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Cidades

Proposta é diferenciada, mas alunos ainda resistem ao ensino integral

Há maior índice de transferência para escolas regulares principalmente em comunidades carentes, onde jovens precisam trabalhar.

Anahi Gurgel | 13/01/2018 08:49
Alunos de escola em tempo integral de Campo Grande. Em algumas unidades, procura ainda é pequena. (Foto: Divulgação/SED)
Alunos de escola em tempo integral de Campo Grande. Em algumas unidades, procura ainda é pequena. (Foto: Divulgação/SED)

Disciplinas eletivas, acolhimento diário, aulas experimentais de música, dança e esportes, projetos de vida e tutoria. Há tantos diferenciais nas escolas de ensino em tempo integral em Mato Grosso do Sul quanto dificuldade em segurar os alunos matriculados: muitos abandonam a dedicação total aos estudos para trabalhar e aumentar a renda da família.

Esse é o principal motivo dos estudantes solicitarem a transferência para unidades regulares, segundo avalia Maria Gorete Siqueira Silva, coordenadora do ensino médio em tempo integral, ligada à SED (Secretaria Estadual de Educação).

Em 2017, foram ofertadas 3.500 vagas para as 12 escolas integrais de todo Mato Grosso do Sul, e terminou com 3.329 matriculados. “Sem abandono e evasão, e sim pedido de transferência para escolas regulares, porque o aluno achou cansativo o ensino integral ou, principalmente, teve que sair para trabalhar”, explica.

É o caso de Kalicson Machado, 16. Por quatro anos, ele estudou em tempo integral na Escola Estadual Manoel Bonifácio Nunes da Cunha, no Jardim Tarumã, em Campo Grande.

“Vou mudar de escola porque decidi trabalhar neste ano. Estou com o coração apertado, terei que deixar meus amigos e a banda de música, que eu adoro. Estou fazendo isso por causa de recursos mesmo”, disse o jovem, que inicialmente vai ajudar o padrastro na área de jardinagem.

“O ensino integral é ótimo, mas meu filho insistiu. Quer trabalhar para comprar as coisinhas para ele e eu não apresentei mais resistência. Não queria que ele saísse”, comenta a mãe, Raquel Machado Barboza, 37, funcionária pública.

Kalicson na saída da escola de tempo integral, no Jardim Tarumã, onde foi matriculado por 4 anos. Saiu para trabalhar. (Foto: Paulo Francis)
Kalicson na saída da escola de tempo integral, no Jardim Tarumã, onde foi matriculado por 4 anos. Saiu para trabalhar. (Foto: Paulo Francis)

Metodologia inovadora– Para Silvana de Souza Ramos, 44, diretora da escola, é difícil elencar tantas vantagens atreladas ao ensino integral. A unidade, por exemplo, oferece a metodologia desde 2008, antes mesmo da nova proposta apresentada pelo MEC (Ministério da Educação), em 2016.

“Nesse sistema, os estudantes se dividem entre as disciplinas da base nacional comum, as eletivas, aulas experimentais, projeto de vida, tutoria. É um ensino diferenciado, fortalecendo a pesquisa, despertando o potencial dos alunos, seus talentos, com suporte à escolha da profissão”, ressalta.

Também merece destaque a estrutura física que essas escolas mantêm, com laboratórios e refeitórios e toda uma infraestrutura determinante para o melhor o aprendizado dos estudantes, como destaca Silvana.

Na unidade, são desenvolvidas ações como a banda marcial da escola, que tem à frente o maestro Nilson Almiro Marques. “A iniciativa teve início em 2000 e deu tão certo que culminou na criação de um instituto próprio da escola, voltado à educação, assistência social, esporte, cultura, lazer, saúde, que atende alunos e a comunidade em geral”, explica ele.

Silvana de Souza, diretora da Escola Manoel Bonifácio Nunes da Cunha. "Somos uma família". (Foto: Paulo Francis)
Silvana de Souza, diretora da Escola Manoel Bonifácio Nunes da Cunha. "Somos uma família". (Foto: Paulo Francis)

“Aqui, estimulamos os cuidados e a atenção de uma verdadeira família. Diariamente, fazemos uma acolhida aos estudantes, com atividades dinâmicas que vão desde um oferecimento de café da manhã, até recepção com tapete vermelho. Eles adoram e quebram seus paradigmas em relação ao ensino integral”, avalia a diretora.

No local, foram 160 matriculados em 2017. Para este ano, estão preenchidas 135 e ainda restam 129 abertas.

Novas unidades - Em 2018, Mato Grosso do Sul vai receber 5 novas escolas com ensino em tempo integral, passando para 16 unidades.

Serão mais 3 unidades em Campo Grande, que já possui 8 escolas, mais uma nova em Ponta Porã e outra em Dourados - onde haverá substituição de uma unidade que não atingiu o número mínimo de matriculados em 2017. Já existem unidades em Corumbá, Dourados, Maracaju e Naviraí. 

De acordo com exigências do MEC, a unidade precisa ter no mínimo 120 alunos para ser aprovada como ensino integral no primeiro ano do ensino médio. Em três anos, deve atingir a marca de 350 alunos. Algumas já extrapolaram esse número antes mesmo desse período, como a Escola José Barbosa Rodrigues, que possui 470 matriculados.

“Muita gente não entende a proposta do ensino médio em tempo integral. Confundem com mais quantidade de aulas, ensino cansativo. Mas há essa mescla entre a base comum e a diversificação, com interdiciplinaridade, com estudo orientado e resultados obtidos no aluno e em sua família.”, afirma Maria Gorete.

O direcionamento de recursos feito pelo Governo Federal soma R$ 2 mil por aluno ao ano. As 12 escolas receberam cerca de R$ 10 milhões em investimentos pelo MEC e as novas unidades receberão em torno de R$ 3 milhões.

O ano começou com 2.116 novas vagas para o ensino médio em tempo integral nas escolas da rede estadual de ensino na modalidade.

Para este ano, serão atendidos 5.616 jovens estudantes pela modalidade, que vem sendo aplicada no estado por meio do Programa Escola de Autoria. O cronograma vai até 12 de janeiro para quem já fez a pré-matrícula. No dia 14 de janeiro haverá nova designação para as vagas remanescentes com prazo que se estenderá até dia 19.

Confira a galeria de imagens:

  • Atividades de biologia no ensino médio da E.E. Manoel Bonifácio.
  • Alunos da Banda Marcial, projeto desenvolvido na unidade.
  • Lanches e confraternizações são comuns no ensino integral.
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