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Interior

Salvo da covid-19 aos "99 anos", Gutierre diz que já lutou até na 2ª Guerra

Sem contato de familiares, autoridades descofiam de nome, idade e profissão do morador de rua que foi curado do novo coronavírus

Lucia Morel | 01/06/2020 17:04
Gutierre diz estar bem e querer permanecer em Coxim. (Foto: Maurício Carvalho/Casa de Passagem)
Gutierre diz estar bem e querer permanecer em Coxim. (Foto: Maurício Carvalho/Casa de Passagem)

São várias incógnitas na vida de Gutierre Fernandes. Desde para onde ele irá agora que foi curado da covid-19, até sua idade, que cogita ser 99 anos. Nem quem é da família ele sabe. A certeza é uma só: andarilho e se alimentando de doações, ele venceu o novo coronavírus em Coxim, onde está no momento.

Por telefone, em seu portunhol, Gutierre afirmou ser índter nascido em 21 de janeiro de 1921 em Iapoque (AP) e ser indígena. Contou ainda que saiu do Estado por ser “muito pequeno” e que não pretende voltar para lá. Sobre a família, nada comentou.

Profissão? “Marino mercante, embarcação”, disse sem titubear em portunhol. Ele se refere à atividade de marinheiro de embarcações, que faz transporte de cargas por navios.

Ele inclusive apresentou às autoridades em Coxim, cidade a 260 Km de Campo Grande, uma carteira de combatente na II Guerra Mundial no posto de 2º Tenente. Também apresentou documentos de benefício federal, no valor de um salário mínimo, além de carteiras de idoso de outros estados, para passe livre em ônibus coletivos.

Idoso apresentou carteira de combatente da II Guerra, quando ocupou posto de 2º Tenente. (Foto: Reprodução)
Idoso apresentou carteira de combatente da II Guerra, quando ocupou posto de 2º Tenente. (Foto: Reprodução)

“Nós não vamos liberá-lo sem ter algum contato de familiar dele”, diz a coordenadora do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Ana Márcia Galvão Farias, que relata que o idoso não aparenta ter 99 anos de idade, apesar dos documentos e dele, afirmarem isso. “Ele parece ter bem menos”, ressalta.

O município está em uma busca ativa pelos familiares, mas até agora, nem sinal. Gutierre também pouco fala disso e até evita maiores detalhes. “Nosso intuito é enviá-lo para a família, mas até agora nada. Ele não fala dos familiares”, diz a coordenadora.

Sobre a verdadeira idade e identidade do idoso, ela fala que isso também está sendo verificado, já em alguns documentos o nome é Gutierre e em outros Guitierre e sua aparência não indica um senhor de 99 anos.  “Parece bem menos”, afirma Ana Márcia.

Ela conta também que, do que se sabe até agora, ele já “andou todo Brasil” e esteve em Coxim, dois anos atrás, quando passou dois meses em um hotel. Também passou por Rondonópolis e Corumbá, segundo as carteiras de idoso que ele apresentou.

Para Gutierre, a situação está das melhores, segundo afirmou para a reportagem. “Aqui bem melhor. Não fico sozinho, não tem bicho, tem com quem conversar”, ao comentar sobre estar na Casa de Passagem de Coxim. “Eu quero ficar aqui, não quero sair não”, afirma.

Sobre sua saúde, ele diz que “ainda tomando remédios, pra gastrite, dor e vamos ver como vai ficar”, ponderou, ao ser questionado sobre os sintomas da covid-19. “Agora estou bom, me cuidando mesmo”.

Caso – O idoso recebeu alta do Hospital Regional de Coxim no sábado (30), onde passou 14 dias. Quando chegou lá, estava com sintomas respiratórios e diarreia. Foi feito exame de tomografia computadorizada, que revelou a doença em estágio avançado nos pulmões, além do exame de covid-19, que havia dado positivo.

A médica infectologista Camila Bravo disse que ele foi tratado com “antibiótico, antiparasitários e corticoides e não fez uso de cloroquina em razão da idade, diabetes e da hipertensão, que são contraindicações”. Leia a matéria completa aqui.

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