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Cidades

Pais entram em choque depois de estupidez no trânsito

Redação | 18/11/2009 18:23

Três horas depois, a família ainda não sabia como dar a notícia ao avô João Afonso Pedra, de 52 anos. O neto caçula, Rogérinho, de apenas 2 anos, morreu no fim da tarde, depois de ser baleado durante uma discussão de trânsito, em Campo Grande.

"Eles eram apegados demais, vai ser um choque. Tudo foi uma estupidez, que mostra como uma pessoa armada pode ser perigosa", comenta o irmão do pecuarista, Oswaldo Pedra.

O menino chegava de Jardim, por volta das 11 horas de hoje. No banco traseiro da camionete L-200, estava também a irmã Ana Maria, de 5 anos. O tio, Aldemir Pedra Neto, de 22 anos, dirigia o veículo quando no cruzamento das avenidas Ernesto Geisel e Mato Grosso começou a briga com o empresário Agnaldo Gonçalves, que dirigia um Fox.

Segundo testemunhas, o pecuarista ainda pediu ao filho que acabasse com a discussão, mas sem sucesso. Depois de duas quadras com ofensas mútuas aos gritos, os dois desceram, trocaram chutes e pontapés, retornaram ao volante e metros depois o que começou com um bate-boca por motivo fútil, teve desfecho trágico.

Armado, Agnaldo sacou o revólver e, de dentro do carro (conta ele) disparou cinco vezes contra a camionete, municionou novamente a arma e fugiu.

Na L-200, ficaram o menino e o avô, baleados. A irmã assistiu a tudo em choque, conta a tia Giordana Mendonça, de 19 anos. "Ela chegou em casa transtornada, com sangue no rosto, falando que o irmão foi baleado", lembra.

Em poucos minutos as duas vítimas chegaram à Santa Casa, pelo próprio Aldemir. No hospital, diante do veículo estacionado na porta do Pronto Socorro, com 4 perfurações e vidros estilhaçados, quem passava e era informado sobre o que aconteceu reagia com palavras como "brutalidade", "absurdo".

O avô passou por cirurgia no maxilar, ferido pelo tiro. Rogério também enfrentou operação, mas teve uma parada cardíaca, foi levado ao CTI e não resistiu.

No fim da tarde, a mãe da criança, Ariane Mendonça, atendeu telefonema do Campo Grande News, que buscava notícias sobre o estado de saúde do menino, sem dizer uma palavra, a jovem começou a chorar e entregou o celular ao cunhado Aldemir que confirmou a notícia. "Ele morreu". Eram 16h20 da tarde.

Na delegacia, minutos antes, o autor soube que ficaria preso. Agnaldo se apresentou às 12h15, prestou depoimento até por volta das 16h e saiu da sala do delegado direto para a cela, depois da Justiça decretar prisão preventiva.

Na Santa Casa, a família de luto repetia uma palavra, "revolta". Além de atacar o homem que em uma reação brutal disparou contra um carro com duas crianças, os parentes tentavam compreender como uma briga de trânsito acabou de forma tão triste.

Durante toda a tarde, cerca de 30 pessoas da família e alguns amigos mais próximos foram mobilizados para doar sangue.

Ao lado de todos, a notícia do falecimento foi dada. Ao saber da morte do filho, o pai sentou no chão e chorou. Ele ficou sabendo da notícia que o filho havia sido baleado logo depois que tudo aconteceu, quando estava em Jardim, veio para a Santa Casa e desde então não preferiu não falar com a imprensa.

Outro irmão do pecuarista, Odilon Pedra, de 49 anos, resume o estado do pai de Rogério como "inconsolável".

Ana Cristina Barbosa Mendonça, 42 anos, também tia do garoto, chama o autor dos disparos de monstro, "não tem explicação".

"A gente pensou que o quadro era estável, não dá para acreditar", lamenta a tia Giordana."Isso acabou com a família, a gente não tem chão", diz Giordana.

Sem entender - O irmão de João Pedra, pecuarista conhecido na região de Jardim como Juca Pedra, diz que a graça dos avós sempre foram os netos, que vieram para Campo Grande morar com o casal, deixando os pais em Jardim. "Eles faziam tudo pelos meninos, o Rogerinho era doce, a felicidade da casa", conta Oswaldo Pedra.

Depois de um dia trágico, Oswaldo tenta tirar alguma lição. "Campo Grande tem uma intolerância no trânsito que precisa acabar. Não dá para sair por aí acabando com a vida dos outros. Outra coisa, uma pessoa que não tem nem controle para assumir uma direção, não pode sair por aí armado, é um absurdo".

A arma usada no crime, um revólver calibre 38, foi apreendido. O dono não tinha porte, apesar de apresentar o registro.

Sobre a notícia da morte do neto ao avô, Oswaldo se prepara. "Vai ser muito difícil, ele pergunta a toda hora pelo menino, vai morrer um pouco também hoje", resume.

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