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Capital

Serviço de reumatologia oferece atendimento de 1º mundo de graça

Aline dos Santos | 04/06/2014 16:44
Na ala infantil, Cauã bate-papo com o doutor Izaias, idealizador de serviço que completou dez anos. (Foto: Cleber Gellio)
Na ala infantil, Cauã bate-papo com o doutor Izaias, idealizador de serviço que completou dez anos. (Foto: Cleber Gellio)

Tão delicado quanto os os ossos de cristais das crianças que recebem medicamento no setor de infusão é o carinho com os pacientes que passam pela porta do serviço de reumatologia, que completa dez ano em atividade e se destaca no HU (Hospital Universitário) de Campo Grande.

Lá, o clima é de acolhida e paciente ganha status de membro da família. Se o SUS (Sistema Único de Saúde) custeia medicamentos que custa até R$ 20 mil a dose, o bom bate-papo e a acolhida dos profissionais dão suporte para quem, em sua maioria, está longe de casa e vai passar algumas horas preso a uma máquina.

Idealizador do setor, o médico reumatologista Izaias Pereira da Costa conta que se espelhou em modelos de atendimento visto na USP (Universidade de São Paulo), onde fez residência, mestrado e doutorado, e no exterior. “Suécia, Dinamarca, Londres”, conta o especialista, que nos próximos dias vai a Paris em busca de novidade para o tratamento de doenças como lúpus e artrite reumatoide .

Em atividade desde janeiro de 2004, o setor virou referência, recebendo pacientes de Rondônia, Mato Grosso, Paraná, interior de São Paulo e Paraguai. “É um centro de referência de atendimento pelo SUS”, afirma o médico. O serviço reúne atendimento ambulatorial, ensino e pesquisa. A estrutura ocupa o que no passado foi o depósito do serviço de limpeza.

Em 2012, foram 5.511 atendimentos ambulatoriais e 1.151 infusões. “Em 2013, o acréscimo foi de 25% no atendimento”, afirma o especialista. O cuidado com os pacientes inclui nutricionista, psicólogo, refeições e até a conservação dos remédios identificados pelo nome do usuário. Caríssima, a medicação fica em geladeiras com temperatura monitorada. Na falta de energia, um gerador entra em atividade para que nada se perca.

A evolução dos tratamentos anima tanto pacientes quanto os médicos. “Era triste. Na década de 80, de 90. Por mais que você fazia, a doença caminhava para a incapacidade. Melhorou a qualidade de vida. Antes, você pensava em não deixar a pessoa morrer. Agora, cuida da autoestima”, salienta o médico.

No setor de infusão, SUS garante remédios que custa até R$ 20 mil a dose. (Foto: Cleber Gellio)
No setor de infusão, SUS garante remédios que custa até R$ 20 mil a dose. (Foto: Cleber Gellio)

Em tantos anos, um caso em específico emociona. “Uma moça de 16 anos, com um lúpus gravíssimo. Afetou o sistema nervoso central. Voltou a fazer xixi na cama, usar bico, andava com uma bonequinha de lado. Hoje é uma moça bonita, vaidosa”, diz.

Como a paciente não respondia aos medicamentos, o médico decidiu usar um imunobiológico destinado para artrite reumatoide, o resultado foi que o cérebro reagiu e o quadro de demência regrediu.

Remédio, filme e futebol – A diversão corre solta na sala de infusão para as crianças. Analice, 10 anos, assiste à animação Fronzen, enquanto Cauã, 6 anos, ladeado por carrinhos e iogurte, fala sem parar.

Com o clima animado, as crianças praticamente esquecem da medicação presa ao braço por quatro horas. Com ossos de vidro, nome popular para a osteogénese imperfeita, os pequenos acumulam fraturas e recebem o medicamento por dois dias a cada quatro meses.

“Antes, os pacientes tinham que se tratar em São Paulo. A medicação atua no fortalecimento dos ossos”, explica o médico.

Analice e a mãe Josiane Lourdes Moraes, 37 anos, vieram de Corumbá. “Aqui o tratamento é muito bom. Não tem o que reclamar”, diz a mãe sobre a qualidade do atendimento.

Em dez anos, a menina já sofreu 23 fraturas, sendo a primeira aos 20 dias de vida. Com o tratamento, Analice comemora um ano sem fratura e uma rotina cheia de atividades. Ela conta que anda de triciclo, estuda no quinto ano e tira boas notas.

Carine de Fátima Martins Batista, 30 anos, percebeu cedo a fragilidade dos ossos de Cauã. “Com oito dias, ele estava o fêmur fraturado. Agora, tomo todos cuidados possíveis. Fico 24 horas em cima. Principalmente quando brinca com outras crianças”, diz. Mãe e filho vêm de Ponta Porã.

Cauã conta que trocou de time. A mudança de palmeirense para corintiano é recompensada com um chaveiro do Timão dado pela enfermeira Massaco Satomi. “Vou poder levar, Massaquinho ?”, pergunta o garoto.

Com 61 anos de idade e 30 de profissão, Massaco é responsável por receber os pacientes, explicar a dinâmica do tratamento e dar amparo na jornada de quem enfrenta doenças crônicas. No trabalho, a filosofia é atender cada pessoa com o carinho que destinaria a mãe, já falecida. “Faço o que poderia fazer se fosse ela. Sei o que o paciente sente, o que é dor, o que é perda”, diz.

"Sei o que o paciente sente, o que é dor, o que é perda", diz Massaco, ao lado de Cauã. (Foto: Cleber Gellio)
"Sei o que o paciente sente, o que é dor, o que é perda", diz Massaco, ao lado de Cauã. (Foto: Cleber Gellio)
Especialista  trouxe para HU experiências que viu na USP e Europa. (Foto: Cleber Gellio)
Especialista trouxe para HU experiências que viu na USP e Europa. (Foto: Cleber Gellio)

Na ala infantil, são atendidas seis crianças, a mais nova de dois anos. De bebê a dois anos, a medicação é necessária a cada dois meses; até os dez anos, a periodicidade aumenta para quatro meses. Na adolescência, o medicamento passa a ser oral.

No setor para adultos, Elisandra Rodrigues Miranda, 42 anos, ocupa uma das onze cadeiras da pulsoterapia, ala em que os pacientes recebem medicação. Ela conta que faz a quarta sessão para controle do lúpus. “O atendimento é muito bom aqui”, diz a paciente, que mora em Jardim.

Pioneiro – Se o atendimento de qualidade está na ponta do serviço, a base são os trabalhos de ensino e pesquisa. “Antes, éramos cinco reumatologistas em Mato Grosso do Sul todinho. Agora, já formamos quase 30. É uma especialidade nova em relação às outras, tem 60 anos”, afirma o médico Izaias Pereira da Costa.

No segmento de pesquisa, foi elaborado um perfil epidemiológico das doenças reumatológicas em Mato Grosso do Sul. “Conhecer quais são as patologias e como elas se comportam”, explica o especialista.

Segundo ele, as doenças se manifestam com maior incidência conforme a faixa etária. Crianças e pré-adolescentes são mais acometidos pela artrite idiopática juvenil, uma forma de inflamação nas juntas. Já mulheres jovens registram mais casos de artrite reumatoide. Acima dos 50 anos, predomina doenças degenerativas, como osteoartrite (degeneração das cartilagens).

Porém, o médico alerta que comprometimento dos ombros, braços e mãos começam cada vez mais cedo, devido à falta de ergonomia na utilização de computadores.

Com o concurso da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), já em andamento, o setor terá reforço e o médico vai se dedicar ao uso do aparelho de capilaroscopia, para o qual fez capacitação específica. Ele explica que o microscópio avalia os vasos capilares das cutículas.

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