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Em Pauta

Como Colombo se tornou um símbolo nas Américas

Mário Sérgio Lorenzetto | 12/10/2018 08:00
Como Colombo se tornou um símbolo nas Américas

Era 1492. No dia 12 outubro, Colombo atracava suas caravelas nas terras que denominamos República Dominicana. Colombo acreditava que fora pessoalmente escolhido por Deus para uma missão que ninguém mais poderia alcançar. Depois de 1493, ele passou a assinar seu nome "xpo ferens" - "O portador do Cristo". Seu objetivo declarado era acumular riqueza suficiente para reconquistar Jerusalém. Sua arrogância o levou à queda. Uma queda que parecia não ter mais fim.

Como Colombo se tornou um símbolo nas Américas

Colombo na cadeia.

Em 1496, Colombo era o governador da República Dominicana. Um trabalho que ele odiava. Não conseguiu convencer os outros "colonos", especialmente aqueles com títulos da pequena nobreza espanhola, a seguir sua liderança. Eles não eram colonos no sentido tradicional da palavra. Vieram para as Américas para enriquecer rapidamente. Como não havia ouro suficiente, Colombo não foi capaz de temperar a ganância desses espanhóis. A Coroa Espanhola o via como um administrador incompetente. Triste tradição, o primeiro administrador das Américas era um incompetente. A colônia foi um grande fracasso social e econômico. A riqueza que Colombo prometeu aos monarcas e aos colonos não se concretizou. Ele não parava de pedir apoio financeiro para os monarcas. E eles relutantemente forneciam.
Por volta de 1500, as condições da colônia eram tão terríveis que os monarcas enviaram Francisco de Bobadilla para investigar o que ocorria na República Dominicana. A primeira visão de Bobadilla, chegando na foz do Rio Ozama, foi a de quatro espanhóis pendurados na forca. Tinham sido acusados de motim. Sob a autoridade do rei, Bobadilla prendeu Colombo e seus irmãos por prevaricação, comportamento tirânico e corrupção, e os enviou para a Espanha acorrentados. Colombo esperou sete meses por uma audiência na Corte. Ele se recusou a ter suas correntes removidas até a reunião, e até pediu em seu testamento para ser enterrado com as correntes. Embora os governantes desejassem que Colombo desaparecesse, ele ganhou outra viagem entre 1502 e 1504. Morreu em 1506. Praticamente não foi mencionado pelos historiadores até ser ressuscitado como símbolo nos Estado Unidos.

Como Colombo se tornou um símbolo nas Américas

Reinventando Colombo.

Em meados do século XVIII, mais de dois séculos esquecido, estudiosos trouxeram à luz documentos sobre Colombo: o diário da descoberta, as quatro viagens e o testamento. O pequeno mundo dos historiadores tomou conhecimento deles. Mas foi só. Passado outro século, em 1880, o diário pessoal de Colombo foi publicado em um jornal. Não há nada que se deva recordar do que está escrito em um jornal. O jornal diário é escrito para o esquecimento. E assim seria. Mas o diário chamou a atenção de Gustavus Fox, secretário assistente da Marinha de Abraham Lincoln. Foi Fox o primeiro estudioso a tentar refazer a rota da primeira viagem de Colombo. E as faculdades dos EUA passaram a se interessar por esse estudo.
O interesse em Colombo coincidiu com motivos políticos para negar à Espanha quaisquer reivindicações remanescentes nas Américas. As colônias americanas da Espanha declararam independência. Uma a uma, desde o início dos anos 1800. O assalto final veio com a invasão de Cuba pelos EUA em 1889. Foi uma guerra de seis meses, conclusa com a expulsão dos espanhóis. Colombo, após cumprir seu papel independentista nas Américas, provavelmente, teria retornado à obscuridade.

Como Colombo se tornou um símbolo nas Américas

A Exposição Colombiana.

Em 1889, a França apresentou o que a imprensa descreveu como a Feira Mundial mais espetacular da história. Realizada nos "Champs de Mars", sua maior conquista foi a Torre Eiffel. Depois de Paris, os EUA decidiram provar ao mundo que era igual à Europa, organizando sua própria Feira Mundial. O palco estava planejado quando o escritor Washington Irving, tentou reviver sua carreira decadente, escrevendo a primeira biografia de colombo em inglês. Seus enfeites gramaticais criaram o grande herói cuja lenda a feira celebrou. A Exposição Colombiana e a Feira Mundial dos EUA foram programadas para coincidir com os 400 anos da chegada de Colombo ao Novo Mundo. O presidente Benjamin Harrison presidiu as cerimônias de abertura em 12 de outubro de 1892. Chicago criou a "Cidade Branca" - uma coleção de nove palácios projetados pelos maiores arquitetos dos EUA. A feira deu aos visitantes o primeiro sabor de um refrigerante gaseificado, biscoitos de goiaba e os chicletes da Juicy Fruit. Uma enorme roda-gigante transportava 60 pessoas em um passeio de 20 minutos. Mais de 28 milhões de ingressos foram vendidos durante os seis meses em que a Exposição Colombiana ficou aberta. Colombo passou a ser o queridinho da mídia dessa época. Setenta e um retratos de Colombo, todos póstumos, foram exibidos em uma grande galeria. Vale lembrar que até hoje ninguém faz a menor ideia de como eram as feições de Colombo. O Grande Almirante, como passaram a denominar Colombo, tornou-se a personificação do sonho americano. O filho de tecelões de lã, teve um grande sonho, desafiou os maiores eruditos de sua época, e corajosamente foi onde nenhum homem havia ido antes. Melhor ainda, ele era italiano e ja existia uma imensa colônia de imigrantes da Itália. Os EUA, em conjunto com a Inglaterra, passaram a pregar que os espanhóis não tiveram participação alguma na descoberta do Novo Mundo. A história e as lendas sobre Colombo foram levadas ao mundo, especialmente aos países da América do Sul e Central.

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