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Capital

No olho do furação, grupo garante que melhoria no HR começou por pronto socorro

Resultados de projeto especializado do hospital Sírio Libanês para o pronto socorro foram exibidos em solenidade nesta quarta

Izabela Sanchez | 11/12/2019 15:09
Fachada do PAM no Hospital Regional Rosa Pedrossian em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Fachada do PAM no Hospital Regional Rosa Pedrossian em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

A sala de espera do Pronto Socorro do Hospital Regional Rosa Pedrossian está “mais limpa”, o que pode indicar uma mudança graças à metodologia “Lean”. Nesta quarta-feira, HR e supervisores do hospital referência no Brasil, o Sírio Libanês, apresentaram os resultados finais de 4 meses de mudanças “operacionais” no pronto socorro do hospital que tem sofrido com sucateamento, falta de insumos básicos e ameaça de greve de servidores.

O HR foi selecionado por projeto do Ministério da Saúde, o Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS), na categoria “Lean nas emergências”. O Proadi conta com a parceria de hospitais referência no Brasil – a exemplo do Sírio-Libanês – para aplicar diretrizes e modernizar o atendimento nos hospitais públicos. É financiado com recursos de isenção fiscal (COFINS e cota patronal do INSS), concedidos aos hospitais filantrópicos de excelência reconhecidos pelo Ministério da Saúde.

Um dos projetos do Proadi, executado pelo hospital Sírio-Libanês, é o Lean nas emergências. Presente em 17 estados e 36 hospitais públicos em todo Brasil, é aplicado pelo hospital paulista para otimizar o atendimento de urgência e emergência nos hospitais. Por meio de visitas quinzenais ao longo desses quatro meses, especialistas do Sírio Libanês acompanharam e ajudaram a implementar as mudanças realizadas no atendimento emergencial, que são, em resumo, mudanças de organização e fluxo.

PAM do Hospital Regional (Foto: Marcos Maluf)
PAM do Hospital Regional (Foto: Marcos Maluf)

A emergência no HR é apenas um dos inúmeros incêndios a serem apagados nesse hospital que acumula denúncias que vão da falta de esparadrapo à alimentação composta apenas por “ovo como mistura”.

Lean nas emergências – O projeto leva o nome em inglês que em tradução literal significa “magro”, e é assim que se define: um “enxugamento” da máquina hospitalar na urgência e emergência. A metodologia busca racionalizar recursos, reduzir desperdícios e otimizar espaços e insumos para diminuir a superlotações. Além de modernizar e mudar práticas de servidores, implementa novas tecnologias.

O Sírio Libanês prometeu entregar redução da superlotação, redução de tempo de atendimento porta médico, redução do tempo de passagem do paciente, redução no tempo médio de permanência e melhora no fator de utilização do leito hospitalar.

Alguns números – Segundo o slide exibido nesta quarta, a rotatividade dos leitos de emergência pulou de 4,1 para 5,8, o fator de utilização dos leitos, que era de 137%, passou para 118% (o ideal é abaixo de 100%), o tempo médio de permanência do paciente (medido em dias) era 9,7 passou para 7,6 (redução de 22%), além de mudanças pontuais na aparência do próprio espaço do pronto socorro.

Principal indicador para mostrar que o projeto deu resultados foi o Nedocs, que mede a superlotação, reduzida, diz o HR, em 14%. O tempo de passagem do paciente que recebe alta diminuiu 23%, o tempo de passagem no pronto socorro do paciente de enfermaria ou UTI caiu 17% e de modo geral, o hospital conseguiu cumprir 56% do plano de ação inicial.

Interior do pronto socorro do HR (Foto: Marcos Maluf)
Interior do pronto socorro do HR (Foto: Marcos Maluf)

De longe – Os supervisores do Sírio Libanês ainda vão acompanhar o HR, de longe, durante 1 ano. É o que explicou o médico, clínico, Gutemberg Lavoisier. “Acaba que a gente atua em tudo, o pronto socorro é unificado em todas as áreas do hospital, isso também é bem bacana”.

“É claro que todos esses processos atrapalham [problemas do hospital], mas quando você melhora a efetividade das pessoas naquele processo que depende unicamente delas o resultado é fantástico. Agora a ideia é a gente levar esses conceitos também para os outros setores. Aí a gente chega na excelência”, comentou.

A nova diretora do HR Rosana Leite de Melo, empossada em novembro, já “pegou” o lean nas emergências em andamento quando assumiu a função. Ela afirma que a principal mudança foi a rapidez no fluxo, da entrada à saída dos pacientes. “Teve uma otimização, os pacientes ficam menos tempo lá internados, os exames sendo feitos com mais celeridade”.

Para “apagar outros incêndios” no hospital, também aposta no lean. “Nós estamos revendo todos os fluxos processuais, nós já identificamos algumas falhas. Falta sim funcionários no nosso hospital, nós já fizemos todo um redimensionamento, nós teremos até um processo seletivo para técnico de enfermagem, juntamente com maior utilização dos serviços”, declarou.

Gutemberg Lavoisier, médico clínico do hospital Sírio Libanês (Foto: Izabela Sanchez)
Gutemberg Lavoisier, médico clínico do hospital Sírio Libanês (Foto: Izabela Sanchez)

Muito a melhorar - Nesta manhã, no PAM, a aparência e relatos confirmaram, em parte, os números. Quem estava ali para acompanhar internados relatou ter visto, nos últimos dias, fluxo rápido e nenhuma aparência de superlotação. Reclamaram, no entanto, da ainda aparente confusão no encaminhamento de quem chega para ser atendido, jogado muitas vezes, disseram essas pessoas, de um lado para outro.

A doméstica Keli Fernanda da Silva, 37, acompanha o pai, internado por complicações cardíacas. Aguardava sentada nas cadeiras do pronto socorro na manhã de hoje. “Tem ficado esvaziado, do jeito que está”, disse. “Mas ontem vi chegar uma grávida sozinha, vomitou um monte e ninguém atendeu”, alegou.

Outro acompanhante, Aparecido Silva de Oliveira disse ter observado o mesmo “descaso”, nas palavras que usou para definir o que viu. “Observei o pessoal da recepção, perguntam uma coisa fazem aquela cara. Eu tive que ajudar uma mulher a ser carregada e ninguém de dentro veio ajudar”, afirmou.

Rosimere Rocha, 48, trouxe perspectiva que atravessa um oceano de distância. Natural de Naviraí, região sul de Mato Grosso do Sul, esta operadora de robôs mora há 20 anos em Portugal. Acompanha, nesta quarta-feira, a mãe, que foi diagnosticada com doença rara chamada “doença púrpura”. Elogiou o atendimento médico e a qualidade, mas achou confusa e pouco prática a recepção do pronto socorro.

“Ela foi transferida de Dourados ontem e o procedimento foi espetacular. Repetiram todos os exames para ter certeza, foi bem atendida. Mas achei estranho pegar senha [quem chega] e ficar passando de um lado para o outro. Achei isso fora do comum. Lá [Portugal] a gente chega, passa pela triagem e já vai para o atendimento”, disse.

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