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Em Pauta

Bar em Roma. Banhar-se, jogar e rir: isso é viver

Mário Sérgio Lorenzetto | 10/02/2019 08:25
Bar em Roma. Banhar-se, jogar e rir: isso é viver

Romanos de elite costumavam ignorar o que o restante da população fazia quando não estava no trabalho. Para eles, o pior eram os bares e restaurantes baratos onde homens comuns se reuniam. Além de afirmar que a clientela desses bares era composta por homicidas, marinheiros, ladrões, escravos fugidos, carrascos e fazedores de caixões, diziam que era especialmente odioso o ronco que os jogadores de dados faziam quando se concentravam ao redor do tabuleiro e inspiravam o ar por suas narinas cheias de ranho. A cultura de bar na Roma antiga já era preconceituosa.

Bar em Roma. Banhar-se, jogar e rir: isso é viver

As tentativas de restrições e de impor impostos.

Não era apenas preconceituosa, as autoridades romanas tentaram inúmeras vezes impor restrições legais ou cobrar impostos dos bares. Um deles, Tibério, tentou proibir a venda de bolos e doces. Cláudio foi além, aboliu totalmente as tabernas e ainda proibiu a venda de carne cozida e de água quente (era misturada ao vinho). Proibição inútil, continuaram funcionando normalmente. Vespasiano estipulou que bares e botequins não deveriam vender nenhum tipo de comida, exceto ervilha e feijão. Eram encenações infrutíferas para agradar alguns, legislações simbólicas, que o governo romano não,tinha meios de fazer cumprir.

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Os bares eram uma parte essencial da cidade.

As elites, por toda parte, tendem a se preocupar com os locais onde os baixos estratos sociais se reúnem. Embora os bares romanos tivessem aspecto violento e fossem locais de fala grosseira, a realidade ali era normalmente mais tranquila. Os bares não eram antros de bebida, mas uma parte essencial da vida cotidiana para aqueles que tinham, no máximo, instalações bem limitadas para cozinhar em suas casas. Nos apartamentos romanos de até seis andares, os pobres não tinham onde comer um mísero sanduíche. Eram diminutos.

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Pompeia e seus 100 bares.

Levando em conta as partes ainda não escavadas de Pompeia, calculam que existiam mais de 100 bares para uma população de 12 mil residentes.
Eles eram construídos segundo uma planta bastante padronizada: um balcão defronte à calçada, para quem pedia comida "para viagem". Uma sala interna com mesas e cadeiras para consumo no local, com garçons servindo. E um braseiro para preparar pratos e vinho quente. 
A decoração era uma série de pinturas retratando cenas da vida no próprio bar.

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Os graffitis nos bares romanos.

Não há evidência da torpeza que a elite romana creditava aos bares. Uma imagem mostra o suprimento de vinhos. Outra, mostra petiscos. Nada muito diferente do que há na atualidade.
Os "piores" são uma imagem ostensiva de sexo (algum moderno moralista tentou apagá-la), e alguns grafites vulgares na linha "Eu já comi a dona deste bar". Mas a imensa maioria mostra clientes jogando dados (quer roncassem ou não com ranho no nariz). Conseguiram preservar um bar onde aparece a "primeira história em quadrinhos" na parede. Os balões com as falas acompanham os desenhos e ilustram o que acontece. A partida de dados está se encaminhando para uma briga e para o uso de uma linguagem chula. Como ainda é comum. Depois de um lance controvertido, o dono tem que intervir: "Se querem brigar, vão lá fora". Como os donos de bar continuam fazendo. Começam os xingamentos. "Seu monte de bosta, eu joguei três, fui eu que ganhei". O segundo responde: "Ah, vá chupar..., fui eu que ganhei ".

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Jogo de dados, uma paixão nacional na Roma antiga.

Alguns dos aristocratas tinham paixão por jogos de dados. Cláudio chegou a escrever um livro sobre como jogar. Sua carruagem era adaptada para continuar jogando com ela em movimento. Augusto era tão viciado - mas com consideração com o bolso dos amigos - que dava grandes quantias de dinheiro para que eles continuassem jogando com ele. Também eram uma paixão das mulheres. Plinio, fala de uma idosa chamada Ummidia Quadratilla que dedicava a vida ao jogo de dados.
Os jogadores de dados (aleatores) estavam em todos os bares. O tamanho da jogatina levou a seu cerceamento. Houve tentativas de controlar o jogo. Determinaram horários e datas apropriadas. Tal legislação teve o mesmo efeito da dos bares. Ninguém cumpriu as ordens.
Os tabuleiros que sobreviveram são feitos em pedra. Foram encontrados em quartéis, bares e até em túmulos. Mas há algo ainda mais incrível que ser enterrado com um tabuleiro de jogo, foram encontrados em pisos e nos degraus de prédios que pertenciam aos governos. Os funcionários públicos jogavam no chão, como hoje jogam no computador.
Mas não há nada mais esclarecedor da vida dos romanos que as inscrições que formavam nos tabuleiros de dados nos bares.A predileta deles diz: "banhar-se, jogar e rir: isso é viver"

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