PM que matou em saída de tabacaria foi condenado por chamar superior para briga
À época, policial foi advertido por comandante da equipe ao fazer manobras perigosas sem necessidade, enquanto dirigia viatura

Policial Militar que baleou e matou Everton Massanti Cardoso dos Santos, 35 anos, na saída de tabacaria, tenta anular na Justiça Militar condenação de 1 ano e 4 meses de detenção por, no exercício da função, desobedecer ordem de superior e chamar o comandante da equipe para briga.
Consta no processo que no dia 3 de setembro de 2016, o PM cumpria escala de serviço em Campo Grande e dirigia viatura onde também estavam um soldado e um cabo, o chefe da equipe.
À época, o comandante afirmou que durante patrulhamento nos bairros, o policial desrespeitou regras de trânsito sem necessidade, avançou sinais, fez ultrapassagens sem dar seta e por pouco não provocou acidentes envolvendo outras pessoas.
Como, segundo o chefe de equipe, não havia necessidade de as manobras arriscadas serem feitas, ele advertiu o subordinado sobre a conduta. No entanto, de acordo com o cabo, o soldado mostrou-se agressivo, parou a viatura e revidou. “Dirige você então essa merda que eu não vou mais dirigir", disse enquanto sentava-se no banco de trás da viatura.
Ainda conforme documentos anexados nos autos, o militar que matou Everton a tiros ainda chamou o parceiro de serviço para que resolvessem o desentendimento de outra maneira. “E se achar ruim e quiser resolver de outra forma desce dessa viatura", teria dito.
Após ser questionado se estava chamando o comandante para briga, o PM completou. "Isso mesmo que você ouviu, desde que vim para Campo Grande, você é o comandante mais lixo que já tive. Onde já se viu polícia respeitar sinalização de trânsito se a função do sinaleiro é controlar o fluxo de veículo na via", rebateu.
Depois do episódio, o segundo soldado que estava no plantão assumiu a direção da viatura. No fim do expediente o caso foi denunciado a instâncias superiores da Polícia Militar.
Em razão dos relatos dos policiais, procedimento administrativo foi instaurado e o Ministério Público Estadual ofereceu denúncia pelos crimes de desrespeito a superior, recusa de obediência e inobservância de instrução, ambos do Código Penal Militar.
Em depoimento, o policial confirmou que infringiu regras de trânsito, mas justificou dizendo que cometeu as infrações somente durante deslocamento para ocorrências. Ele negou que tivesse desrespeitado militar superior, afirmando que, inclusive, ofereceu carona para o para ele no fim do expediente.
Segundo ele, no trajeto para ocorrência de roubo foi advertido mas teria dito apenas que se o cabo desejasse, poderia dirigir ele mesmo a viatura, sem proferir palavras de baixo calão. Negou também que tivesse insinuado vontade de brigar com o colega ou dito que ele era o comandante mais lixo com quem já tinha trabalhado.
No dia 6 de setembro de 2019, a Justiça condenou o policial a 1 ano e 4 meses de detenção em regime aberto, no entanto, ele recorreu da sentença alegando insuficiência de provas. O processo continua em tramitação.
O caso- Everton Massanti Cardoso dos Santos, 35 anos, morreu na madrugada de sábado (31) após ser baleado próximo a uma tabacaria na Rua São Borja, em Campo Grande. Os tiros foram disparados por um policial militar durante confusão envolvendo um grupo com ao menos 5 suspeitos e o segurança da tabacaria, que também estava armado.