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Em Pauta

Outubro no charco: quem engolirá sapo?

Mário Sérgio Lorenzetto | 25/08/2018 08:59
Outubro no charco: quem engolirá sapo?

Apesar dos esforços de Marina, Ciro e Álvaro Dias para tentarem embaralhar os números da eleição presidencial de 7 de outubro, três cenários no segundo turno, no dia 28 do mesmo mês, se apresentam como muito mais prováveis do que todos os demais. As contas vem sendo feitas pelos próprios protagonistas, pelas direções dos maiores partidos, pelos observadores da imprensa e institutos de pesquisas.

O primeiro a ser analisado - e não o mais provável - é de um segundo turno disputado Alckmin - dono de quase metade do tempo de televisão, ainda a forma mais eficaz de se chegar a todos rincões do continental país - contra o candidato do PT, que ao tudo indica será o solto Haddad e não o preso Lula. Neste caso, seria o desfecho inesperado pela imprensa e poder judiciário, que unidos, somaram quase 2.000 anos de penas de prisão para os políticos.

O segundo cenário - muito provável - seria de um desses dois - Alckmin ou Haddad - defrontar Bolsonaro. Nesse caso, como os arqui-rivais PSDB e PT reagirão se não for o seu concorrente premiado com o segundo turno? Essa é a maior indagação que está sendo feita nas altas cúpulas dos poderes políticos e econômicos do país.

Para preservar o país da suposta aventura bolsonarista, os seus eleitores ver-se-iam em uma situação parecida com a dos franceses em 2002 e 2017, quando escolheram em bloco Chirac e, depois, Macron para derrotarem Jean Marie e Marine Le Pen, respectivamente.
Mas será que PT ou PSDB pediriam a seus apoiadores para votar no inimigo histórico? Prevenido,

Fernando Henrique Cardoso, patriarca do PSDB, levantou esse debate sobre os arranjos do segundo turno. Desejou sentir as reações. Representantes de seu partido desconversaram e os petistas desconversaram ainda mais.

Resumo da ópera - ou opereta de final aziago -: caso Bolsonaro realmente cumpra os vaticínios e chegue ao segundo turno contra Alckmin, o PT engolirá um imenso sapo. Resta saber se o sapo usa farda ou é um picolé. E se Bolsonaro enfrentar Haddad? Os tucanos engolirão o sapo fardado ou o pupilo do sapo barbudo? E caso PT e PSDB, que dirigem o país desde 1994, cheguem ao segundo turno, os fardados, togados e a imprensa engolirão os sapos ou mandarão todos para a cadeia? Vai faltar garganta, em outubro, para engolir tanto sapo.

Outubro no charco: quem engolirá sapo?
Outubro no charco: quem engolirá sapo?
Outubro no charco: quem engolirá sapo?

"Porque não têm o mesmo nariz", o âmago das eleições.

Há um famoso livro intitulado "Pequeño país". É a primeira novela de um jovem músico chamado Gaël Faye, nascido em Burundi, em 1982, de mãe ruandesa e pai francês.

O prólogo é por si só uma lição universal. O personagem infantil Gabriel, pergunta a seu pai a causa da guerra entre hutus e os tutsis. Vão repassando as possíveis motivações. Não há nada que possa explicar semelhante inimizade.
- Então, por que estão em guerra? - pergunta o menino.
- Porque não têm o mesmo nariz - responde o pai.

E Gaël escreve: "A conversação se deteve ali. De veras que aquele assunto era muito estranho. Creio que papai tampouco o entendia muito muito bem. A partir daquele dia comecei a fixar-me no nariz e na estrutura das pessoas pela rua". Conta como os colegas da escola começaram a observar os narizes e acusar-se de hutus ou tutsis. E quando projetaram o filme "Cyrano de Bergerac", alguém gritou na sala: "Olhem, com esse nariz, é um tutsi".

E o menino chega a uma conclusão avassaladora: "Algo diferente flutuava no ar. Tivesse o nariz que tivesse, podia cheirá-lo".

Assim é a produção de um inimigo. Pode começar por um nariz. O problema, é claro, não são os narizes. O problema está em quem necessita criar um inimigo para ocupar o poder e impor uma sociedade uniforme. E se não encontram o inimigo, o inventam. Lhes basta um nariz. O mais frequente é converter a ideia do outro, do diferente, em uma enfermidade. Assim ocorreu no Brasil militarizado. Assim copiou o país dos petistas.

Em nossa história temos sofrido um excesso de produção de ódio. Se há políticos que para afirmar-se necessitam de um inimigo, que se olhem no espelho. Ou não verão os votos. Não à toa, as urnas abertas domingo em Tocantis mostraram o âmago das eleições em curso: votos nulos+brancos+ausentes, totalizaram 49,33%. Um escândalo sem precedentes. Quase a metade dos eleitores dizendo: "não quero saber do nariz de ninguém". Entre os candidatos havia os partidos tradicionais DEM, PMDB, PDT, PT, PSB e um juiz. Foram ao segundo turno o candidato do PHS coligado com o DEM contra o candidato do PR com o PMDB, aqueles que não olharam para o nariz dos outros. Todo ódio será derrotado, ainda que vença momentaneamente.

Outubro no charco: quem engolirá sapo?

A nova fé é a confiança.

O dinheiro, como as religiões ou as nações, é uma ficção coletiva. Crer em um ser superior, em ser parte do povo eleito ou de um pedaço de papel que vale R$50, são todos atos de fé. É a magia da nossa espécie: somos animais com fé, dispostos a aceitar um pedacinho de metal em troca de um cafezinho. De fato, falamos de dinheiro fiduciário para referir-nos a nossas atuais divisas, porque como seu nome indica se baseiam somente na fé ao não ser respaldadas por nada que não seja uma promessa de pagamento por parte do emissor. O uso moderno do dinheiro fiduciário tem início em 1971, quando o presidente dos EUA, Nixon, decidiu romper o padrão ouro, dar total liberdade para imprimir dinheiro. Foi assim que conseguiu conquistar a hegemonia mundial dessa ficção chamada dólar que supõe 85% das transações internacionais.

É curiosa a atual desconfiança - inclusive desta coluna - quanto às criptomoedas, quando globalmente aceitamos uma ficção que está nas mãos de um senhor Donald Trump que diz que os latino americanos são seus inimigos e coloca muros em seus vizinhos. E ainda assim, espera que mantenhamos a fé no dólar. Idolatramos quem nos rejeita? As criptomoedas também são ficções coletivas baseadas na fé - que esperam conquistar - em algoritmos. A desconfiança nasce naqueles que regem o dinheiro em papel, metal ou informatizado dos bancos e casas do tesouro, por um lado, e do outro, ninguém. O lastro do dinheiro atual está nos bilionários donos de bancos e nos mandatários dos países, por mais irresponsáveis que sejam. As criptomoedas não têm responsáveis. A fé de todos no dinheiro fiduciário está na certeza de que eles são honestos, o que dista da realidade. Qual o presidente de banco que foi preso? Eles estão acima das leis ou como dizem os norte americanos: "grandes demais para quebrar".

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