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Em Pauta

O que os terremotos da Itália nos ensinam

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/08/2016 07:05
O que os terremotos da Itália nos ensinam

Amatrice, Accumoli, Pescara del Tronto, Arquata del Tronto, Castellucio e Norcia. As quatro primeiras cidades tiveram de enterrar as vítimas dos abalos sísmicos, Norcia, ainda que localizada na mesma região e com movimentos sísmicos de magnitude um pouco maior que as demais, não teve uma só vítima. O que explica esse "milagre"?

Norcia está sendo tratada na imprensa italiana como o "povo do milagre" porque nenhum de seus 4.500 habitantes sofreu com os terremotos. Todavia, esse "milagre" não tem nada a ver com rezas. A explicação começa em 1979, quando outro terremoto matou cinco pessoas residentes em Norcia. Governantes, empresários e a população em geral, começaram a discutir um planejamento que blindasse a cidade de abalos sísmicos. Todos estudaram, discutiram e investiram no plano.

Democracia plena e consciência popular. Seu atual prefeito, Nicola Alemanno, explica que a prevenção vai além das questões técnicas: "Tem que começar na escola, quando é criança. Essa é a única forma de entender que é preciso preservar o patrimônio cultural de todos. A prevenção mais que um problema material, é um problema cultural". Vale repetir: todos os cidadãos de Norcia colocaram dinheiro no plano preventivo de terremotos, a prefeitura da pequena cidade não tinha, e nem terá, recursos para sozinha reorganizar a estrutura de uma cidade inteira.

O que os terremotos da Itália nos ensinam

Uma cidade democrática ouve seus habitantes para fazer guerra!

Nada menos que 3 milhões de sugestões foram apresentadas aos governantes pelos moradores da cidade. Duas receberam mais votos e sugestões concretas de transformações: fazer guerra às sacolas de plástico e mudar suas ruas e avenidas abarrotadas de automóveis. Foi feita uma grande campanha com ajuda das redes sociais, meios de comunicação, ONGs, associações e empresas em geral.

Em resposta a todas as sugestões cidadãs, o governo selecionou 10 ideias concretas e um plano de investimento de mais de R$ 3 bilhões. Mais da metade desse investimento irá para a construção de duas linhas de metrô, a ampliação das faixas de ônibus, a criação de avenidas de alta capacidade e a reforma de quase 500 quilômetros de pistas para bicicletas e tuk tuks. É claro que essa cidade não é brasileira. Pelo contrário, fica muito distante e não é autoritária como as nossas. Pune, a cidade da Índia, considerada uma das mais democráticas do mundo. Mas ela tem muito a ver com as brasileiras: é um imenso depósito de lixo originários das sacolas de plástico. E essa é outra grande transformação.

Não só proibiram essas sacolas que empesteiam o meio ambiente, como criaram um programa de produção de sacolas de papel reciclado de jornais velhos que emprega 220 mulheres analfabetas em bairros pobres e distantes do centro da cidade. Há outros projetos de substituição de sacolas plástica, mas esse é o melhor. É melhor porque as mulheres permanecem em seus lares. Essas bolsas de papel reciclado são vendidas a supermercados e lojas por uma fração das bolsas de plástico e, após três meses de uso, retornam à reciclagem criando um trabalho contínuo para as mulheres. Cada mulher consegue produzir aproximadamente 60 bolsas de papel por mês que rendem algo como um terço do salário mínimo hindu, um bom auxílio para criar seus filhos.

O que os terremotos da Itália nos ensinam

Os Estados Unidos não têm um programa governamental de apoio aos atletas olímpicos

É curioso, o país que mais ganha medalhas nas Olimpíadas, não têm um programa governamental que apoie seus atletas. Muitos são patrocinados por escolas e universidades particulares, bem como por empresas interessadas na propaganda que podem gerar. Outros tantos captam dinheiro com o auxílio da internet através de doações.

Michelle Carter foi a vencedora da medalha de ouro no Rio na prova de lançamento de peso. Conseguiu um lançamento de 20,63 metros, mais de 20 centímetros que sua rival mais próxima. Fora das competições, Michelle é maquiadora profissional. Ela também lançou uma linha de maquiagem própria a "Shot Diva".

Maya Dirado foi uma das atletas mais exitosas na última Olimpíada. Ganhou nas provas de natação 4 medalhas: 2 de ouro, 1 de prata e outra de bronze. Mas Dirado é uma analista de negócios, trabalha em uma empresa de consultoria na Califórnia.

Gwen Jorgensen venceu a prova de triatlo individual feminino. Essa norte-americana é contadora em uma empresa de Milwaukee. Assim com Gerek Meinhardt, bronze na esgrima por equipes, que trabalha como analista de riscos em uma consultoria de San Francisco. Já Miles Chamley-Watson, seu companheiro, trabalha como modelo profissional. Por outro lado, Jeremy Taiwo, do decatlo, pediu donativos na internet. Pretendia conseguir US$ 15.000 e conseguiu US$ 54.000.

O que os terremotos da Itália nos ensinam

O caminho do inferno das crianças imigrantes

Neste ano já entraram na Sicília 10.524 crianças sozinhas. A ONU calcula que outras 45 mil ainda desembarcarão sem a companhia de um responsável. Em 2015, foram 14 mil crianças imigrantes a viajarem para a Europa sozinhas. Muitos estão fugindo de casa, como alguns eritreus, que embarcam nessa jornada para fugir do serviço militar. Outros são mandados pela família que junta dinheiro para a viagem - vista como uma espécie de investimento no futuro de todos seus membros. Com as crianças mulheres é ainda mais complicado. Na semana passada, a ONU lançou um alerta sobre os níveis alarmantes de nigerianas sendo sequestradas dos centros de recepção de imigrantes e obrigadas a trabalhar como prostitutas. Elas já chegam traumatizadas com a violência sexual na Líbia. Os meninos estão sendo utilizados para passar drogas e empregados ilegalmente para colher tomates ou uvas em troca de alguns centavos.

A travessia do Mediterrâneo à partir das praias da Líbia vale a pena? As crianças dizem que quando começam a atirar e matar em seus países de origem, correm para salvar a vida, não importa para onde irão. Fogem do Boko Haram e de outros movimentos terroristas. A maioria delas saiu da Eritreia, Nigéria, Gâmbia, Costa do Marfim e Somália.
Na primeira oportunidade fogem dos centros de recepção, onde podem passar até três anos aguardando um destino. Procuram empregos e conhecidos nos países do norte da Europa, atravessando ilegalmente fronteiras e correndo mais perigos. As entidades que procuram cuidar das crianças imigrantes entendem que, em muitos casos, estarão mais protegidas se forem devolvidas ao país de origem.

Começar vida nova em um país estranho não é fácil. Pesquisa do Médicos sem Fronteiras mostra que 40% dos imigrantes têm distúrbios pós-traumático ligados à violência em seus países de origem, à terrível viagem, desenvolvendo sintomas de ansiedade e depressão. Sem falar a língua, sem ocupação e sem dinheiro, elas convivem com o medo do futuro incerto, com a solidão e a preocupação com os parentes que ficaram. Se negam a recordar o passado. Evitam fotos e citações de seus nomes, têm medo de serem reconhecidas pelas máfias africanas por causa de dívidas não pagas. Somente 25% a 40% serão aceitos e permanecerão na Itália e em outros países europeus. Inventaram um inferno para crianças ainda mais dantesco que o preconizado pelo autor italiano.

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