ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 21º

Interior

Pistoleiro se contradiz, mas não revela nome de mandante de morte de vereador

Jorge Almoas | 17/03/2011 19:15

O pedreiro Irineu Maciel, de 34 anos, negou durante depoimento na tarde de hoje no Fórum da Capital que a morte de Carlos Antônio Carneiro foi encomendada. Ele assumiu que disparou contra o vereador de Alcinópolis e que a vítima foi pega de surpresa, o que conta como qualificadora na acusação.

Durante quase duas horas, Irineu descreveu como conheceu o vereador, os motivos que o levaram a cometer o assassinato, o envolvimento dos outros dois acusados – Valdemir Vansan e Aparecido Souza Fernandes, mas manteve firme o argumento de que o crime não teve mandante.

Irineu contou ao juiz Aluízio Pereira dos Santos que esteve em Alcinópolis cerca de um mês antes do crime. Na ocasião, ele procurava emprego, mas não conseguiu. Quando abordou o então vereador Carlos Antônio Carneiro para conseguir uma passagem, disse ter sido humilhado.

“Ele me chamou de vagabundo, de mendigo. Por isso, resolvi matá-lo”, confessou Irineu. Ele acrescentou que ficou perseguindo o vereador, observando os horários que ele entrava na prefeitura e retornava para casa.

“Só não matei em Alcinópolis porque ele morava perto de uma praça, que vivia cheia de crianças”, falou.

Da primeira vez que esteve em Alcinópolis, Irineu passou oito dias, em uma pensão, com diária a R$ 15,00. Na segunda ocasião, foram quatro dias, na mesma pensão, com saldo total de R$ 60,00.

Questionado da primeira vez, Irineu disse não ter dinheiro. “Mas se não tinha dinheiro, como ficou no hotel?”, perguntou o juiz. “Não é que não tinha, era pouco e ia acabando”, tentou corrigir o pedreiro.

No depoimento, o pedreiro se contradisse sobre quando discutiu com o vereador e como conseguiu uma passagem doada pela Assistência Social de Alcinópolis. Primeiro, ele afirmou que esteve em Alcinópolis uma vez antes de discutir com o vereador. Mas depois, mudou a versão, afirmando que brigou com Carlos Antônio logo na primeira vez.

Sobre a passagem de ônibus para Campo Grande, Irineu disse que esteve na casa do pai de Carlos Antônio, Alcindo Carneiro, na quinta-feira à noite para fazer o pedido. Ele foi orientado a buscar uma passagem na Assistência Social.

No entanto, a requisição é datada de 1° de outubro de 2010, uma sexta-feira. Outra prova contra o pedreiro é a justificativa de voto feita em Alcinópolis no primeiro turno das eleições do ano passado.

“Eu troquei a passagem em um bar, e fui até Coxim. Lá uma mulher da prefeitura conseguiu uma passagem e voltei para Campo Grande”, explicou Irineu.

Arma, crime e fuga – O pedreiro contou que comprou o revólver do crime seis meses antes do fato – ocorrido no dia 26 de outubro do ano passado – para a própria segurança. No dia do crime, ele combinou com Aparecido de Souza Fernandes para pegá-lo próximo a um campo no bairro Serra Azul, região sul de Campo Grande.

Pelo transporte, Aparecido receberia R$ 15,00. Irineu falou para o amigo que iria receber um dinheiro por um trabalho realizado. O juiz perguntou por que Irineu não foi de mototáxi, uma vez que a corrida sairia o mesmo valor. “O Aparecido já fez outros ‘corre’ para mim antes”, explicou-se.

Enquanto esteve em Alcinópolis, Irineu conseguiu o telefone celular do vereador e do gabinete na Câmara Municipal. Em Campo Grande, ele ligou para Carlos Antônio, , disse se chamar Carlos Magno, um suposto empresário interessado em instalar um laticínio no município.

Para fechar o negócio, eles marcaram um encontro no Hotel Vale Verde ao meio-dia do dia 26 de outubro, data do crime. No dia do fato, eles esperaram por cerca de duas horas, em um bar próximo ao hotel.

“Você disse que não matou em Alcinópolis porque tinha muita gente. E no hotel, achou que era mais vazio”, questionou o promotor do Ministério Público, Douglas Oldegardo. Irineu se limitou a concordar com a cabeça.

Na hora do crime, Irineu ficou a cerca de quatro metros de Carlos Antônio quando disparou três vezes. Ele disse que o vereador não estava ao celular e que não viu quando se aproximou, o que configura surpresa, argumento válido para qualificadora por recurso que dificultou a defesa da vítima.

Depois de atirar contra Carlos Antônio, Irineu correu cerca de uma quadra, onde Aparecido havia estacionado a moto. “liga, liga depresa e vamos embora”, ordenou o pistoleiro. Eles foram perseguidos por policiais à paisana que passavam pelo local.

Ao juiz, Irineu disse que escolheu o hotel Vale Verde por conta da localização, próxima a saída para Sidrolândia e Aquidauana, e com várias ruas em contramão. Ele disse que o local dificultaria uma possível perseguição.

Na delegacia, Irineu disse que o mandante do crime foi o cunhado, Valdemir Vansan. Pelo crime, ele recebeu um adiantamento de R$ 3 mil, e após executar Carlos Antônio, receberia os outros R$ 17 mil.

Ele disse que falou certas coisas na delegacia por estar apavorado e com medo de apanhar. Um fato que chamou a atenção durante o depoimento foi o tom de voz muito baixo de Irineu e que ele, a todo momento, repetia “Oi?” a cada pergunta, como se buscasse tempo para encontrar a resposta.

O pedreiro deverá ser julgado por homicídio qualificado. Também na tarde de hoje, foi ouvido o terceiro envolvido, Valdemir Vansan. A família do vereador acompanhou o depoimento, e reforçou que não há verdade no que Irineu defende.

“Está mentindo. Nunca foi na minha casa”, disse Alcindo Carneiro, pai do vereador.

Nos siga no Google Notícias