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Endereço desatualizado impediu alerta de tornozeleira antes do 37º feminicídio

Segundo a Agepen, Alliene Nunes Barbosa estava em uma residência diferente da que constava no cadastro

Por Bruna Marques | 25/11/2025 07:07
Endereço desatualizado impediu alerta de tornozeleira antes do 37º feminicídio
Alliene foi atingida por 23 facadas na frente do filho de 9 anos (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

A morte da ex-guarda municipal Alliene Nunes Barbosa, 50 anos, assassinada pelo ex-companheiro Cristian Alexander Cabeza Henriquez, 44 anos, em Dourados, a 251 quilômetros de Campo Grande, expôs um ponto frágil no enfrentamento ao feminicídio, o endereço desatualizado no sistema de monitoramento. A informação foi confirmada pela Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), responsável pelo controle das tornozeleiras eletrônicas.

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O assassinato da ex-guarda municipal Alliene Nunes Barbosa, 50 anos, em Dourados (MS), revelou uma falha crítica no sistema de monitoramento de agressores: a desatualização do endereço cadastrado. A vítima foi morta com 23 facadas pelo ex-companheiro Cristian Alexander Cabeza Henriquez, 44 anos, que usava tornozeleira eletrônica. O sistema de proteção, que deveria impedir a aproximação do agressor num raio de 300 metros, falhou porque o endereço onde Alliene residia era diferente do registrado. Henriquez já havia descumprido medidas protetivas anteriormente, tendo invadido a residência da vítima em outubro. O crime foi presenciado pelo filho da vítima, de nove anos.

De acordo com o órgão, a chamada área de exclusão funciona como uma espécie de escudo digital. A vítima informa onde está residindo, o endereço é inserido no sistema e, a partir daí, o agressor fica impedido de se aproximar num raio de 300 metros. Sempre que o monitorado cruza esse limite, o sistema aciona um alerta. A central telefona primeiro para ele, depois para a vítima e, caso o indivíduo permaneça na região, equipes externas são enviadas para verificar o descumprimento da ordem judicial.

No caso de Alliene, essa engrenagem não operou como deveria. Ela estava em um endereço diferente do que constava no cadastro. Isso permitiu que o agressor entrasse na área de exclusão sem que o sistema percebesse. Nenhum aviso foi emitido e nenhuma ligação preventiva ocorreu. No registro eletrônico, Cristian Henriquez parecia obedecer às determinações da Justiça.

Endereço desatualizado impediu alerta de tornozeleira antes do 37º feminicídio
Cristian Alexander no momento em que foi preso pela Polícia Militar (Foto: Leandro Holsbach/Alerta Dourados)

A Agepen destaca que o funcionamento do monitoramento depende da precisão das informações fornecidas pela vítima. Um endereço incorreto ou não atualizado faz com que a tecnologia atue às cegas. Se o dado estivesse correto, o alerta teria disparado assim que o agressor ultrapassasse o limite de 300 metros.

Segundo a agência, manter o endereço atualizado é parte essencial da proteção. A falha, segundo a Agepen, não foi da tornozeleira, mas da distância entre o que constava no sistema e onde Alliene de fato vivia.

O crime - Alliene se tornou a 37ª vítima de feminicídio registrada neste ano em Mato Grosso do Sul. A mulher foi assassinada com 23 facadas por volta de 23h20 de domingo (23), após Cristian invadir a casa onde ela morava com o filho de nove anos, na Vila Sulmat.

O menino presenciou a mãe ser assassinada pelo ex-padrasto. Antes de fugir, o criminoso trancou o portão e deixou o garoto preso na casa, mas o garoto conseguiu fugir e pediu socorro ao vizinho. O homem chamou a Polícia Militar.

Cristian Alexander foi localizado pela Polícia Militar na casa da mãe, na Vila Industrial. Inicialmente, ele confessou ter matado a ex-companheira. Entretanto, em depoimento ao delegado Marcos Werneck Pereira, da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), negou o crime e apresentou versão confusa sobre os fatos.

Antes do feminicídio, o crime mais recente praticado por Cristian contra a ex-companheira e denunciado por ela à polícia ocorreu no dia 5 de outubro deste ano. Já com medida protetiva que o impedia de se aproximar da mulher, ele invadiu a casa dela e a ameaçou. Os policiais tiveram de pular o muro para prender o venezuelano.

Endereço desatualizado impediu alerta de tornozeleira antes do 37º feminicídio
Equipes policiais e peritos na casa onde vítima foi morta (Foto: Sidnei Bronka)

A vítima relatou que Cristian chegou por volta das 22h30, arremessou a bicicleta para dentro do quintal, pulou o muro e passou a bater violentamente na porta, ameaçando-a de morte, além de ligar para comparsas, solicitando apoio e armas.

Alliene afirmou ter se escondido para não ser vista, porém o autor persistiu até conseguir avistá-la no interior da casa, momento em que ela ligou para o 190 e solicitou socorro. Segundo ela, não era a primeira vez que ele descumpria a ordem judicial, expedida seis meses antes.

Cristian foi levado para a delegacia e autuado em flagrante por descumprir a medida protetiva e por ameaçar a ex-companheira. O homem alegou que a ex-guarda municipal o havia procurado após ele sair em regime semiaberto e que os dois tinham reatado o relacionamento. Também negou as ameaças.

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