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Em Pauta

Aliança Tequila-Caipirinha entre as duas maiores economias da América Latina

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/05/2015 08:25
Aliança Tequila-Caipirinha entre as duas maiores economias da América Latina

Brasil e México se encontram. As duas maiores economias da América Latina podem criar a Aliança Tequila-Caipirinha.

O Brasil busca parceiros para aliviar suas penúrias. Após a visita da missão chinesa, Dilma Roussef foi ao México e no próximo mês irá aos Estados Unidos. O México, embora muito mais estável que o momento brasileiro, também não atravessa bons ventos. Com um presidente em baixa, a crise do petróleo deixou sua economia na modorra e postergou suas previsões de forte crescimento. A euforia das profundas reformas estruturais que inauguraram o mandato de Peña Nieto foi seguida pelo desencanto dos ajustes e os escândalos imobiliários. O resultado é um país que respira, no momento, alguma dose de fragilidade econômica e política. Os dois países estão em processo de fadiga; o nosso mais que o deles. Mas são duas grandes economias que podem fomentar laços comerciais muito mais fortes que os atuais.

Há uma década poucos produtos mexicanos eram vendidos no Brasil. Nos últimos anos eles trabalharam em conjunto e venceram muitas resistências e concorrências. Duplicaram seu intercâmbio comercial. Juntos reúnem 62% do PIB da América Latina. O fluxo comercial é de pouco mais de US$ 9 bilhões.

O Brasil é o oitavo parceiro comercial do México e o quinto destino das exportações. Grandes empresas mexicanas como FEMSA (Coca Cola), Cinépolis, Claro e Bimbo conseguiram se estabelecer em terras brasileiras. As empresas mexicanas olham para o Brasil como o primeiro lugar para investir na América Latina, mas o Brasil tem o México em quinto lugar em seus investimentos. O Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos, que está sendo denominado pela imprensa mexicana de Aliança Tequila-Caipirinha, é a primeira iniciativa para o estreitamento de relações comerciais entre as duas potências. O Brasil sempre privilegiou a Argentina e o México sempre esteve de costas para a América Latina, com os olhos voltados para os Estados Unidos. Deixarão de ter olhares uni-direcionados?

Aliança Tequila-Caipirinha entre as duas maiores economias da América Latina
Aliança Tequila-Caipirinha entre as duas maiores economias da América Latina

O Haiti sempre foi aqui. Os laços não explicados entre o Brasil e o Haiti.

A xenofobia começa a tomar conta de parte da imprensa brasileira. As manchetes procuram aterrorizar a população citando números elevados de haitianos entrando ilegalmente no Brasil. Em uma seriam 3.000. Em outro jornal o número é de 38.000. Um terceiro diz que passaram pelo Acre em apenas dois dias mais de 300 haitianos. A Agencia Brasileira de Informações - Abin, entrou no processo de chegada dos haitianos em massa para acabar com o poder dos "coiotes" - agenciadores da entrada ilegal de haitianos no Brasil. E o Ministério da Justiça tomou a decisão de aumentar o número de vistos para que eles entrem legalmente no nosso país. O terror é sempre o mesmo - os haitianos tomarão o emprego dos brasileiros. Aliás, esse é um argumento universal da xenofobia: os brasileiros não podem entrar nos Estados Unidos livremente porque tomarão emprego dos branquinhos norte-americanos, também não podem entrar em lugar algum da Europa pelo mesmo motivo. Os africanos não podem arrebentar o Muro de Ouro europeu, os mexicanos não podem quebrar o Muro da Fronteira.

Todavia, há algo mais entre o Brasil e o Haiti que raramente é contado. Com a Revolução Haitiana, que começa em 1791, abre-se um novo mercado para o açúcar brasileiro. E essa lavoura em crescimento necessitou de braços. E com a riqueza proporcionada pela cana-de-açúcar, o Brasil eleva a produção de algodão e inicia o cultivo do café. Só o Rio de Janeiro recebia 800 mil escravos africanos nesse período. Há um crescimento estupendo do tráfico de almas africanas. E esse ciclo de prosperidade brasileira começou com a Revolução Haitiana. Para o bem, prosperidade e riqueza; ou para o mal, tráfico de africanos; o Haiti sempre esteve aqui.

Aliança Tequila-Caipirinha entre as duas maiores economias da América Latina

A imigração da fome e as pessoas que vivem no limite.

Uma família que ignora o idioma do país onde sonha viver. Fogem da fome, das guerras, da miséria. Vivem no limite. Após passar pelo desespero da viagem buscarão a sobrevivência em seu novo país. Venderão nas ruas todo tipo de bugigangas. Fugirão das batidas policiais. Tentarão não morrer de fome e desespero. Talvez prosperem, e essa melhoria nas condições de vida tem um só nome: a venda de drogas. Ele com as drogas, a esposa com trabalhos domésticos e os filhos "ao Deus-dará". Vivem em um equilíbrio precário. As circunstâncias e fatalidades ameaçam a sobrevivência. Ressurgirão a violência do país de origem, as intimidações e os velhos fantasmas. Acrescidos de um novo fator: o preconceito racial e a xenofobia. E o antigo guerreiro ressuscitará em alguém que só aspirava a normalidade, que havia desertado do medo. O sentimento retorna para que ele assuma sua antiga natureza, para que o sangue volte a escorrer e para matar ou morrer.

Sim, essa é uma família africana. Fugindo da fome. Há 200 mil anos eles talvez tenham feito o mesmo percurso. Saíram das savanas da África possivelmente devido à seca e a fome. Até hoje o ser humano foi incapaz de resolver esse problema elementar que é a fome. Não lhe faltou tecnologia e inteligência. Falta-lhe solidariedade e se entender como um homo sapiens contemporâneo. Não deveria ser chamado de "homo sapiens" (homem-sábio) e sim de "homo insatiabile" (homem-ganancioso).

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Não se iludam, temos um Congresso Nacional formado por bancadas de interesse privado e não de partidos políticos.

Os números são claros. Em 2014, no Brasil, as dez empresas que mais doaram para as campanhas eleitorais para ao Congresso Nacional elegeram 360 deputados de um total de 513, isto é, 70% da Câmara Federal. O congresso Nacional de 2015 não está formado por bancadas de partidos políticos, e sim por bancadas de interesses privados que estão distribuídas por todos os partidos. A bancada ruralista é composta por 374 deputados federais- sendo 118 deles do próprio agronegócio -, distribuídos por 23 partidos. A bancada dos banqueiros conta com 197 deputados e se distribui por 16 partidos. A bancada dos frigoríficos tem 162 deputados alojados em 21 partidos. A bancada das mineradoras tem 85 deputados em 19 partidos. A bancada da bebida alcoólica conta com 76 partidos em dezesseis partidos. Isso para falarmos apenas das maiores bancadas de interesses privados e sem nos referirmos, por exemplo, à bancada evangélica ou a da bala.

A realidade é que a composição atual do Parlamento brasileiro é de 70% de empresários urbanos e de fazendeiros. É o congresso que o dinheiro comprou. É fruto da lei eleitoral, inspirada no modelo norte-americano que permite que as empresas criem vínculos diretamente com os candidatos, sem qualquer intermediação dos partidos. Também por isso os partidos estão se esvaindo.

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Vivemos a lógica do ganha-primeiro-depois-vê.

Um grupo de sindicalistas, ultra esquerdistas e católicos se reuniu e formou o PT. A tomada do poder se deu em dois momentos articulados: um ciclo insurgente e destituinte, seguido de um ciclo institucional e constituinte. Embora os governos petistas venham colhendo sucessos eleitorais consecutivos, as limitações dos processos começam a travar o aprofundamento e mesmo a continuação das mudanças por eles preconizadas. Fazem um meia-volta-volver com um rumo inicial ao encontro de tudo que destituíram em seus áureos tempos de insurgência. Os efeitos do estancamento do boom das commodities têm demonstrado quão malsucedido tem sido o projeto de diversificação produtiva, a capacidade do governo de mobilizar produtivamente a sociedade e requalificar o desenvolvimento para além da indústria extrativista.

Petistas, seus aliados e oposicionistas parecem iguais na vã tentativa de montar a máquina eleitoral para vencer as eleições, na lógica do ganha-primeiro-depois-vê. Não há planos, não há projetos. Inventam balelas como a reforma eleitoral pensando exclusivamente em sucessos futuros. Vitórias para que? Para o mesmo de agora com outras caras?

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