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Cidades

Com 2ª Capital mais obesa, MS tem 70 mil "aptos" à cirurgia bariátrica

Este ano 18 procedimentos cirúrgicos já foram realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde)

Izabela Sanchez | 04/09/2018 13:45
Mato Grosso do Sul tem cerca de 70 mil pessoas que poderiam realizar cirurgia bariátrica (Marina Pacheco)
Mato Grosso do Sul tem cerca de 70 mil pessoas que poderiam realizar cirurgia bariátrica (Marina Pacheco)

Campo Grande tem 58% da população obesa, segundo dados do Ministério da Saúde. É a segunda Capital com maior índice de obesidade do Brasil, ficando atrás apenas do Rio Branco (AC). Presidente regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o médico Wilson Canteiro afirma que, em Mato Grosso do Sul, há 70 mil pessoas elegíveis para realizar a cirurgia.

Em média, afirma ele, 700 procedimentos são realizados no Estado. Dados do Ministério da Saúde, ainda assim, aponta que no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde) 41 cirurgias foram realizadas em 2016, 2 em 2017 e 18 até o momento, no Estado. Considera-se excesso de peso, quando o índice é igual ou maior que 25 kg/m² e obesidade, quando ultrapassa os 30 kg/m².

Para o médico, que cita os dados do Ministério da Saúde, a obesidade tem se tornado um problema crônico no Brasil. “Os números mostram que nos últimos anos a obesidade cresceu muito no Brasil. O excesso de peso no país, que é o índice de massa corpórea igual ou superior a 25 cresceu de 26.3% em dez anos. Em 2006 nós tínhamos, por exemplo, pessoas com excesso de peso no país. Ele passou de 42,6% para 53,8%. sendo que a faixa etária mais acometida é dos 45 aos 54 anos. Com obesidade, índice de massa corpórea acima de 30, cresceu 60% nos últimos 10 anos, então passou de 11,8 para 18,9% em 2016. Em 2016, Campo Grande chegou a ser a segunda Capital mais obesa do país”, comenta.

A faixa etária que mais sofre com o problema, comenta, é a de 45 a 54 anos. O motivo, afirma, é que normalmente o consumo de alimentos que engordam aumentou, em razão de maior poder aquisitivo.

A técnica Maria Margarete de Oliveira Merlo, 42 anos, passou por um problema que acomete muitas mulheres:ganhou peso após a gravidez. À partir daí, contou, ficou muito difícil perder peso. O excesso de massa corpórea trouxe problemas à ela, a exemplo da pressão arterial. “Foi com 41 anos, porque eu estava com 113 quilos e já estava começando a ter problemas de pressão, aí os exames começaram a alterar, já estava com pré-diabetes”, comentou.

Depois da cirurgia, o mais difícil, afirma, foi a adaptação alimentar. “Além de você ter uma alimentação regrada e diminuída, depois de 30 dias você tem que começar a fazer exercício físico, manter é o difícil, é mudança de hábito total. Tenho preferência pelas proteínas, porque me dá mais tempo de saciedade, então é uma escolha inteligente. A gente tem que optar por macro nutrientes e respeitar o intervalo das refeições. Tem que escolher bem o que você vai comer. Não é um emagrecimento fácil, por isso que tem o acompanhamento pré e pós”.

Acompanhamento psicológico – O que Margarete e o médico relatam é que o mais importante durante todo o processo, tanto antes quando após a cirurgia, é o acompanhamento com uma equipe multidisciplinar. O destaque, comentam, é o apoio psicológico.

“Essa equipe, fazem você passar por vários especialistas, aí tem a psicóloga, você só consegue fazer se você passar pela psicóloga, eles veem a possibilidade de você fazer ou não. Foram 4 sessões para ver se você entendia o que acontecia. É muito importante porque não é só você querer, você tem que saber o que te espera depois, eu fui bem preparada emocionalmente e psicologicamente”, comenta Margarete.

Campo Grande é segunda Capital com maior número de obesos (Marina Pacheco)
Campo Grande é segunda Capital com maior número de obesos (Marina Pacheco)

O médico explica que o acompanhamento é o passo mais importante durante o procedimento. Parte de um comportamento compulsivo para muita gente, o vício em comer, pode, muitas vezes, ser substituído por outro.

“Se isso não for feito ele pode cair nessas situações, ele desenvolve compulsões ou ele só troca de compulsão. Na verdade quando você faz a cirurgia e ele não tem um preparo psicológico suficiente, ele troca a compulsão alimentar, que é a bengala dele, o porto seguro, por outras situações que de repente podem ser até muito mais graves, como, por exemplo, o alcoolismo, o uso de drogas, compulsão por compras, então é necessário que o cirurgião e a equipe multidisciplinar, eles tenham essa noção de que não acaba o tratamento quando acaba a cirurgia, aliás o tratamento está começando”, explica.

Hoje, o perfil de quem realiza a cirurgia, especialmente em âmbito privado, mudou, conta o médico. Em 2001, quando Wilson começou a realizar a cirurgia, que ele chama de “aventura”, o risco de morte chegava a 15%. Hoje, considerado um procedimento seguro, o risco não alcança os 0,5%.

Indústria da bariátrica – A obesidade aumenta na sociedade, ligada à má alimentação, excesso de açúcares e também, à ansiedade. Dessa forma, é importante lembrar que a cirurgia é o último passo. Os critérios são rígidos, conta o médico.

O paciente, de 16 a 65 anos, tem que ter ao menos cinco anos de obesidade estável, ter feito tratamento clínico pelo menos dois anos sem sucesso, não pode ser portador de doenças clínicas ou psiquiátricas que possam influenciar no resultado da cirurgia, nem ter vícios lícitos ou ilícitos. O risco em uma sociedade obesa, relata, é que se crie uma indústria da bariátrica.

Hoje, em Campo Grande, realizam o procedimento pelo SUS a Santa Casa e o Hospital Universitário. O HR (Hospital Regional) pediu a desabilitação do procedimento.

“Apesar da gente hoje ver algumas distorções de tentar introduzir a cirurgia em índices de massa corpórea mais baixo, mas isso, particularmente, eu sou contra. Eu acho que a obesidade tem que ser tratada como uma doença crônica, nós temos que ter o ativismo de Estado, ou seja, políticas públicas que possam realmente vir a controlar a obesidade e fazer com que a população entenda que é uma doença crônica que deve ser combatida de maneira séria e isso não inclui só o Estado, inclui a indústria de alimentos”, comentaWilson.

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