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Interior

Justiça aceita denúncia contra mulher de traficante que movimentou R$ 1 milhão

Aline Bittencourt é mulher de Diego Zacarias, chefe do tráfico na região de Paranhos

Helio de Freitas, de Dourados | 17/11/2020 15:51
Casa e caminhonete da família Zacarias destruídos por explosivos, em dezembro de 2018 (Foto: Arquivo)
Casa e caminhonete da família Zacarias destruídos por explosivos, em dezembro de 2018 (Foto: Arquivo)

A Justiça Federal aceitou denúncia do MPF (Ministério Público Federal) e transformou em ré por lavagem ou ocultação de bens Aline Veron Bittencourt, mulher de um dos principais chefes do tráfico de drogas na fronteira seca entre Ypejhú no Paraguai e Paranhos (MS), a 469 km de Campo Grande.

Mesmo sendo simples vendedora em pequena loja do lado brasileiro da fronteira e com rendimento mensal de um salário mínimo, de 2014 e agosto de 2015, Aline movimentou pelo menos R$ 1,1 milhão na conta que mantinha na agência do Banco do Brasil em Paranhos.

Aline Bittencourt é mulher de Diego Zacarias Alderete Peralta, 31, que segundo a polícia paraguaia assumiu o lugar do pai, Zacarias Alderete Peralta, no comando dos negócios da droga na região.

Em dezembro de 2018, bandidos fortemente armados invadiram Ypejhú e explodiram com dinamites casas de alto padrão e uma concessionária de veículos da família Zacarias.

Diego não foi encontrado, mas Aline, o filho do casal – na época com seis meses de vida – e a irmã de Diego, Rosana Antonia Alderete Peralta, estavam em uma das casas. Sob a mira de fuzis, os três foram levados para frente da igreja da cidade enquanto o bando explodia as residências e a loja.

A quadrilha teria agido supostamente a serviço do narcotraficante Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, na época ainda em liberdade, para impor aos Zacarias o domínio do novo “patrão”. Entretanto, dois meses depois do ataque, Minotauro foi preso em Balneário Camboriú (SC).

A denúncia – Segundo a denúncia do MPF, feita com base em investigação da Polícia Federal, a movimentação milionária foi identificada pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). O dinheiro, segundo a PF, veio diretamente do tráfico internacional de entorpecentes.

O valor exato movimentado de janeiro de 2014 a agosto de 2015 foi de R$ 1.152.032,66 (um milhão, cento e cinquenta e dois mil, trinta e dois reais e sessenta e seis centavos).

Conforme a denúncia, os valores entraram na conta bancária por meio de depósitos fracionados, vindos de várias regiões do País. “Trata-se de modus operandi característico de delitos de lavagem de capitais, compostos por operações que, por sua habitualidade, valor e forma, configuram artifício para burlar a identificação da origem, destino, responsáveis e beneficiários destas”, afirma o processo.

A polícia também descobriu que os depositantes e beneficiários do dinheiro que saiu da conta eram indivíduos ligados a infrações penais.

Um deles foi Marcos Andrei Peres, conhecido na região da fronteira de Paranhos por ligação com o tráfico de drogas e sócio de Mohamed Youssef, traficante de Minas Gerais morto em Paranhos em 2015 (leia neste texto abaixo). A PF descobriu que Marcos recebeu R$ 54 mil de Aline Bittencourt.

Com diversas passagens por tráfico, Robson Rodrigues Gonçalves depositou R$ 40 mil na conta-corrente da mulher de Diego Alderete. Dono de longa ficha criminal por furto qualificado tentado e associação criminosa em Minas Gerais, Junio Guedes Ferreira depositou R$ 80 mil na mesma conta.

No despacho em que aceitou a denúncia, a juíza federal Júlia Cavalcante Silva Barbosa, da 3ª Vara Federal em Campo Grande, cita que Aline é esposa do traficante e que em 2018 ela teve a vida poupada enquanto bandidos bombardeavam a casa da família, “em retaliação que tinha como alvo Diego Peralta”.

“A relação matrimonial existente entre Aline Bittencourt e Diego Peralta demonstra que as movimentações financeiras atípicas realizadas na conta bancária da investigada se referem à ocultação de recursos advindos do tráfico internacional de entorpecentes”, afirma a juíza.

A magistrada federal ainda cita que as movimentações financeiras possuíam fragmentação de recursos em espécie, transferências para várias regiões do país e depósitos por meio eletrônico. “Está delineada evidente logística de “branqueamento” de valores ilícitos”.

Para Júlia Cavalcante Silva Barbosa, “de forma plenamente consciente e deliberada”, Aline utilizou sua conta-corrente para a movimentação de dinheiro oriundo do tráfico internacional de drogas, promovido por seu esposo, Diego Zacarias Alderete Peralta.

O recebimento da denúncia foi publicado nesta terça-feira (17). A juíza marcou audiência de instrução e julgamento para o dia 6 de abril de 2021. Ela ainda mandou expedir carta precatória a Paranhos, para intimar Aline Veron Bittencourt e uma testemunha de defesa.

Chacina – Diego é um dos sobreviventes da chacina com cinco mortos, ocorrida no dia 19 de outubro de 2015 em uma padaria de Paranhos.

Morreram no local o irmão dele Arnaldo Andres Alderete Peralta, 32, Bruno Vieira de Oliveira, 26, Rodrigo da Silva, 28, Denis Gustavo, 24, e Mohamed Youssef Neto, 31, citado na denúncia contra Aline.

Diego, na época com 26 anos, e Anderson Cristiano, 27, sobreviveram, mas o filho do chefão do tráfico teve a perna amputada em consequência dos ferimentos provocados por tiros de fuzil.

Para vingar os filhos, Zacarias teria ordenado a execução de várias pessoas suspeitas de envolvimento na chacina e de parentes dos rivais. Apontado como mandante do ataque, Luiz Carlos Gregol, o Tatá, foi morto em Amambai, no dia 5 de novembro de 2018.

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