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Capital

Vizinhos reclamam e cobram "fiscal" em projeto de geladeira solidária

Para moradores da região onde marmitas são distribuídas de graça, o problema é a sujeira deixada na região

Ana Paula Chuva e Bruna Marques | 15/02/2021 14:37
Daniel é um dos voluntários e leva marmitas toda segunda-feira. (Foto: Marcos Maluf)
Daniel é um dos voluntários e leva marmitas toda segunda-feira. (Foto: Marcos Maluf)

Exemplo de solidariedade, até projeto de entrega gratuita de marmitas virou polêmica em Campo Grande. A Geladeira Solidária, criada pela Paróquia Nossa Senhora Abadia, está gerando reclamação para moradores do Condomínio Sevilha, localizado na Avenida Marques de Lavradio, Bairro Jardim São Lourenço. Segundo eles, muitas vezes quem é contemplado pelas marmitas acaba deixando a sujeira nas calçadas, além de urinar e até defecar no muro do residencial.  O condomínio fica ao lado ao antigo Clube Mégaron, onde a geladeira está instalada.

De acordo com o porteiro do  local, Valdemir Souza, 47 anos, o projeto não é ruim, só precisava ser melhor administrado, já que não existe um controle e muitas vezes as pessos em situação de rua usam de má-fé com a ajuda.

“Os moradores tem medo de sair a noite por conta da quantidade de pessoas que ficam aqui na frente. Eles amanhecem no ponto de ônibus esperando pelas marmitas, mas urinam aqui na frente e até defecam na calçada. Apelidaram até o ponto de ônibus de mijodromo. O cheiro é terrível. Mas a ideia é boa, só precisa ser melhor administrada”, disse. Valdemir.

Por dia, são depositadas na geladeira ao menos 30 marmitas, mas muitas vezes ficam apenas 4 ou 5 moradores de rua esperando pela refeição com isso alguns usando da má-fé ou até mesmo o medo de não ter o que comer mais tarde e acabam levando mais do que precisam.

Pessoas a espera da marmita. (Foto: Marcos Maluf)
Pessoas a espera da marmita. (Foto: Marcos Maluf)

“Tem gente que vem e leva todas as marmitas embora sem deixar para outra pessoa que também precisa. Alguns acho que vendem por ai, outros talvez seja por medo de ficar sem. Tem mais ou menos uns cinco meses que colocaram aqui a geladeira. Tem dias que não tem nada, mas tem dias que as pessoas trazem comida nos três períodos”, explicou o porteiro.

Além disso, para alguns moradores que dependem do transporte coletivo fica difícil o acesso ao ponto de ônibus, já que as pessoas esperando pela marmita ficam abrigadas ali. E quem mora no condomínio reclama da insegurança em entrar e sair.

Como é o caso da aposentada, Aguida Oliveira, 68 anos. Segundo ela os moradores de rua passam o dia no ponto de ônibus, dai interfonam no condomínio para pedir água ou para ficar conversando com o porteiro.

“Alguns vizinhos que precisam do ônibus tem medo de ficar no ponto. Eles passam muito tempo aqui. Temos medo de abrir o portão para entrar e sair porque a gente não conhece as pessoas. Vai que um deles resolve invadir?”, declarou ao Campo Grande News.

Aguida mora na região há 30 anos. (Foto: Marcos Maluf)
Aguida mora na região há 30 anos. (Foto: Marcos Maluf)

No entanto, ela reconhece se tratar de um problema social e que é preciso melhorar as políticas públicas para que as pessoas deixem de depender do projeto e possam ter uma casa e uma renda.

“É preciso um auxilio e uma preocupação maior dos governantes para com essas pessoas que não tem moradia e emprego. Como vão comer sem renda? Elas dependem disso aqui. São invisíveis da sociedade”, desabafou a aposentada.

Já para a dona de casa, Jucena Cardoso 60 anos, o maior problema é que muitos pegam a comida e jogam fora, por isso a rua fica cheia de lixo e com cheiro muito forte.

 “Se tivesse uma pessoa organizando era bom. Tem uns que vem e pega tudo de uma vez e o próximo fica sem ou não gostam da comida e jogam tudo fora aqui na rua. Teria que ter alguém organizando e auxiliando.” destacou Jucena.

Jucena concorda que projeto deveria ter um "fiscal". (Foto: Marcos Maluf)
Jucena concorda que projeto deveria ter um "fiscal". (Foto: Marcos Maluf)

Enquanto a reportagem estava no local, um dos voluntários do projeto chegou para abastecer a geladeira. Publicitário e ajudando com as doações há dois anos, Daniel de Paula, 53 anos, começou no projeto a convite da esposa.

“Toda segunda é o nosso dia de abastecer a geladeira. Hoje trouxemos 30 marmitas, mas já chegamos a trazer 44. Nós não temos o controle ou acesso de quem pega. Quando praticamos o bem, não interessa o que vai ser feito daqui para frente, vai da consciência de cada um”, afirmou Daniel.

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