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Interior

Preso por ameaçar testemunhas, falso médico vai a júri em duas semanas

Marx Honorato Ortiz senta no banco dos réus no dia 4 de novembro por morte de paciente

Helio de Freitas, de Dourados | 21/10/2020 18:12
Marx Honorato Ortiz está preso desde julho por ameaçar testemunha e advogada (Foto: Reprodução)
Marx Honorato Ortiz está preso desde julho por ameaçar testemunha e advogada (Foto: Reprodução)

Marx Honorato Ortiz, 41, o falso médico denunciado pela morte de um paciente de 56 anos de idade em 2014 em Paranhos, a 469 km de Campo Grande, vai a júri popular no dia 4 de novembro por homicídio.

O julgamento está marcado para 8h, no Fórum de Sete Quedas, comarca à qual pertence o município de Paranhos. Marx é réu por homicídio doloso (com intenção de matar), exercício irregular da medicina e falsa identidade.

Marx aguarda o julgamento recolhido no presídio de Naviraí desde julho deste ano. No dia 27 daquele mês, três dias após a Justiça decretar a prisão sua preventiva a pedido do Ministério Público, ele foi preso por policiais da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio no bairro Santa Emília, na Capital.

Depois de cursar medicina na Bolívia, mas sem habilitação para exercer a profissão no Brasil, o homem trabalhava no Hospital Municipal de Paranhos usando o nome e o CRM (Conselho Regional de Medicina) de um médico de verdade, residente em Campo Grande.

O falso médico tinha sido preso pela primeira vez em 26 de abril de 2017, mas em 27 de setembro de 2019 foi solto por habeas corpus do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Dez meses depois, voltou para a cadeia. Entretanto, o motivo da prisão mais recente não tinha sido revelado até agora.

Ameaças – Nesta quarta-feira (21), o Campo Grande News teve acesso ao pedido do Ministério Público e à decisão do juiz Vinicius Aguiar Milani. Marx Ortiz foi preso porque estava ameaçando testemunhas e a advogada da assistente da acusação.

Um dos alvos da ameaça foi o médico Marcel Marques Peres, de quem Marx Ortiz usava o nome e o número do CRM para exercer ilegalmente a profissão. “Doutorzinho de bosta, assume a bronca de Paranhos, ou vou te matar, tá avisado”, ameaçou o falso médico em mensagem enviada por celular às 16h05 do dia 23 de julho deste ano.

Cinco minutos depois, também através de mensagem de celular, Marx Ortiz ameaçou a advogada Eliane de Oliveira Trindade, assistente da acusação:

“Advogada f.d.p. você acha que vai me prender antes... você pode juntar quantas testemunhas e inimigos que vc quiser morto não vai em audiência... seus dias tá contado, vc vai pagar com a vida, sei onde vc mora, ta avisada”.

Menos de 15 minutos depois, enviou outra mensagem ameaçadora, dessa vez a um morador de Paranhos, citado no processo como informante e que declarou ser inimigo de Marx por ter sofrido atentado contra a vida, supostamente praticado pelo falso médico.

“Seu f.d.p. vc quer ser um inimigo, já tentamos te matar e te prender duas vezes Maria da Penha e pensão, dessa vez vc não escapa, vou te matar. Se eu não conseguir vou matar seu filho, sua filha e sua neta até vc aparecer e se eu for preso por sua causa tenho quem vai te matar”.

Trancada em casa – Ao Campo Grande News, Eliana disse hoje que desde então não sai mais de casa temendo ser morta, mesmo com Marx atrás das grades. “Levei um susto o dia que o condutor jogou uma caminhonete com placa do Paraguai em cima do meu carro. Foi logo em seguida das ameaças. De lá para cá, não saio mais”.

Temendo pela própria vida, Eliana Trindade pediu apoio da Seção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Mato Grosso do Sul. A denúncia foi encaminhada à Secretaria de Justiça e Segurança Pública pelo presidente da entidade Mansour Elias Karmouche.

No dia 3 de agosto, o delegado André Matsushita Gonçalves, chefe de gabinete da Sejusp, enviou ofício ao presidente da OAB informando que expediente havia sido encaminhado ao comando da Polícia Militar em Amambai “solicitando providências quanto à realização de rondas nas proximidades do endereço da vítima”.

A morte do paciente – Usando nome do médico Marcel Marques Peres, Marx Honorato trabalhava no hospital de Paranhos quando o paciente deu entrada, no dia 14 de dezembro de 2014. O paciente reclamava de dores de cabeça e disse que estava vomitando sangue.

Segundo o depoimento da filha da vítima, o falso médico fez eletrocardiograma, deu medicamento e liberou o paciente. Horas depois, o homem retornou ao hospital e mais uma vez foi medicado e liberado.

No início da noite, a filha retornou ao hospital com o pai e exigiu que ele fosse internado e transferido para Dourados ou Campo Grande. O falso médico afirmou em tom de grosseria que sabia o que estava fazendo e a questionou se era ela ou ele que havia feito medicina. Deixado em observação tomando soro, o paciente morreu horas depois.

O caso foi comunicado à polícia, mas só ficou esclarecido quando a intimação chegou ao verdadeiro médico. Em depoimento, Marcel Peres disse que se tratava de cidade onde nunca havia trabalhado.

A filha do paciente confirmou que ele não era a mesma pessoa que havia atendido seu pai. Já Marx Ortiz foi reconhecido na hora pela testemunha.

Sem intenção – A defesa do acusado afirmou no curso do processo que o fato de usar falso CRM e nome de outra pessoa não serve de prova para afirmar que Marx tinha intenção de matar o paciente. Alegando que ele é formado em medicina, mas em outro país, tentou desclassificar os crimes, mas o pedido foi negado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

O desembargador Luiz Claudio Bonassini da Silva afirmou que há nos autos a versão de que o acusado assumiu o risco de matar a vítima no momento em que optou por atendê-la na condição de médico sem possuir habilitação necessária. Por isso determinou que Marx fosse levado a júri popular por homicídio. A decisão foi mantida pela 3ª Câmara Criminal.

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