ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Cidades

Para gestores da saúde, o que falta é dinheiro para atender demanda

Nadyenka Castro | 10/09/2012 08:36
Beatriz Dobashi, secretária estadual de Saúde, diz que "saúde é cara" e que é preciso "qualificar leitos". (Foto: Minamar Júnior)
Beatriz Dobashi, secretária estadual de Saúde, diz que "saúde é cara" e que é preciso "qualificar leitos". (Foto: Minamar Júnior)

Leandro Mazina é secretário municipal de saúde de Campo Grande. Beatriz Dobashi é secretária de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul. Eles são responsáveis pela gestão da saúde pública e afirmam que o modelo SUS (Sistema Único de Saúde) foi a maior conquista do cidadão nos últimos tempos e que os problemas existem porque não há dinheiro suficiente para fazer tudo que deveria ser feito. Assumem dificuldades também na contratação de médicos, falta de vagas para exames como ressonância magnética e concentração de atendimentos em determinadas especialidades.

Mazina explica que faltam médicos justamente nas especialidades mais procuradas: neurologia, neurocirugia, cirurgiões ortopédicos e pediatras.

Mas, a principal dificuldade em relação a este profissional é preencher horários nos postos de saúde 24 horas. “Falta clínico para determinados horários. À noite todas as unidades têm [clínicos], sábado e domingo também. O problema é segunda, terça, quarta à tarde”, fala o secretário. Horários em que os médicos preferem trabalhar nos consultórios.

Por causa desta e outras situações o atendimento pode não ser no tempo e como o paciente gostaria. Para dar mais agilidade, o ideal, conforme o secretário, seria contratar mais médicos, reduzir a violência urbana, o cidadão ter hábitos de vida mais saudáveis e usar corretamente o SUS.

SUS - À exceção da necessidade de atendimentos de urgência, o correto é ‘entrar’ no SUS pelo posto de saúde mais próximo da residência: as UBS (Unidade Básica de Saúde), onde há equipe do programa Saúde da Família.

Esses profissionais ‘cuidam’ de quem mora nas redondezas e podem ajudar a reduzir as filas nos UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), que, conforme Mazina, existem para atendimentos emergenciais. Cada equipe é responsável por determinada quantidade de moradores da região.

No entanto, muita gente procura as UPAs e hospitais públicos porque – por algum motivo – não foi na consulta marcada no posto mais próximo, não seguiu corretamente as orientações médicas ou ainda deixou para ir ao médico quando a dor já estava insuportável.

Nos postos de saúde a consulta é agendada. Segundo Mazina, não há mais filas como antigamente. O clínico faz o primeiro atendimento e, se for o caso, encaminha para especialistas.

Exames - Quando há necessidade de exames mais complexos, como a ressonância magnética, o médico faz um laudo, encaminha para Secretaria de Saúde e outro médico irá avaliar se o procedimento é realmente necessário. “Só tem dinheiro para 200 ressonâncias por mês. O médico regulador faz a triagem. Se tivesse dinheiro faria de todos. Acontece que temos que priorizar”, justifica o secretário municipal. “Mas com exames de sangue, por exemplo, não há problemas. Se tivesse dinheiro suficiente faria tudo”.

Exemplo da realidade quando é preciso exame de alta complexidade aconteceu com um empresário de 31 anos que preferiu não se identificar. Ao passar por avaliação de ortopedista por causa de lesão no joelho, o profissional afirmou ser necessária a ressonância magnética, mas que talvez não pedisse porque iria demorar muito para ser autorizado.

“A consulta foi em julho. Ele me disse que eu só faria a ressonância ano que vem”, fala o paciente. Na segunda consulta, o médico acabou pedindo o exame. Até o fechamento desta matéria o procedimento não havia sido agendado.

Médico - Conforme Mazina, são 1,1 mil médicos na rede municipal. Não há mais porque, segundo ele, “não tem na cidade”. De acordo com ele, são 240 pediatras e “o ideal seriam mais 30,40 pediatras”.

Em relação à ortopedia, são 27 no CEM (Centro de Especialidades Médicas) e mais os que trabalham na Santa Casa e no Hospital Universitário.

Urgência/ emergência - Para Mazina, a epidemia de violência na cidade sobrecarrega os atendimentos nas UPAs e hospitais. “E isso não vai reduzir tão cedo”.

São pacientes vítimas de acidentes de trânsito, esfaqueados, baleados, agredidos, que, devido à gravidade das lesões, muitas vezes são atendidos primeiro do que a pessoa que foi em busca de atendimento por causa de febre, por exemplo. É a classificação de risco. Modelo de atendimento que é utilizado no mundo inteiro que prioriza a vida, atendendo quem está mais grave primeiro.

Por causa disso, muitas vezes acontece do paciente com dor de cabeça que chegou primeiro ser atendido depois do que a pessoa que está com suspeita de fratura, por exemplo, e chegou há poucos minutos. E aí surgem as reclamações, e muitas. “É a característica do mundo, as pessoas querem tudo no imediato”, diz Mazina, que afirma que “se tivesse dinheiro, a classe média não precisaria de plano de saúde”.

Dinheiro - O SUS recebe dinheiro do Governo Federal, do Estado e do município, cabendo a este último a maior parcela de investimento, que é de 15% do orçamento. “Campo Grande investe entre 26 e 27%”, fala o secretário.

A secretária de Estado de Saúde, Beatriz Dobashi, explica que o repasse da administração estadual aos municípios é feito seguindo critérios como população, serviços oferecidos e quantidade de equipes do PSF. “Em 2006 foram R$ 16 milhões. Até junho deste ano já foram R$ 45 milhões, então passamos de R$ 16 milhões em 2006 para R$ 90 milhões em 2012”, fala Dobashi. “A gente faz milagre”.

Leandro Mazina é secretário municipal de Saúde e diz que violência urbana e procura por determinadas especialidades complicam o atendimento. (Foto: Pedro Peralta)
Leandro Mazina é secretário municipal de Saúde e diz que violência urbana e procura por determinadas especialidades complicam o atendimento. (Foto: Pedro Peralta)

Pode parecer muito dinheiro quando se fala em milhões, mas, quando se coloca na ponta do lápis tudo que é gasto, ainda é muito pouco, dizem os gestores. Com o montante que tem, os municípios são responsáveis por quase tudo relacionado a atendimentos: a Atenção Básica.

Cabe ao Estado repasse de dinheiro, gestão de alguns hospitais, da hemorrede, laboratórios, formação de profissionais para área pública, fiscalização (particular e público) e também atendimentos especializados em hospitais.

Distribuição - Quem coordena a distribuição de vagas em hospitais para atendimento especializado é o Estado. Para evitar a concentração na Capital, foi feita divisão em 4 macrorregiões (Corumbá, Campo Grande, Três Lagoas e Dourados) e 11 microrregiões.

Estes quatro municípios recebem pacientes das cidades próximas e cada um deles é responsável por determinadas especialidades.A Santa Casa é o único hospital no Estado que atende a todas.

A secretária explica que faltam vagas pontualmente porque “há alguns serviços com demanda muito grande e outros com deficiência de oferta”. Assim como Mazina, Beatriz também afirma que a procura é grande por cardiologistas, neurologistas, endocrinologistas. “A população está envelhecendo com hábitos de vida não tão saudáveis”, diz.

O resultado da combinação mais tempo de vida com sedentarismo, por exemplo, é mais gente em busca de médicos por causa de diabetes, Acidente Vascular Cerebral, infartos, crises de hipertensão.

Há casos que são resolvidos na Atenção Básica e outros que são encaminhados para hospitais. Em alguns casos pontuais é preciso mais vagas e o questionamento, conforme Beatriz é: “Estamos oferecendo pouco [leitos]? Os pedidos estão normais ou demais?”

Hospitais - O Estado tem convênio com 69 nosocômios. O Hospital Regional Rosa Pedrossian é o único exclusivo da administração estadual. São 12 unidades no interior com leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em Ponta Porã, Nova Andradina e Corumbá (10 em cada).

“A gente acha que não faltam leitos, falta qualificar leitos”, afirma Beatriz. E aí a gente volta na situação já descrita: para algumas especialidades a demanda é grande e para outras não.

Para melhorar a situação da saúde, o Estado tem aumentado número de leitos, reformado setores de hemodiálise e trabalhado com o Hospital São Julião, na Capital. “O São Julião funciona como retaguarda do Hospital Regional, Vão para lá pacientes que já estão em condições melhores, mas que ainda precisam de manutenção hospitalar”.

SUS - A secretária de Estado explica que a Constituição Federal de 1988 criou o Sistema Único de Saúde, com responsabilidade para as três esferas administrativas e que o orçamento seria dividido em três partes iguais. “Se isso fosse verdade receberíamos o dobro”. “Antes de 88, transplante era inimaginável no sistema pública, ou pagava ou morria. Agora não”.

“A saúde é cara”, define Beatriz, explicando que o conjunto de situações faz com que seja preciso sempre mais investimento. Além das diversas situações já citadas, tem ainda as cobranças dos médicos por equipamentos com mais tecnologia e o fato de muitos pacientes “darem valor para hotelaria e não para a farmácia, para o equipamento”, diz a secretária explicando que o atendimento prestado pelo SUS é mais importante do que a estrutura oferecida.

Nos siga no Google Notícias