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Testemunhas rendidas em assalto a carro-forte apontam falhas de quadrilha

Detalhes do crime frustrado foram contados pelas testemunhas após a morte de 5 integrantes do grupo

Geisy Garnes | 06/12/2019 09:45
Armas apreendidas com os bandidos (Foto: Divulgação)
Armas apreendidas com os bandidos (Foto: Divulgação)

Uma série de erros marcou a tentativa de assalto ao carro-forte da empresa Brink’s, entre Caarapó e Amambai na manhã de segunda-feira (2). Detalhes do crime frustrado, que acabou com a morte de cinco envolvidos, foram contados pelas testemunhas rendidas pelos assaltantes na rodovia MS-156.

O caminhoneiro, de 35 anos, contou que seguia pela MS-156 atrás do carro-forte, em sentido a Amambai, quando o assalto começou. Ele viu o momento em que o motorista da empresa de valores “de repente” saiu da pista, entrou na plantação as margens da rodovia e também quando os funcionários desceram e correram para longe do veículo.

Para a polícia, ele lembrou que só depois de ver a fuga dos funcionários, percebeu a presença dos bandidos. Flagrou os quatro homens armados perseguirem as vítimas e atirarem várias vezes em direção ao carro-forte. Assustado com os disparos, o caminhoneiro parou e foi surpreendido por um dos assaltantes.

Ao se aproximar, o bandido pediu que o motorista “ficasse tranquilo”, que não iriam fazer nada com ele e ordenou que usasse o caminhão para fechar a via. Depois, o assaltante mandou que ele descesse do veículo e deitasse na grama, ao lado do carro que estava sendo usado pelo grupo, um Jeep.

Enquanto isso, os bandidos tentaram explodir carro-forte. Foram duas tentativas, ambas sem sucesso. No depoimento, o caminhoneiro afirmou que o responsável pelos explosivos estava muito nervoso.

No meio da ação, uma caminhonete se aproximou da cena do crime. O motorista percebeu a situação e deu meia volta. Deitado no chão, o caminhoneiro viu os quatro bandidos atirarem em direção à testemunha e tentarem persegui-la de carro. No entanto, o Jeep não funcionou.

Os bandidos se desesperaram ao perceberem que não teriam como sair da rodovia. A ideia para a fuga veio de um dos assaltantes. “O caminhão leva a gente”. Eles então atearam fogo no Jeep e foram para o caminhão. Ao entrar no veículo, um dos suspeitos tropeçou e rasgou uma sacola, obrigando os comparsas a recolherem munições no meio da pista.

Depois disso, o caminhoneiro foi forçado a dirigir e orientado a “fechar” o primeiro carro que encontrasse. Mesmo relutante, ele seguiu a ordem do grupo e parou um Citroën C4 branco.

Quando desceram do caminhão, um dos assaltantes perguntou o nome do motorista, mandou que ele ficasse de cabeça baixa, não olhasse e por fim desejou boa viagem. “Vai com Deus. Segue viagem em paz”, teria dito.

Dois irmãos estavam no C4. Eles foram rendidos e obrigados a descer do veículo. Em depoimento, eles contaram que o bandido que assumiu a direção estava tão nervoso que não conseguiu dar ré no veículo e precisou perguntar como fazia isso. O bandido quase atropelou um dos comparsas na tentativa de fazer a manobra na pista.

Pouco depois, o grupo conseguiu fugir com o carro e o caminhoneiro deu carona aos dois irmãos até encontrar uma equipe policial para denunciar o caso.

Munições de fuzil apreendidas com o grupo (Foto: Divulgação)
Munições de fuzil apreendidas com o grupo (Foto: Divulgação)

Caça aos suspeitos – Logo após o crime uma força-tarefa foi montada para identificar os suspeitos. Com as investigações, a polícia identificou o traficante baiano José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, como mentor do assalto.

O bandido é apontado como o “Ás de Ouro” no baralho do crime feito pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia. Foragido da justiça desde 2014, ele é indicado como líder e criador do grupo criminoso de maior atuação do estado nordestino, o BDM (Bonde do Maluco).

O grupo foi localizado na noite de terça-feira (3) em uma fazenda da área rural entre as cidades de Aral Moreira e Coronel Sapucaia. Na manhã de quarta-feira (4), com uma ordem judicial nas mãos, as equipes entraram na propriedade e foram recebidos a tiros pelos bandidos. Quatro morreram no confronto, entre eles Zé de Lessa.

Um quinto envolvido conseguiu fugir, mas foi localizado horas depois em meio à mata da região. Mais uma vez, houve troca de tiros e o assaltante acabou ferido. Chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Com ele foram encontrados fuzis e uma metralhadora .50, que tem capacidade de perfurar carros-fortes e até aeronaves.

Também foram apreendidas em meio a mata duas escopetas, uma pistola e várias munições, que estavam junto com coletes a prova de balas usados pelos bandidos no assalto ao carro-forte. O sexto integrante do grupo foi preso e identificado como Alcindo Oliveira Coinete.

Funcionário da prefeitura de Coronel Sapucaia e proprietário da fazenda em que os assaltantes estavam escondidos, ele é investigado por dar apoio logístico ao grupo. Na delegacia, no entanto, negou qualquer envolvimento com o crime. Afirmou que conhecia Zé de Lessa apenas como marido da caseira de sua propriedade.

A mulher, no entanto, desmentiu a versão do padrão. Ela confirmou ser casada com o traficante baiano, mas contou que o conheceu na fazenda de Alcindo. Relatou que os dois tinham uma relação próxima e que o marido passava vários dias fora. Para a polícia, ela contou que sequer sabia o verdadeiro nome de Zé de Lessa.

Além de se apresentar como Miguel, Zé de Lessa também usava um documento falso em nome de João Luiz da Silva. Ao Campo Grande News, a delegada Larissa Franco Serpa afirmou que todos os documentos encontrados com os bandidos são falsos e por isso a identificação dos corpos é feita por exames no Imol (Instituto Médico e Odontológico Legal). Até o momento foram confirmados os nomes de José Francisco Lumes e Cleiton Alves dos Santos, de 37 anos.

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