Documentos do arquiteto Ângelo Arruda apontam que a urbanização avançou a partir da avenida Eduardo Elias Zahran, no sentido sul-sudeste. Depois vieram Portinho Pache, TV Morena, Mansur e Morumbi, cada qual inspirado em córregos, famílias tradicionais ou bairros de São Paulo.
A abertura da avenida Guaicurus estimulou o crescimento de Itamaracá, Rita Vieira, Pacaembu e Campina Verde. Nos anos 80, nasceu o conjunto habitacional Moreninhas, em homenagem à “cidade morena”. O bairro Oiti herdou o nome da árvore Licania tomentosa, comum no Cerrado, e Maria Aparecida Pedrossian homenageia a fazendeira que era dona da área.
No Lagoa, os primeiros bairros foram Taveirópolis e Santos Dumont, nos anos 40. A expansão veio 30 anos depois, com o conjunto Coophavila II, projetado pela Coophagrande, que batizou as ruas com nomes ligados ao mar. Outros bairros são Santa Emília, São Conrado, Tijuca e Portal Caiobá, que remetem à fé, a bairros do Rio de Janeiro e a termos indígenas.
A região do Imbirussu se desenvolveu ao redor das avenidas Duque de Caxias e Júlio de Castilhos. Ali estão a Vila Popular, a antiga estação ferroviária do Indubrasil e bairros como Vila Alba, marcada pela influência espanhola, e Santo Amaro, criado por Mamede Assem José, cujas ruas lembram países árabes e cidades de Mato Grosso.
Também compõem a região Nova Campo Grande, Ana Maria do Couto, Sílvia Regina, Zé Pereira, Coophatrabalho, Panamá e Lar do Trabalhador. O único com origem registrada é o Zé Pereira, em homenagem ao fundador de Campo Grande, José Antônio Pereira.
[ * ] Os pesquisadores Ângelo Arruda e Celso Higa ajudaram na confecção deste material.
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