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Capital

No vai e vem cotidiano, 30 mil rotinas se encontram a bordo da linha 070

Itinerário mais movimentado de Campo Grande percorre 3,5 mil quilômetros por dia

Jones Mário | 26/08/2019 07:38
No vai e vem cotidiano, 30 mil rotinas se encontram a bordo da linha 070
Linha começa no Terminal General Osório e acaba no Terminal Bandeirantes (Foto: Kísie Ainoã)
Linha começa no Terminal General Osório e acaba no Terminal Bandeirantes (Foto: Kísie Ainoã)

Para aproximadamente 30 mil pessoas, a distância que separa a origem do destino diário atende pelo nome de 070, ou General Osório/Bandeirantes. Segundo o Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo em Campo Grande, a linha é a mais movimentada das 194 disponibilizadas atualmente. No vai e vem cotidiano, rotinas de passageiros assíduos e esporádicos se cruzam pelos quase 3,5 mil quilômetros percorridos pelos 17 carros que fazem o itinerário.

A linha 070 passa por quatro terminais de transbordo, de norte a oeste da Capital. O ponto de saída é o General Osório, de onde segue no sentido sul, passa pelo Hércules Maymone e faz nova escala no Terminal Morenão. Da Avenida Costa e Silva, o ônibus se desloca até sua última parada, no Bandeirantes, de onde faz o caminho de volta até o lado norte.

A salgadeira Luciana de Souza, 35 anos, sobe a bordo do 070 todas as manhãs a partir do Terminal Hércules Maymone. Moradora do Jardim Noroeste, ela trabalha em padaria no São Francisco. Ao sair do serviço, já no fim da tarde, a linha é novamente a escolhida na hora de voltar para casa.

Salgadeira, Luciana de Souza pega o 070 todos os dias para trabalhar no São Francisco (Foto: Kísie Ainoã)
Salgadeira, Luciana de Souza pega o 070 todos os dias para trabalhar no São Francisco (Foto: Kísie Ainoã)

“Pego o 070 todos os dias há três anos. Aproveito o tempo da viagem para ler notícias no celular, usar o WhatsApp”, conta Luciana, enquanto guarda lugar na fila para o próximo ônibus no Terminal General Osório.

Já a estudante de Farmácia, Débora Paulino, 20, mergulha nos livros durante a hora diária que passa dentro do 070, seja a caminho da faculdade ou de casa. Ela vive no Jardim São Lourenço, mas estuda na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), situada na saída para o distrito de Rochedinho.

“Tento ler enquanto estou no ônibus, me adiantar na matéria. É meia hora no 070 para ir e mais meia hora para voltar”.

Edson Beto trabalha com conserto de eletrônicos e faz todo o trajeto da linha diariamente (Foto: Kísie Ainoã)
Edson Beto trabalha com conserto de eletrônicos e faz todo o trajeto da linha diariamente (Foto: Kísie Ainoã)

Quem dificilmente perde o horário do itinerário é Edson Beto, 65, especialista em consertar relógios e outros eletrônicos. Ele mora no Conjunto União e percorre todo o trajeto do 070, desde o Terminal Bandeirantes até o General Osório, onde toma outro ônibus para o trabalho, no Jardim Marabá.

“A volta é sempre mais cansativa, mas eu prefiro ir de ônibus mesmo que a empresa ofereça carro”, relata. Habituado ao trato do tempo, Beto passa a hora e meia no balanço do 070 “pensando na vida”.

O Consórcio Guaicurus estima que as catracas da linha mais movimentada da Capital giram cerca de 15 mil vezes por dia. Outros 15 mil passageiros embarcariam nos quatro terminais.

Aproximadamente 30 mil pessoas pegam a linha 070 por dia em Campo Grande (Foto: Kísie Ainoã)
Aproximadamente 30 mil pessoas pegam a linha 070 por dia em Campo Grande (Foto: Kísie Ainoã)

No volante - Em dias úteis, a linha consome a rotina de 26 motoristas. Um deles é José Carrito, de 54 anos, dos quais 25 passados dentro do ônibus. Antes de assumir o volante, o fátima-sulense criado em Cuiabá (MT) foi cobrador, função hoje extinta no transporte coletivo campo-grandense.

Carrito é acostumado às linhas mais turbulentas. Antes do 070, passou um tempo na 085 (Morenão/Júlio de Castilho). De fala mansa e sorriso no rosto, o motorista brinca que “só não gosta quando o passageiro xinga a gente”. Nem mesmo o “Deus nos acuda” no cruzamento da Avenida Ceará com a Rua Joaquim Murtinho em horários de pico é capaz de tirar Carrito do eixo.

A rotina do motorista no 070 começa exatamente às 14h23min, quando ele dá partida no motor do carro no Terminal Bandeirantes. A parada para a janta, levada por ele mesmo na marmita, é só às 19h53min. Duas horas depois, Carrito assume linha terminal-bairro e volta para casa depois das 23h.

Motorista José Carrito assume volante do 070 no início da tarde e só deixa posto pela noite (Foto: Kísie Ainoã)
Motorista José Carrito assume volante do 070 no início da tarde e só deixa posto pela noite (Foto: Kísie Ainoã)

“Hoje em dia é difícil de criar fidelidade com o passageiro. Tem muito ônibus, um atrás do outro. Nem sempre a gente pega a mesma turma”, recorda. Entre as histórias inusitadas no volante do 070, o motorista gosta de contar a vez que desviou o itinerário até a delegacia. Enciumado, passageiro sacou uma arma dentro do ônibus e ameaçou outro sujeito que estaria “de olho” em sua esposa.

Hoje, 497 ônibus de transporte coletivo circulam diariamente pelas ruas de Campo Grande. O Consórcio Guaicurus assegura que tem mais 61 carros reservas. A média de passageiros transportados em dias úteis é de 225 mil passageiros.

Alternativa – No início da década atual, a discussão em torno de uma nova opção de transporte público provocou expectativa no campo-grandense. Um dos projetos previa a implantação de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) entre o aeroporto e a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), com recursos federais. A crise econômica instaurada em 2015 teria freado a ideia.

Doutor em Engenharia do Transporte e professor de Engenharia Civil da UFMS, Daniel Anijar de Matos rechaça a proposta. “A gente tem o exemplo do Rio de Janeiro, onde o VLT é usado como um transporte turístico. A velocidade de desempenho não é expressiva e tem que ter muita infraestrutura”.

Doutor em Engenharia do Transporte, Daniel de Matos defende aprimoramento das linhas (Foto: Jones Mário)
Doutor em Engenharia do Transporte, Daniel de Matos defende aprimoramento das linhas (Foto: Jones Mário)

O especialista defende o aprimoramento do transporte coletivo como saída para melhorar a mobilidade em Campo Grande, com outro modelo: o BRT (Ônibus de Trânsito Rápido, na tradução da sigla em inglês). "O BRT é suficiente. Mas é preciso redimensionar as linhas de acordo com o desejo das pessoas, conhecer o fluxo com pesquisas de origem/destino”.

Conforme Matos, o BRT exige menos investimento. A modalidade demanda faixas exclusivas, como as que já existem na Avenida Calógeras e na Rua Rui Barbosa, além de sistema semafórico com prioridade aos ônibus. A prefeitura também trabalha nas obras dos corredores sudoeste e norte, que vão criar novas faixas, plataformas e estações de embarque.

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