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Capital

Na rua, nos canteiros e no museu: os guardiões anônimos da cidade

Aline dos Santos | 25/08/2012 08:42
 Na rua, nos canteiros e no museu: os guardiões anônimos da cidade

O Campo Grande News lhe convida a conhecer Osias, Neide, Dorvalina e Carlos Henrique

O baiano Osias é zelador há 15 anos do museu. (Rodrigo Pazinato)
O baiano Osias é zelador há 15 anos do museu. (Rodrigo Pazinato)

Uma cidade de mineiros guardada por um baiano. Assim é Campo Grande, a aniversariante que chega aos 113 anos. Na fazenda Bálsamo, onde um museu de pau a pique, barro e caiado de branco não nos deixa esquecer o pezinho em Minas Gerais, o guardião da história da cidade é o baiano Osias Pereira de Souza, de 37 anos.

Há 15 anos, ele é zelador do museu José Antônio Pereira, que leva o nome do fundador de Campo Grande. Ele e os três filhos – de 9, 11 e 15 anos - moram em uma casa vizinha aos imóveis mais antigos que a própria cidade.

“É muito bacana”, afirma. Sua criação de galinhas se incorpora ao cenário, remetendo os visitantes a um passado distante, que retrocede a mais de um século.

Cabe a Osias fazer a limpeza da área externa, ele também dá o alerta caso rachaduras surjam nas paredes de pau a pique. O cotidiano reserva novidades. “Teve um domingo, que, do nada, chegou um ônibus cheio de italianos. Eles acharam o museu pela internet”, relata.

Dentro da casa, Neide Benites é quem, literalmente, tira o pó da história. Para que às 9h, quando o museu abre as portas, tudo esteja em seu devido lugar, o trabalho começa cedo. “Jogo água e espero três horas para secar, então passo o aspirador de pó”, conta. O uso do eletrodoméstico é uma exigência para a conservação.

Neide Benites é quem, literalmente, tira o pó da história. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Neide Benites é quem, literalmente, tira o pó da história. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Se varrer, sai a terra dos rejuntes do assoalho e lá se vai o piso original. A água, que leva três horas para secar, evita que as partículas se movam. Dessa forma, só as folhas são retiradas.

Neste mês, as janelas ficam fechadas, para proteger os cômodos dos intempestivos ventos de agosto. Já a manutenção do tear depende dos saberes de uma índia que vem, anualmente, de Aquidauana.

Na sala, uma maquete mostra como era a fazenda, que, no passar dos anos, perdeu o mangueiro e a área de pomar. Foram mantidos a casa, o carro de boi, o engenho e o monjolo. Na entrada, três esculturas de pioneiros recepcionam os visitantes: Antônio Luiz Pereira, filho do fundador de Campo Grande, sua esposa Ana Luiza e a menina Carlinda Contar.

Tempos modernos - Se o passado é rural, Campo Grande cresce em canteiros e avenidas. Para manter as novas intervenções urbanas entram em cena trabalhadores em que poucos reparam, mas são imprescindíveis para a conservação do espaço público. O canteiro que já foi vaga de estacionamento para veículos na Afonso Pena é o destino diário de Dorvalina dos Santos Pereira, de 35 anos.

Ela trocou as atividades de diarista pelo rastelo para ficar mais perto das duas filhas, de 6 e 8 anos. “Aqui, saio às 15h, na mesma hora que as meninas saem da escola”. A família de três mulheres mora no bairro Alves Pereira.

O dia começa às 5h50. É preciso se arrumar, preparar o café e deixar as filhas prontas para a escola. De ônibus, ela chega ao serviço. A primeira tarefa é limpar os canteiros, para que folhas, cartazes, latas e papéis deixem de enfear o canteiro.

“Jogam tanta coisa pelos carros, que nem a gente que tá a pé e não tem onde guardar, teria coragem de jogar”, conta. Apesar da cerca, os pedestres continuam a fazer a travessia pelo gramado. “Vira e mexe alguém fica enganchado. A gente pede para que pelo menos não pisem nas plantas.

Dorvalina as atividades de diarista pelo rastelo. (Foto: Minamar Júnior)
Dorvalina as atividades de diarista pelo rastelo. (Foto: Minamar Júnior)

Há 12 anos, Carlos Henrique de Lucena, de 44 anos, faz parte da equipe de limpeza urbana da Prefeitura. E se depender das novas avenidas, não vai faltar trabalho. “Com essas avenidas novas, tem muito canteiro para roçar”, diz. Carioca, “virou” campo-grandense há 20 anos.

Se não falta disposição para o trabalho, que vai das 7h às 16h, percorrendo toda a cidade, a reclamação vai para a falta de cordialidade de muitos moradores. Parte da animosidade é explicada pelas pedras que voam até 300 metros e, invariavelmente, acabam atingindo vidro de veículos pelo caminho. Segundo ele, neste caso, o poder público ressarci.

Outra fator que faz com que seja negado pedidos de água pelas casas é ser confundido com presidiário. “Chegam na gente e perguntam se é da colônia, da Gameleira”, relata na entrevista rápida, enquanto roça a grama do Paço Municipal. Em seguida, é preciso embarcar no ônibus e ir para outro destino.

Serviço: O museu José Antônio Pereira funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. A visita é gratuita e acompanhada por moradores. O museu fica localizado na avenida Guaicurus, bairro Jardim Monte Alegre. Mais informações podem ser obtidas por meio do telefone (67) 3314-3181.

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