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Em Pauta

As bebedeiras de vikings, cristãos e muçulmanos

E a taça vai para...

Mário Sérgio Lorenzetto | 12/03/2019 09:25
As bebedeiras de vikings, cristãos e muçulmanos

Ao longo da história das bebidas alcoólicas - e das bebedeiras - sempre apareceu alguém querendo "colocar água no chopp", os inimigos das bebidas sempre foram estridentes. Mas sempre perderam a contenda.
A indagação do título - "E a taça vai para..." - tem uma resposta fácil e inequívoca: os vikings foram beberrões imbatíveis. Odin não bebia nada além de vinho. Na verdade, ele não consumia nada além de vinho, nem mesmo um queijinho como tira-gosto. A Edda poética - que norteava seus costumes - é bastante firme nesse ponto.
Pode parecer estranho que uma divindade escandinava fosse devotada ao vinho, já que não era um produto local. O vinho era a bebida mais cara que um viking rico podia comprar. Tinha de sair da França ou da Itália. Vinho era um símbolo de status, de modo que Odin, o principal deus no panteão viking, precisava ostentá-lo. O rei dos deuses não podia beber cerveja, porque pegaria mal.
Também pode parecer estranho que Odin não comesse nada. Vinho com estômago vazio faz mal. O fato dele só beber vinho, talvez explique seu nome. Odin significa "o frenético" ou "o extasiado".
A bebida e a embriaguez não precisavam achar seu lugar na sociedade viking. Elas eram essa sociedade. Bebida era autoridade, família, sabedoria, poesia, militarismo e destino.
Devia ser bem difícil ser um viking abstêmio. Não a toa, não há registro de alguém assim. E só havia três bebidas. O vinho, é claro, que era extremamente caro; o hidromel, mel fermentado, doce e razoavelmente caro. Mas quase todo mundo,o tempo todo, só bebia cerveja. É bem provável que fosse mais forte que as atuais, tinha 8% de teor alcoólico, era escura e maltada.

As bebedeiras de vikings, cristãos e muçulmanos

A bebida e os primórdios do cristianismo.

A bebida no Novo Testamento esta ligada a três figuras santas: São João Batista, Jesus e São Paulo. João tornou legítimo o caminho de Jesus. O filho de Deus criou uma nova visão de mundo e Paulo a espalhou, administrou e foi o responsável por sua logística. É por isso que sempre enalteci São Paulo. Seu papel era como cuidar da comida em um campo de batalha. Vital, mas pouco reconhecido.
João Batista era abstêmio. De acordo com o evangelho de Lucas, a mãe o havia tornado um "nazireu" - uma pessoa a serviço de Deus, que usava cabelo comprido, abstêmio e não comia qualquer alimento feito com uva. João certamente preenche os requisitos de um nazireu. Vivia a quilômetros de uma taberna ou do barbeiro mais próximo.
Jesus não era nazireu, não importa o que digam as teorias mais excêntricas. Ele começou a carreira em uma festa com bebida. O primeiro milagre foi um casamento em Caná. É uma história simples e poderosa. Jesus está na festa e acaba a bebida. Então, ele transforma água em vinho. Mais de quinhentos litros. O vinho é descrito como delicioso. Os primeiros cristãos viam o vinho como uma coisa boa. Jesus providenciar quinhentos de vinho é um milagre a ser celebrado.
Também há a Última Ceia, o ritual central dos primórdios do cristianismo. É todo baseado em beber vinho, em conjunto, em comunhão. Jesus toma vinho e determina que seus seguidores o façam também. São suas as palavras: "Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em minha memória".
Mas o problema é que Paulo nota que os cristãos estavam se embebedando na comunhão. Ele deixa claro que devem beber, mas não embriagar. Deve ter sido um choque para os coríntios que ouviam Paulo. Esse santo homem tinha o costume de ficar escrevendo cartas e mais cartas para as pessoas dizendo que não se embebedassem. Estava preocupado com a reputação dos cristãos.

As bebedeiras de vikings, cristãos e muçulmanos

A bebida no Oriente Médio muçulmano.

De acordo com o Corão, o Paraíso contém rios de vinho. A sura 47,15 é bem clara nesse ponto: "Eis aqui uma descrição do Paraíso, que foi prometido aos tementes: lá há rios de água impoluível; rios de leite de sabor inalterável; rios de vinho deleitante....". E, caso um rio de vinho não seja o suficiente, na sura 83 o Corão promete que o bom muçulmano também receberá um frasco selado de vinho tão maravilhoso que até o lacre cheira a almíscar.
Todavia, essa bela ideia vai mudando um pouco com o tempo. Tanto os estudiosos como os tradicionalistas parecem concordar (pelo menos uma vez na vida) que os mandamentos a respeito do vinho foram ficando mais estritos conforme o tempo passou.
Quando o Corão se volta contra o vinho, é de forma bastante suave. Há uma determinação para não fazer as preces embriagado, o que parece razoável, mas também alguns supõem que, nessa época, as pessoas andavam bêbadas boa parte do tempo.
No entanto, houve uma briga entre os seguidores de Maomé como resultado direto da bebida. Uma pessoa jogou um osso de cordeiro outro. Foram consultar uma vez mais e voltaram com isso: "Ó fiéis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às pedras e as adivinhações com setas são manobras abomináveis de Satanás. Evitai-os, pois, para que prospereis". A maior parte dos muçulmanos usa esse verso como decisivo. A bebida é obra de Satanás para essa maioria. Mas não resta dúvida que a sura 47,15, aquela que fala em um rio de vinho no Paraíso, é um argumento muito forte.

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