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Interior

Na "cidade das 2 mortes", vírus adia casamento e faz avós chorarem de saudade

Moradores de Batayporã relatam o drama enfrentado com a quarentena na cidade com duas mortes por covid-19

Helio de Freitas, enviado especial a Batayporã | 09/04/2020 06:30
A assistente social Bárbara e os três filhos isolados em casa, em Batayporã (Foto: Arquivo pessoal)
A assistente social Bárbara e os três filhos isolados em casa, em Batayporã (Foto: Arquivo pessoal)

Na pequena cidade de Batayporã, a pandemia afetou a vida de todo mundo. Após 6 infectados e duas mortes, as rodinhas de jovens no centro à noite não são mais permitidas, as festas em famílias deram lugar ao isolamento, os bancos da praça estão interditados e até casamento teve de ser adiado.

O Campo Grande News conversou com três moradores da cidade. Cada um, dentro da sua realidade, sente na pele as dificuldades impostas pelo vírus que se espalha mundo afora.

A assistente social Bárbara Gonçalves de Almeida, 30, está isolada em casa com os três filhos pequenos, Lucca, 7 meses, Lívia, 2 anos e Lavínia, 5 anos. O marido, o motorista e operador de munck César Eduardo, 27, não pode ficar em casa e todos os dias sai para trabalhar.

“Uma semana antes das aulas pararem eu já não mandei mais minhas crianças para a escola. Estou trabalhando em home office e vou na prefeitura quando preciso entregar documentos e mandar ofícios. Estou isolada com meus filhos há 20 dias, só saio estritamente o necessário. Meu esposo continua trabalhando e quando chega em casa já vai direto para o banheiro e coloca a roupa na máquina”, contou ela.

Bárbara diz que as crianças estão começando a ficar ansiosas com saudades dos avós. “Os avós estão com tanta saudade que choram ao telefone quando ouvem a voz das crianças”.

Ela não esconde o medo de contágio, dela e de sua família. “O vírus não dá para ver e muitos podem estar contaminados e permanecer assintomáticos. Só de pensar em tudo que ainda está por vir, me dá pânico e começo uma crise de ansiedade, com falta de ar. Comecei a desligar o noticiário, senão ia morrer de ansiedade e desespero. Nos apegamos a Deus e estamos rezando em família”.

Fernanda e o noivo Gilmar Cezar Junior; casamento adiado, sem data definida (Foto: Arquivo pessoal)
Fernanda e o noivo Gilmar Cezar Junior; casamento adiado, sem data definida (Foto: Arquivo pessoal)

Casamento adiado – Fernanda Aparecida de Souza, 24, e o noivo Gilmar Cezar Junior, 26, se casariam no dia 25 deste mês, mas por causa da pandemia, o enlace matrimonial foi adiado para data ainda indefinida.

“A rotina de toda nossa pequena Batayporã mudou. Tivemos de nos adaptar com medidas drásticas impostas pelo município, porém muito necessária para evitar propagação do vírus. É apavorante termos os dois óbitos do Estado em nosso município, mas pelo trabalho que está sendo feito acredito que serão casos isolados”, afirma a servidora pública estadual.

“Estávamos com todas as coisas do casamento definidas desde janeiro. Não conseguimos nem marcar data ainda, pois não sabemos quando as coisas vão voltar ‘ao normal’. Estamos numa situação bem difícil”, disse Fernanda.

Culto online – O pastor Antônio Marcos de Lima, 47, é outro morador de Batayporã enclausurado pela pandemia do novo coronavírus. Sem poder sair de casa e com as igrejas fechadas, Antônio Marcos recorre aos cultos online para continuar pregando aos fieis de sua igreja. “Sou pastor há 16 anos na Igreja Quadrangular e pela primeira vez estou com a igreja fechada”.

Pastor Marcos afirma que as duas mortes causaram impacto. “Nos unirmos aos outros pastores e ao padre, para acharmos a melhor maneira de orientar as pessoas para amenizar o medo que se instalou em todos. Estamos em oração crendo que Deus fará o melhor por nós e sempre trazendo uma palavra de confiança nos cultos online”.

Marcos diz que nem consegue imaginar o tamanho da dor dos familiares das duas moradoras mortas. “Compadeço-me com a dor deles”. Pai de uma filha especial, o pastor afirma que tem seguido as orientações do decreto municipal e quando precisa sair de casa, toma as precauções. “É muito difícil não poder ter contato com as pessoas”.

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