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Fora da lei, mas dentro da tecnologia, jogo do bicho segue livre

As apostas na “loteria clandestina” antes eram feitas em cartelas de papel, que no fim do dia eram recolhidas para o sorteio da premiação; hoje, bicheiros usam aplicativo de celular

Anahi Zurutuza e Bruna Pasche | 02/10/2018 14:07
Banquinha do jogo do bicho em Campo Grande; basta circular pelos bairros da Capital para avistar uma delas (Foto: Kísie Ainoã)
Banquinha do jogo do bicho em Campo Grande; basta circular pelos bairros da Capital para avistar uma delas (Foto: Kísie Ainoã)

Não só continua espalhado pelas ruas, como teve de se modernizar para não perder a clientela. O jogo do bicho, apesar de ilegal, também teve de se render à tecnologia e passou a ser feito por meio de aplicativo para celular.

As apostas na “loteria clandestina” antes eram feitas em cartelas de papel, que no fim do dia eram recolhidas para o sorteio da premiação. O apostador ficava apenas com um rascunho para conferir o jogo. Hoje, o jogo é feito pelo celular e o apostador recebe um comprovante impresso.

No ramo há 13 anos, um cambista – como são chamadas as pessoas que vendem os jogos – topou dar entrevista sem se identificar. Ele conta como foi a evolução da bolsa de apostas ilegais.

“Aqui no Mato Grosso do Sul, que eu sei, o aplicativo funciona só em Campo Grande e em Dourados, inclusive o programa deles (da cidade do interior) é melhor que o nosso, dá pra fazer várias apostas de uma vez só, aqui eu tenho que fazer uma de cada vez. O aplicativo chegou de lá de cima (comando do jogo do bicho), nós não tivemos opção de escolher se queríamos continuar com o talão ou não”.

O cambista revela ainda que os clientes se sentem mais seguros com as apostas eletrônicas. “A gente joga a aposta no aplicativo e imprime uma via que fica com o apostador, isso traz mais segurança, porque antigamente o motoqueiro podia perder ou acontecer qualquer coisa com sua aposta e você não tinha como provar”, pontuou.

Após jogo feito em celular, cambista passa ao apostador comprovante em papel impresso (Foto: Bruna Pasche)
Após jogo feito em celular, cambista passa ao apostador comprovante em papel impresso (Foto: Bruna Pasche)
Comprovante de aposta feita pelo celular (Foto: Marina Pacheco)
Comprovante de aposta feita pelo celular (Foto: Marina Pacheco)

Fiscalização – O jogo do bicho tem artigo específico no Decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941, a Lei das Contravenções Penais. Quem for pego por explorar a “loteria ilegal” pode pegar pena de quatro meses a um ano de prisão, além de ter de pagar multa. 

Titular da Deops (Delegacia Especializada de Ordem Política e Social), o delegado Paulo Henrique Sá, explica que a Polícia Civil fiscaliza o jogo do bicho rotineiramente, assim como fecha caça-níqueis.

O delegado admite a dificuldade de combater o jogo de azar. “A gente até recebe denúncias, apreendemos recentemente algumas maquinetas e temos dois ou três inquéritos abertos, mas existe uma aceitação social, está no dia a dia das pessoas”, afirma sobre a dificuldade da polícia em coletar informações e tocar apurações, por exemplo.

Foi o que o Campo Grande News encontrou nas ruas. Apostadores assíduos, um casal de Ribas de Rio Pardo – a 103 km de Campo Grande –, que também preferiu não se identificar, não vê o jogo como ilegal e aposta há tanto tempo que nem se lembra mais. Eles revelam que já chegaram a ganhar mais de R$ 10 mil em um jogo. “Tem que estar com sorte, mas às vezes vale a pena”, disse um dos entrevistados.

Basta uma circulada pelos bairros da Capital para encontrar as banquinhas onde são feitas as apostas. Os locais também vendem loterias autorizadas e outros produtos, além de manter a bolsa de apostas clandestina.

Talão onde apostas eram anotadas antes do surgimento do aplicativo (Foto: Bruna Pasche)
Talão onde apostas eram anotadas antes do surgimento do aplicativo (Foto: Bruna Pasche)

História – O jogo associa 1 número para cada um dos 25 animais diferentes e surgiu há pelo menos 120 anos no Brasil. Conforme publicado pela revista Superinteressante, o banco de apostas foi criado para evitar que o zoológico do Rio de Janeiro (RJ) fechasse.

Na compra de um ingresso, um bicho era escolhido e caso sorteado no fim do dia, o comprador podia ser premiado com até 20 vezes o valor do bilhete. Em 1894, os bicheiros que se espalharam pela cidade e desde então, pelo país.

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