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Em Pauta

Ascensão e queda do Império da Carne

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/03/2017 12:57
Ascensão e queda do Império da Carne

O Brasil é autofágico. Talvez sejamos o único povo a desejar e trabalhar a própria destruição. Não há país no mundo onde os ricos e vitoriosos sejam tão odiados como em terras brasileiras. Uma breve sequência explicita o argumento. Um dia fomos o Império do Futebol. Não percebemos as mudanças ocorridas nesse esporte e fomos destruídos, categoricamente, pelos alemães no fatídico 7x1. Derrota de nossa arrogância e ignorância.

Nossos concorrentes comemoraram a derrota e se assenhoraram dos mercados mundiais de compra-venda de jogadores. Em seguida, veio a destruição do Império dos Políticos. Nenhum país do mundo massacrou - e continua a destruir - seus políticos como o Brasil. Em qualquer lugar políticos são derrotados ou presos por corrupção. Nenhum destrói como o nosso. E não é um apanágio exclusivo para democratas, os nossos ditadores também já sofreram os mesmos dissabores.

No Brasil, todos estão na mesma vala - a da putrefação. Quantos militares e civis no período ditatorial não eram homens bem intencionados e corretos? Foram todos, sem exceção, demonizados. Quantos políticos no período democrático sacrificaram suas vidas tranquilas pela causa comum? Não importa, todos estão sendo arrastados pela ânsia de uma ideologia que pleiteia uma "política dos técnicos e ricos honestos". Que por sua vez, serão os próximos a sofrer as agruras de ver seus nomes destruídos. O país voltou à sua insignificância política histórica. O posto simbólico mais almejado pelos políticos brasileiros era a conquista de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

Após os escândalos, não temos força para sonhar com a participação no mundo dos países poderosos. No recente ranking dos mais poderosos, construído pela US News na World Report, após ouvir 21.000 empresários, economistas e políticos em 80 países, nem mesmo somos citados. Com a derrocada do Império dos Políticos sucumbiu o Império das Empreiteiras, organização onde a entrada de anjos é proibida em todos os países do mundo. Também soçobrou em mares bravios, e do Petróleo.


Chegou a hora da carne. O Império da Carne já estava na mira de parcela da população há alguns anos. A polícia apenas deu voz e argumentação a eles. É bem verdade que esse império foi construído com dinheiro público, do BNDES. Sobre esses tijolos deveríamos ter mais cuidado e transparência. Eles não deveriam ser assentados sobre o prédio do compadrio. Por outro lado, nossos criadores de animais - boi, frango e porcos - durante anos, travaram lutas homéricas contra os frigoríficos. Muitos não perceberam que a conquista de mercados mundiais passava pela competência dessa indústria. Foram os políticos e industriais brasileiros que tomaram os mercados abertos pelos escândalos da "vaca louca", "da gripe aviária" e outras doenças que possibilitaram a abertura para essa conquista. O resultado foi enriquecimento de todos. Até agora, a verdadeira e indisfarçável conta era um ganha-ganha generalizado.

Em toda nossa história, jamais vimos o preço da arroba do boi, da carne do frango ou suína atingir os patamares atuais. Mas todos eles - criadores e industriais - estavam sob a mira de muitos. O sucesso era ofensivo. O primeiro momento das denúncias - as que importam são exclusivamente as que destroem a qualidade das carnes - foi recebido com alegria e alarde por milhares de brasileiros. Não toleramos o sucesso de quem está ao lado. A verdade é que raramente comemos carne de má qualidade.

O mercado europeu acaba de fechar as portas para nossas proteínas das carnes. Esse fato está em todos os jornais europeus e norte-americanos. A China, principal mercado de nossas carnes, fechou as portas para nossos produtos das carnes. Quantos outros mercados seguirão essa tendência? Só há uma resposta verdadeira: não serão poucos. O Império da Carne ruiu.

Resta apenas uma indagação: é possível reconquistar posições em todos os impérios em queda? A história mostra que só se salvam os mais criativos e competentes. Mas a despesa para a reconstrução é do tamanho de um Everest cheio de dólares. Qual o próximo império a ser destruído?

Ascensão e queda do Império da Carne
Ascensão e queda do Império da Carne

Como empresas superaram o pior estigma, o de serem nazistas?

A voraz máquina dos mercados já está "engolindo" o Império da Carne brasileiro. China, Europa e Coréia do Sul largaram na frente. Deixaram de comprar as carnes brasileiras. O estigma posto é o de que produzimos carnes de péssima qualidade. A notícia está em todos os jornais europeus e norte americanos. Mas, podemos ter alguma esperança de recuperarmos, ainda que minimamente, os mercados mundiais? Há um estigma ainda pior que o da má qualidade - nada é pior que ser acusado de nazista. Algumas empresas que estiveram diretamente vinculadas com o nazismo conseguiram sair desse fosso profundo e fétido (que em nada se assemelha ao da carne brasileira, que é de excelente qualidade). Temos de combater o estigma que está posto em nossas carnes e não dormir em berço esplendido.


1. A IBM foi a organizadora do Holocausto. Sem seus cartões perfurados, uma tecnologia pré-computador, os nazistas não teriam conseguido automatizar e acelerar as fases da mortandade que foram bem consolidadas pela empresa: identificar, excluir, confiscar, "guetizar", deportar e exterminar. Um longo e difícil processo que só teve os resultados esperados pelos nazistas graças à qualidade do trabalho da IBM.
Como superou o estigma? Dizendo que não tinha muita informação sobre a guerra e que perdeu o controle de seus negócios na Alemanha nesse período. Nunca admitir o estigma é uma lição.


2. A Krupp era uma gigantesca empresa que controlava parte expressiva da produção do aço alemão. Tornou-se ainda maior com a guerra, não apenas por ter fechado com o nazismo desde fevereiro de 1933, em seus primórdios, como por ter o quase monopólio de todo o aço produzido durante a guerra. No tribunal de Nuremberg, seu dirigente principal, Alfried Krupp, foi condenado.
Como superou o estigma? Uniu-se a Thyssen, outra grande siderúrgica, formando a ThyssenKrupp. Entrem em um elevador de qualquer prédio do mundo e leiam a placa de identificação. Dificilmente não estará o nome dessa empresa. É globalizada e mantêm a fama de melhor do mundo. Unir-se a outras empresas do mesmo ramo é uma eficaz medida de sobrevivência.


3. A Fanta, da Coca Cola, não é gay, como a piada afirma, é nazista.
A subsidiária da Coca Cola na Alemanha antes da guerra só perdia em vendagem para a matriz, nos EUA. Com a guerra não conseguia obter os insumos necessários para a produção da bebida. Criaram um novo produto com que tinham à mão - laranja, maçãs e uvas - nascia a Fanta. Enquanto nos EUA a matriz forjava a imagem vinculando sua força com a do soldado norte americano, a Fanta esteve diretamente vinculada à do soldado alemão. Para piorar, foi acusada de usar mão de obra dos escravos do nazismo.
Como superou o estigma? Pediu desculpas publicamente. Prontamente aceitas devido aos interesses dos EUA.


4. Os nazistas gostavam muito dos chocolates da Nestlé. A empresa obteve contratos fabulosos com os nazistas. Usaram mão de obra escrava em toda a sua produção alemã.
como superaram o estigma? Com muito dinheiro. Depositaram US$14 milhões em um fundo para as vítimas do trabalho escravo.


5. A empresa automobilística BMW foi uma das que mais dinheiro ganhou com os nazistas. Chegou a trabalhar com mais de 30 mil escravos do nazismo.
Como superou o estigma? Produziu um documentário sobre a família Quandt, proprietária da BMW, escancarando sua relação com o nazismo.


6. Henry Ford foi um gênio, mas odiava os judeus. Comprou um jornal para expor o antissemitismo. Os textos desse jornal viraram um livro famoso na época - "O Judeu Internacional". Taõ importante que Adolf Hitler, na primeira edição de sua obra propulsora do ódio - "Mein Kampf" - traz uma dedicatória a Henry Ford que diz: "Apenas um grande homem, Ford". Como superou o estigma? Contratarem historiadores para discutir o assunto e abriram totalmente seus arquivos.

7. Coco Chanel revolucionou a moda mundial. Sem ela, o mundo da moda não teria a menor importância. Mas para os nazistas, Coco Chanel tinha um número - era a agente F-7124. Isso mesmo, a mulher símbolo da moda era uma espiã nazista.
Como superou o estigma? Nunca admitiu que era antissemita, afirmando que tinha amigos judeus e que a acusação de espionagem mereceria melhor estudo.


8. Hugo Boss tinha uma pequena fabrica de roupas. Foi ele quem produziu os famosos uniformes marrons dos membros do Partido Nazista. Durante a guerra, o filiado a esse partido numero 508.889, Hugo Boss, ganhou fortunas incomensuráveis produzindo uniformes para o exército e usando a mão de obra de 140 escravos em barracões imundos e com pouca comida.
Como superou o estigma? Pediu desculpas formalmente, prontamente aceitas pelos interesses na reconstrução da economia alemã.
Outras empresas que colaboraram e participaram diretamente da economia e política nazista que souberam superar o estigma apostando na má informação e desvirtuando o material que foi coletado pela imprensa e historiadores, algo que, hoje, denominamos "marketing": Volkswagen, General Eletric, Bayer, Kodak, Puma, Adidas e Kellogg´s.

Ascensão e queda do Império da Carne
Ascensão e queda do Império da Carne

Ascenção e Queda dos Impérios.

Não há império que se eternize, um dia todos são destruídos. A lista é imensa. Começamos com o Império de Tamerlão, um dos poucos conhecidos dos brasileiros, apesar de sua imensa importância. A ideia imperial continua com a China Ming, o império português, o russo, a expansão otomana, a mongol, a Grã Bretanha e a França, o império hindu, a expansão do Egito, a do Japão e a dos Estados Unidos. Sem exceção. Todos foram construídos para durar milênios e caíram. Dessa lista, que não é a única aceitável, o de Tamerlão é o mais interessante para o momento. Trata-se de uma tentativa de recuperação de um império destroçado.


Tamerlão foi um fenômeno que se tornou uma lenda. Nasceu na década de 30 do século XIV, no Chagatai, uma confederação turco-mongol e uma das quatro regiões em que o domínio de Gengis Khan se tinha dividido após sua morte em 1227. Tamerlão lançou-se na conquista do Irã, Iraque, Armênia e Geórgia. Invadiu as terras russas e dirigiu um ataque de pilhagem do Norte da Índia, subjugando os dirigentes muçulmanos e destruindo Deli. Retornou e conquistou parte da Síria. Suas conquistas tentaram reproduzir o grande Império Mongol construído por Gengis Khan e por seus filhos.

Esse império estendera-se do Irã à China, chegando a Moscou. Provocara um tráfego extraordinário de pessoas, comércio e ideias. Funcionou como o incentivador para mudanças de intercambio comercial e intelectual numa época de grande expansão econômica na Ásia e no Oriente. O Império de Tamerlão desapareceu com sua morte, quando ele planejava conquistar a China. Mas, a essa época, surgiam os primeiros sinais de uma mudança no padrão existente do comércio de longa distância, a rota Oriente-Ocidente que ele se esforçara por controlar.

Pouco tempo depois de sua morte, a descoberta do mar como um espaço comum mundial transformou a economia e a geopolítica dos governos. Uma nova ordem mundial se tornaria patente. Não surgiriam impérios sem a conquista do mar. Como em nossa época não há a possibilidade de existir um só império sem a conquista do ar.

Ascensão e queda do Império da Carne
Ascensão e queda do Império da Carne

Os impostos mais estranhos do mundo.

Ascensão e queda do Império da Carne

Imposto do bebê.

Muitos países do mundo vem abolindo impostos para incentivar os casais a terem filhos, devido ao crescimento vertiginoso do número de idosos e da má performance dos casais em terem filhos. No Estado de Connecticut (EUA), a ideia é o inverso. Criaram o imposto sobre as fraldas descartáveis para bebês. As fraldas para idosos estão isentas.

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