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Interior

Indígenas acusam fazendeiro de destruir barracos com trator no sul de MS

Funcionários que estão gradeando a terra teriam avançado com trator sobre acampamento

Helio de Freitas, de Dourados | 28/03/2023 14:20


A tensão voltou à comunidade Kurupi, no município de Naviraí, região sul de Mato Grosso do Sul, local marcado por recentes conflitos entre nativos e produtores rurais. Indígenas denunciam que funcionários da Fazenda Tejuy – invadida desde o ano passado – teriam destruído barracos quando gradeavam as terras para plantio de lavoura, nesta segunda-feira (27).

Vídeo gravado por um dos indígenas e divulgado no site do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) mostra destroços de um barraco. Nas imagens, é possível perceber marcas de grade de trator na área (veja o vídeo acima).

Segundo a assessoria de comunicação do Cimi, os guaranis-kaiowás afirmam que policiais fazem escolta dos funcionários enquanto eles destruíam os barracos. A denúncia revela ainda que os tratores estariam avançando sobre área de preservação permanente com a intenção de preparar a terra para plantio.

O Cimi afirma que os fazendeiros usam a atividade agrícola como justificativa para contar com a escolta policial e aproveitam a situação para avançar contra os indígenas.

Áudios – A assessoria do Cimi também divulgou áudios de supostas conversas entre funcionários da fazenda e até com policiais militares, falando sobre a situação de conflito na área. Segundo o conselho missionário, os áudios foram interceptados em aparelhos de rádio e gravados por meio de celular entre a noite de domingo e a madrugada de segunda.

“Tá preto de índio do outro lado do rio (sic), de camiseta branca, preta, tem uns 15 ali do outro lado onde vai gradear mais tarde”, afirma um homem não identificado. “Os caras da noite não vão poder trabalhar aqui não, tá? Eles estão na tocaia aqui, falando no rádio”, diz outro. “Vamos trabalhar. Se eles saírem da moita e vierem pra cima, nós levantamos a grade e vamos pra cima [deixariam o local]. Enquanto eles não saírem da moita, vamos gradeando”, afirma outro funcionário.

Em outro áudio interceptado pelos indígenas, funcionário da propriedade falava com homem identificado como “sargento” para avisar sobre as próximas movimentações dos tratores no local.

“Sargento, essa noite não está rodando o trator, então está sossegado aqui na fazenda, está tranquilo, de boa. Eles estão quietos no canto deles lá. Agora, amanhã vai começar a rodar três tratores cedo e vai rodar à noite, beleza?”, afirma o funcionário. O serviço de comunicação da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul informou ao Campo Grande News que não houve ação da PM na área nesta semana.

“Essa situação denota que os indígenas estão numa postura passiva, apenas se protegendo e resguardando a parte do território que eles ocupam, que é uma área de mata, de preservação permanente, e só se defendem quando os tratores avançam contra a comunidade, seus barracos e pertences, inclusive objetos sagrados”, afirmou o coordenador do Cimi em Mato Grosso do Sul, Matias Benno Rempel.

Clima de guerra – Na semana passada, indígenas da mesma comunidade denunciaram que trator e veículos da fazenda teriam avançando o limite do acampamento. A intenção, conforme os indígenas, era desmatar área de preservação permanente.

De acordo com informações prestadas por lideranças ao Cimi, um grupo indígena, então, se deslocou até o local para saber o que estava acontecendo, quando foi novamente surpreendido, mas desta vez por policiais que se encontravam junto com funcionários da propriedade rural. Tiros teriam sido disparados.

Ao anoitecer, helicóptero passou a sobrevoar a área indígena e mais disparos de armas de fogo foram ouvidos, segundo texto divulgado pelo Cimi. Lideranças da comunidade teriam sido abordadas e ameaçadas de prisão.

Por nota, a Polícia Militar informou ter agido após suposta tentativa dos indígenas de impedir o trabalho no interior da fazenda. “O proprietário acionou a PM. Quando a equipe chegou, os índios saíram da área. Não houve confronto. Foi uma ocorrência comum, sem necessidade do uso da força", alegou a Polícia Militar, na semana passada.

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