Nem bandeira vermelha e “situação grave” seguram campo-grandense
Na linha de frente, médico lembra que a única saída segura para a pandemia é a vacinação
Com bandeira vermelha e grau alto de risco para o coronavírus, Campo Grande vive mais um domingo onde predomina o “vem para rua” do que o mais sensato “fique em casa”. O último dia do fim de semana teve de evento para os pets a rave.
No Parque do Sóter, a prefeitura cedeu espaço para a “7ª Cãominhada TV MS Record”, eventos para 300 pessoas e premiação para categorias como “melhor fantasia”, “maior e menor cão” e “cão mais parecido com o dono”.
Uma área do gramado foi cercada com grades e controle de público. A projeção era manter distanciamento de um metro e meio entre cada participante. Mas quem foi com a família aproximou as cadeiras e formou pequenos grupos, além daqueles que insistem em usar a mascara no queixo. No acesso ao parque, o visitante passava álcool em gel nas mãos.
Depois, para entrar na área do evento, era exigida máscara facial, além de aferição da temperatura e nova dose de álcool em gel nas mãos. “A prefeitura orientou que se tomasse medidas de biossegurança, poderíamos manter o calendário. Limitamos a 300 pessoas em função da pandemia. Quando atingiu o público, não foi mais autorizada a entrada”, afirma o gerente da Rede MS, Marcelo Nahas.
Ainda de acordo com ele, foi entregue máscara para quem não tinha e uma equipe fiscalizou o uso correto da proteção facial.
O empresário Edson Dutra, 46 anos, afirma que não tem receio em ir ao evento porque era ao ar livre e ficou distante dos demais participantes. Ele conta que teve covid-19 e fez quarentena em casa. Edson perdeu um irmão vítima da doença.
“Não tenho medo. Se a pessoa estiver com sintomas, não vai participar de evento público. É um evento tranquilo”, diz o motorista Raul Rodovalho, 49 anos.
O vendedor Antônio Carlos Mazeti, 58 anos, destaca que redobrou os cuidados para não perder o evento, do qual participa todos os anos. No Parque do Sóter, fora da área cercada para o evento, a reportagem verificou que muitos frequentadores dispensaram o uso da máscara.
De acordo com o diretor-presidente da Funesp (Fundação Municipal de Esportes), Rodrigo Terra, a prefeitura cedeu o espaço para a “cãominhada” e a responsabilidade pelas regras de biossegurança era dos organizadores.
A proteção facial também foi preterida por grande parcela das pessoas que foram ao Parque dos Poderes, que é parcialmente interditado para a prática de atividades físicas. Adeptos da corrida e da bicicleta desprezaram a máscara. Ninguém quis falar com a reportagem.
Com mais de 500 pessoas, festa rave clandestina foi encerrada hoje em chácara no Jardim Seminário. A ação contou com a Guarda Civil Metropolitana, Polícia Militar e Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito).
Ondas de casos - A pandemia do coronavírus, que em 14 de março registra um ano dos primeiros casos em Mato Grosso do Sul, nos reserva ondas e ondas de pico da doença até a imunização da população.
“Os períodos cíclicos são críticos, são as ondas. Teve uma primeira onda, uma segunda onda, estamos tendo uma terceira. Mas pela razão de que a maior parte não ter tido contado com o vírus, vamos ter uma quarta, uma quinta, uma sexta e assim sucessivamente até que a gente consiga vacinar”, afirma o presidente do SinMed/MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira.
O médico, que trabalha na linha de frente, atendendo pacientes da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), lembra que a única saída segura para a pandemia é a vacinação. “A situação é muito grave”.
Dos 181.528 casos de covid registrados desde março de 2020 em Mato Grosso do Sul, 74.952 foram em Campo Grande. A doença matou 3.319 pessoas, numa taxa de letalidade de 1,8%.