Para produtor, "morte coletiva" é truque de índio para pressionar juiz
A disposição dos índios guarani-caiuá de resistirem até a morte e não cumprirem a reintegração judicial de fazenda em Japorã, a 487 quilômetros de Campo Grande, é vista com ceticismo por quem está do outro lado da disputa fundiária. Eles avaliam que é uma forma para pressionar a Justiça Federal, que já determinou a retirada das famílias das propriedades rurais.
“Essa morte coletiva não engana mais ninguém. É coisa para inglês ver, não é real. Índio não vai se matar coisa nenhuma. Isso é truque do Cimi [Conselho Indigenista Missionário]”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Iguatemi, Hilário Parise. O sindicato representa os produtores rurais de Japorã, na fronteira com o Paraguai.
Na quinta-feira, os índios divulgaram carta anunciando morte coletiva do grupo, estimado em 4 mil pessoas. No texto, não há menção a suicídio, mas à intenção de ficar na terra, que denominam Ivy Katu, até a morte. Os guaranis também explicam que deram início a um ritual religioso raro que diz respeito a despedida da vida da terra.
Em outubro do ano passado, a menção de suicídio coleito na terra Pyelito Kue, em Iguatemi, provocou comoção mundial, desencadeando campanhas nas redes sociais em favor dos indígenas. À época, a reintegração de posse da fazenda Cambará foi suspensa. Na ocasião, o Cimi esclareceu que não se tratava de suicídio, mas a luta pela terra levada às últimas consequências.
Em Japorã, a invasão de 14 áreas, sendo 7 fazendas e sete propriedades menores, começou em outubro deste ano. Ao todo, os imóveis rurais equivalem a 9.461 hectares. De acordo com o presidente do Sindicato Rural, os índios depredaram o interior das casas e forçaram a retirada do rebanho de 8.800 cabeças. O gado foi levado para fazendas vizinhas. “Em média, o arrendamento custa R$ 20 por cabeça”, diz Hilário Parise sobre os custos da invasão.
Segundo ele, a área é tratada como prioritária nas negociações com o governo federal e os fazendeiros estão dispostos a vender as propriedades, desde que recebam pelas benfeitorias e pela terra nua. “Mas essa invasão atrapalhou a sistemática da negociação”, salienta. O presidente do Sindicato Rural contesta o número de índios. “Falam em 900, mas, lá mesmo, não tem nem 40”, diz.
Os produtores vivem a expectativa que a ordem judicial de reintegração de posse seja cumprida ainda neste mês. A última reintegração realizada no Estado foi em 30 de maio, na fazenda Buriti, em Sidrolândia. A ação resultou na morte do terena Oziel Gabriel, de 35 anos. O conflito ganhou projeção nacional e trouxe romaria de representantes do governo federal a Mato Grosso do Sul.