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Capital

Prefeitura deixa criança 3 meses sem remédio e desrespeita até a Justiça

Lidiane Kober | 04/10/2014 11:29
Anny Caroline viu a vida mudar aos quatro anos de idade e segue na luta pela vida (Foto: Marcelo Victor)
Anny Caroline viu a vida mudar aos quatro anos de idade e segue na luta pela vida (Foto: Marcelo Victor)

A família da pequena Anny Caroline de Sales Madureira da Costa, de 9 anos, viveu três meses de angústia à espera de medicamento - para tratar o diabete - necessário para manter a criança viva. Os pais precisaram recorrer à Justiça e só uma determinação de sequestro de dinheiro tirou os familiares do sufoco, com a promessa da prefeitura em liberar o remédio.

Aos 4 anos, Anny Caroline viu sua vida mudar e, até hoje, precisa tomar dois tipos de insulina por dia. “O braço, a barriga e a coxa dela estão repletas de caroços por conta das aplicações”, contou o pai, Marcelo Madureira, de 29 anos.

As marcas, no entanto, não chegam perto da dor de ver a filha passar por convulsões. No total, foram seis crises que, inclusive, deixaram uma mancha no cérebro da menina. “Por isso, além da insulina, ela precisa tomar remédio controlado para evitar alterações comportamentais”, relatou Marcelo.

A mãe da pequena, Janaina Pereira de Sales, de 27 anos, esteve no lado da filha nas principais crises. “Eu presenciei apenas uma convulsão, ela ficou sem visão, comecei a gritar, por sorte estava com o carro de um amigo e a levei a uma unidade de saúde”, disse o pai.

Diante dos riscos, a insulina é fundamental para garantir o bem-estar da menina. “A vida da minha filha depende dos refis de insulina”, frisou Marcelo. Por este motivo, os últimos três meses foram de total angústia. “Dá um desespero imaginar ficar sem o medicamento e uma dor imensa pensar que do nada podemos perder a nossa filha”, completou.

Desde 2010, Anny Caroline passou a ser assistida, seis meses pelo Estado e, os outros seis meses, pela Prefeitura de Campo Grande.

“Estava na vez de o município oferecer, mas, há três meses, eles deixaram de repassar o medicamento, alegando que está em falta”, afirmou Marcelo. “Conseguimos um mandado judicial, obrigando a fornecer, mas prefeitura recusou novamente e o juiz determinou o sequestro do dinheiro para a aquisição de insulina Detemir/Levemir e outra de ação rápida, antes das refeições”, emendou.

Segundo ele, são necessários sete refis por mês, que totalizam, no período de seis meses, investimento cerca de R$ 2,873.

“Ainda na decisão, o juiz Alexandre TsuyoshiIto previu multa de 20% do valor da causa e por ato atentatório contra a dignidade da jurisdição por violação ao dever previsto no inciso V do artigo 14 do CPC (Código de Processo Civil)”, revelou Marcelo.

No mesmo dia que recebeu a decisão, o pai disse que representantes da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) procuraram a família e sinalizaram repassar o medicamento.

Por meio da assessoria de imprensa, a pasta informou que o medicamento está em falta, por problemas em pregão para aquisição. O processo teria sido contestado, o que obrigou a prefeitura a abrir novo pregão, que ainda não foi finalizado. A promessa é normalizar a distribuição até final de outubro ou começo de novembro.

Sobre a decisão de sequestro do dinheiro, a assessoria não conseguiu confirmar a decisão, mas adiantou que, na Sesau, “decisão judicial não se contesta, se cumpre”. Ainda de acordo com a assessoria, seis pacientes estão cadastrados para receber a insulina.

"O que mais nos indignou foi a forma como a atendente nos atendeu, com total de descaso, simplesmente informaram que não tinha o medicamento, nem sequer nos orientaram como buscar nossos direitos", lamentou a mãe de Anny. "Se dependêssemos só deles, minha filha não estaria mais aqui, porque, para ela, a insulina é como oxigênio para a gente", emendou.

Dificuldades financeiras – Sem o auxílio da prefeitura e do Estado, a família de Anny depende da boa vontade de amigos e familiares. “Trabalho na Uniderp, ganho R$ 1,1 mil por mês, moro de aluguel em uma pensão e pago R$ 335 por mês só de plano de saúde para minha filha”, contou Marcelo. Ele também é estudante de publicidade, porque ganha 100% de bolsa.

Anny mora com a mãe, um irmão, de 3 anos, na casa dos avós, juntamente com uma tia. “A única renda da família é a aposentadoria do avô”, informou Marcelo. Diante da dificuldade financeira, no primeiro mês sem a insulina, a família contou com o apoio de quatro amigos de Marcelo. Depois, eles ganharam auxílio de políticos e de familiares.

Superação - Nem no meio das dificuldades, segundo o pai, Anny não deixou de ser uma criança feliz e estudiosa. “É uma menina muito feliz e inteligente e, pelo terceiro ano seguido, ganhou um tablet por ser uma das melhores alunas do colégio”, disse o pai, orgulhoso.

Pais lutam para garantir o tratamento para a filha em Campo Grande (Foto: Marcelo Victor)
Pais lutam para garantir o tratamento para a filha em Campo Grande (Foto: Marcelo Victor)
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