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Cidades

De tão perigosa, via tem gente, gato, cachorro e até galinha como vítimas

Elverson Cardozo | 07/08/2013 09:30
Placa virada não tem serventia nenhuma para os motoristas que trafegam pela avenida Guaicurus. (Foto: Marcos Ermínio)
Placa virada não tem serventia nenhuma para os motoristas que trafegam pela avenida Guaicurus. (Foto: Marcos Ermínio)

Moradores, pedestres e motoristas que tem a Avenida Guaicurus, em Campo Grande, como cenário e rota todos os dias, reclamam do desrespeito às leis de trânsito e da falta sinalização - necessária e adequada - na via, que registra, segundo relatos, acidentes constantes.

Na lista de vítimas, além de gente, claro, há gatos, cachorros e até galinhas. As irregularidades vão da falta de sinalização básica, como faixa, à placa virada, que não serve a nada, a não ser para rir e se indignar.

A reportagem do Campo Grande News percorreu, nesta semana, toda a extensão da via, aproximadamente 10 quilômetros, do Itamaracá ao Jardim Centenário e constatou que a reclamação, de fato, tem fundamento.

Nos primeiros quilômetros da avenida, ainda no Itamaracá, nas proximidades das ruas Kamy Oshiro e Sizuo Nakasato, perto de uma borracharia, uma cena chama atenção: em um dos sentidos, uma placa de quebra-molas está virada ao contrário.

Para quem segue na direção do Bairro Los Angeles, ela não serve para nada, mas rende, ao menos, uma boa risada quanto se está, lógico, de bom humor. Para quem não vê uma solução, nem compensa se estressar. À frente, a alguns metros, existem outros absurdos.

Mas é impossível deixar de pensar: Será mesmo que o poder público cometeria tamanho equívoco? Moradores aliviam a situação. “Aqui é uma bagunça danada. A placa estava certa, mas uns adolescentes arrancaram e viraram do nada. Isso tem uns 4 meses”, contou o motorista, Hamilton Afonso Vilela, 72 anos, que mora praticamente em frente ao local.

“São vândalos”, definiu a mulher dele, Senaide Vilar Borges, 68 anos, se referindo à ação dos meninos. Mas quatro meses, disse o casal, é muito tempo para ninguém enxergar a situação. Nada que cause muita surpresa para eles.

Desde que se mudaram para a região, há cerca de 20 anos, o casal presencia acidentes. Dona Senaide lamenta, até hoje, a morte de um cachorro de estimação e de umas 10 galinhas que criava no quintal de casa.

Hamilton e Senaide confirmam que, na avenida, acontecem acidentes com frequência. (Foto: Marcos Ermínio)
Hamilton e Senaide confirmam que, na avenida, acontecem acidentes com frequência. (Foto: Marcos Ermínio)
Na Rua Filomena Segundo Nascimento, região do Jardim Campina Verde, falta sinalização. (Foto: Marcos Ermínio)
Na Rua Filomena Segundo Nascimento, região do Jardim Campina Verde, falta sinalização. (Foto: Marcos Ermínio)

“Criação não pode ter aqui. A caminhonete passou em cima das minhas galinhas e machucou umas 10 de uma vez. Tive que matar todas para comer. Meu cunhado teve até que ajudar”, contou.

A história parece engraçada, mas a o problema é sério. A situação, na Avenida Guaicurus, é crítica, definem. “Falta sinalização. A que tem está virada ao contrário. O asfalto precisa ser recapeado porque acaba com o carro. Aqui, quando é de madrugada, os motoristas passam em alta velocidade, até os de ônibus. A gente tem medo de ficar na frente”, declarou o esposo da dona de casa.

“Já vi muito acidente aqui. Esses dias passaram em cima de um guri, que foi arrastado. Mataram o guri”, completou. A constatação de que algo está errado pode ser vista à frente, na mesma via.

Na Rua Filomena Segundo Nascimento, região do Jardim Campina Verde, não há placa de “Pare” para o motorista que precisa entrar na Guaicurus.

A sinalização horizontal, em toda a avenida, é praticamente inexistente. Saindo do Itamaracá, ela só vai aparecer nas proximidades da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), mas os responsáveis pelo órgão de trânsito, pelo visto, não se preocupam com a boa imagem.

Para quem vem do Itamaracá, sinalização horizontal só começa a aparecer perto da Agetran, mas, ainda assim, está apagada. (Foto: Marcos Ermínio)
Para quem vem do Itamaracá, sinalização horizontal só começa a aparecer perto da Agetran, mas, ainda assim, está apagada. (Foto: Marcos Ermínio)

Para conseguir imagem de faixa, aliás, é preciso se esforçar, de tão apagada que a pintura está. A de pedestre, que dá acesso a UPA do bairro Universitário, some a cada dia.

O trecho próximo ao Museu José Antônio Pereira, é outro ponto crítico. Moradora do Los Angeles desde abril, a auxiliar Gleica de Medeiros, de 26 anos, já foi espectadora de vários acidentes. “No horário de pico, entre 6h e 9h30, tem muitos. É bastante tumultuado”, disse, ao comentar que a situação se repete praticamente todos os dias.

Para a jovem, falta o essencial. “É muito movimento para pouca ou nenhuma sinalização. A qualidade do asfalto é terrível, o que proporciona o aumento do número de acidentes, muitas vezes fatais”, declarou.

Em praticamente todo a extensão da avenida não há faixas. (Foto: Marcos Ermínio)
Em praticamente todo a extensão da avenida não há faixas. (Foto: Marcos Ermínio)

Mas também falta, disse, conscientização por parte dos condutores, que insistem em desrespeitar as leis de trânsito e abusarem da velocidade. Discurso semelhante tem o garapeiro Eraldo Peres Bergas, de 56 anos, que trabalha na mesma avenida, mas na região do Iraci Coelho.

“O camarada aprende uma coisa na autoescola, sai e joga fora”, resumiu. No horário de pico contou, é uma baderna só. Ninguém respeita. Nem motorista, nem pedestre. “Tem gente que prefere xingar, que é o costume do brasileiro. Do tempo que estou aqui já vi umas batidas. Fico com o coração na mão”.

Garapeiro diz que, para doar sangue, precisa saber a causa. Se for para motociclista irresponsável, que vive brincando, não compensa, declarou. (Foto: Marcos ermínio)
Garapeiro diz que, para doar sangue, precisa saber a causa. Se for para motociclista irresponsável, que vive brincando, não compensa, declarou. (Foto: Marcos ermínio)

O medo é tanto que ele, embora seja habilitado desde a década de 70, nem dirige mais em Campo Grande. Eraldo é paranaense e diz que no Estado onde nasceu, apesar dos problemas, a situação, no trânsito, não é assim, tão tensa.

A revolta com os inconsequentes e irresponsáveis que circulam nas ruas da cidade é tamanha que o garapeiro mantém um discurso forte, mas ele garante que sustenta a afirmação.

“Para eu doar sangue, preciso saber qual a causa, porque se for para motoqueiro irresponsável, que vive brincando, eu não dou meu sangue. É jogar fora, enquanto tem gente precisando”.

Todos as pessoas ouvidas para essa reportagem acreditam o número de acidentes na Avenida Guaicurus podem diminuir se o poder público der mais atenção à região que necessita, nas palavras deles, de semáforos, redutores de velocidade, além de sinalização adequada.

O Campo Grande News procurou a assessoria de imprensa da Prefeitura, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.

O prefeito Alcides Bernal (PP) vem dizendo que inicia, ainda neste semestre, as obras de recapeamento da avenida.

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