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Interior

Desde janeiro, prefeitura gastou R$ 126,4 mil com remédio sem efeito

Prefeitura diz que compra foi influenciada por relato de dois médicos que trabalham na cidade

Silvia Frias | 26/03/2021 10:43
Vice-prefeito Réus Fornari (azul) e o médico Luiz Eugênio (branco) na live, ontem (Foto/ Ygor Chagas)
Vice-prefeito Réus Fornari (azul) e o médico Luiz Eugênio (branco) na live, ontem (Foto/ Ygor Chagas)

A prefeitura de Rio Verde de Mato Grosso, a 207 quilômetros de Campo Grande, gastou R$ 126,4 mil para compra de 80 mil caixas de Ivemerctina com quatro comprimidos cada. O vermífugo usado contra vermes e parasitas será ofertado a moradores do município como tratamento preventivo, mesmo sem comprovação de eficácia contra doença e com relatos de hepatite medicamentosa no País causada pelo ativo.

A iniciativa de ministrar o medicamento como tratamento preventivo será executada no sistema público é do vice-prefeito Réus Antonio Sabedotti Fornari (DEM), influenciado, segundo ele, por relato de dois médicos que trabalham na cidade. Os dois são clínicos gerais e atuam em clínicas privadas, sem relação com o sistema público.

Um deles é o clínico geral Luiz Eugênio Engleitner, que estava ao lado do vice-prefeito ontem (25) durante a live promovida pela Associação Comercial de Rio Verde, na Câmara Municipal. O outro, também clínico geral, disse à reportagem que não fez qualquer sugestão e pediu para não ser identificado.

Fornari disse que os médicos relataram que trataram os pacientes com o vermífugo, de forma preventiva, e que essas pessoas não desenvolveram a doença. “Cada um atende 400, 500 pessoas”, disse. Segundo o vice-prefeito, esses dados foram apresentados de maneira informal, sem tabulação de resultados, mas como sugestão.

O secretário de Saúde de Rio Verde de MT, Roberto Martins, disse que o município já vinha comprando o vermífugo de forma regular, mas turbinou o estoque com agravamento de casos, já que a Ivermectina estava sendo ministrada a pacientes de covid-19, principalmente na fase aguda, já em internação.

O estoque atual é de 80 mil caixas contendo quatro comprimidos cada uma delas, ao custo de R$ 3,16, totalizando R$ 126,4 mil em gasto. Martins disse que o estoque será reposto conforme demanda e adesão da população ao tratamento preventivo. A estimativa pode chegar a 120 mil, mas, reforçou, depende da procura.

Tanto Martins quanto Fornari disseram não temer os efeitos colaterais citados relatados e que começaram a ser detectados no Brasil. Um deles, é a hepatite medicamentosa por conta do uso prolongado de remédios do kit covid.

“Levei conta esses estudos, mas também de médicos do mundo inteiro, famosos que receitaram vi plaestras, não dá transtorno nenhum. Lógico, se tomar demais, é igual comer um cacho de banana, vai comer inteiro, vai passar mal”, comparou Fornari. O vice-prefeito diz que o tratamento não será obrigatório e adesão depende da população.

O secretário também dosou a pílula ao falar dos estudos que não apontam eficácia ou tratam dos riscos do uso contínuo. “Até dipirona faz mal se tomar sem cuidado, sem observar o quadro clínico, pode acontecer dentro dos melhores hospitais do mundo”. Martins disse que os médicos da rede pública também não serão obrigados a receitar o vermífugo.

Ineficaz - O uso da Ivermectina foi propagado pelo presidente da República Jair Bolsonaro, assim como hidroxicloroquina. Vários estudos pelo mundo avaliaram que não há eficácia comprovada e, ainda, há riscos à saúde.

A ivermectina é um medicamento utilizado para tratar infecções causadas por vermes e parasitas. Na sua versão veterinária, é indicado para acabar com sarnas em gatos e cachorros. No mês passado a farmacêutica Merck Sharp & Dohme, responsável pela fabricação da ivermectina, afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a doença e que não há nenhuma base científica que aponte efeitos positivos em pacientes.

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