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Em Pauta

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

Mário Sérgio Lorenzetto | 15/07/2019 06:37
Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

O Brasil é a maior nação espírita do planeta. Embora tenha repercutido no século XIX em dezenas de países, a verdade é que o espiritismo não encontrou muito espaço para prosperar no mundo. Espiritualistas britânicos e norte americanos não aceitaram a tese de reencarnação e fizeram ressalvas à religiosidade da doutrina de Allan Kardec. Na Itália, em Portugal e na Espanha, as ideias foram combatidas pela igreja católica e não puderam circular livremente. Até mesmo na França, berço do espiritismo, o interesse restringiu-se a pequenos círculos e arrefeceu após alguns anos, sobretudo quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial.

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

Bahia de todos as crenças.

Em volta de uma mesa, iluminados por um lampião, alguns homens invocaram a presença dos mortos. Era a primeira vez que um grupo de baianos realizava um sessão mediúnica. Acreditavam que podiam fazer contato com espíritos e estavam atentos a ruídos estranhos. Naquela mesma noite de 17 de setembro de 1865, os professores, militares e magistrados ali reunidos haviam fundado o primeiro centro espírita brasileiro. Seguindo rituais propostos por Kardec, tentavam atrair alguma alma desencarnada. A mão de um homem começou a rabiscar um papel. Todos os olhares se voltaram para a escrita. Já estavam comovidos mesmo sem ler o papel. Quando a mão finalmente parou de escrever, a mensagem anunciava que um espírito chamado Anjo de Deus estava presente naquela sala.

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

Um país de crenças africanas e indígenas voltadas aos espíritos.

O episódio baiano é considerado o marco inicial do Kardecismo no Brasil. A ideia de que é possível falar com os mortos, no entanto, não era estranha em um país onde crenças africanas e indígenas sempre figuraram em meio ao catolicismo oficial e dominante. O caldeirão cultural brasileiro é um importante fator, mas não único, que explicam a acolhida que o espiritismo teve no país à partir de 1865.

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

Uma moda espírita.

Quinze anos antes de aterrissar no Brasil, o fenômeno das "mesas girantes" divertia nobres e milionários europeus, especialmente em Paris. Ao redor de uma mesa, os participantes da brincadeira apoiavam as mãos espalmadas no tampo e, unidos pelas pontas dos dedos, viam a mesa se movimentar sem uma explicação física aparente. Geralmente a mesa girava. O que se dizia era que o poder do pensamento das pessoas fazia a mesa se mexer.
Estudiosos logo se interessaram. Parte deles suspeitou de truques. Outros associaram o movimento da mesa a magnetismo. Mas, em 1855, o pedagogo Hippolyte León Denizard Revail, autor de livros educacionais, ouviu de um amigo dono de restaurante que o movimento das mesas tinha a participação dos mortos. O amigo disse ainda que as mesas eram inteligentes e batiam no chão em resposta a perguntas. Curioso, embora incrédulo, Rivail aceitou o convite para ver uma das sessões.

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

Mesas pulavam e corriam.

Às oito horas da noite de uma terça-feira de maio, Rivail foi à sessão. Entrou na casa de uma senhora chamada Plainemaison e ficou aturdido com as experiências que viu. Elas mudariam sua vida. Diante de seus olhos as "mesas pulavam e corriam", como afirmou. Na mesma noite, viu também uma tentativa de escrita mediúnica e teve a certeza de que os espíritos queriam se comunicar. Deixou a casa decidido a voltar e investigar a fundo os fatos absurdos. Os meses seguintes mudariam radicalmente a vida do professor. Ele presenciou muitas vezes sessões mediúnicas. Rivail perguntava em voz alta o que desejava saber sobre o mundo dos mortos e recebia as repostas psicografadas. Aconselhado por um espírito, que dizia que já o conhecia de outra vida, Rivail mudou seu nome para Allan Kardec.

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

O avanço espírita brasileiro.

Apesar de fazer água pelo mundo afora, o avanço do espiritismo foi notável no Brasil desde os primeiros dias na Bahia. Como o próprio Kardec festejou: "a ideia espírita faz progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta com numerosos representantes, fervorosos e devotados". O fenômeno das "mesas girantes" era visto com curiosidade no Brasil que ainda era Imperial. Vários jornais nacionais noticiaram a "febre" dos parisienses em torno das mesas girantes. No Brasil, antes da chegada da doutrina kardecista, os homeopatas já estavam atentos a casos extraordinários. Alguns entendem que são eles os precursores dessas ideias.

Por que há quase 4 milhões de espíritas no Brasil?

A igreja católica brasileira não se opôs, inicialmente, ao kardecismo.

A igreja católica não fez ressalvas quando, em 1860, Casimir Lieutaud, diretor do Colégio Francês, no Rio de Janeiro, publicou "Os Tempos São Chegados", primeiro livro espírita em português. Dois anos depois, os livros de Kardec já estavam à venda. Livremente. A reação ao espiritismo só viria bem mais tarde. Vinte anos tinham se passado quando a igreja católica no Brasil resolveu agir. O espiritismo já andava a passos largos pelas principais cidades brasileiras. "Erros Perniciosos do Espiritismo" foi o texto que a igreja se fez adversária - tardia - da doutrina kardecista. Os espíritas responderam. As hostilidades não cessavam. No auge do conflito, os espíritas eram alvo de chacotas e charges em jornais. Mas "já era", como um jornal estampou uma manchete. O espiritismo tinha adquirido força. Em 1884, criaram a Federação Espírita Brasileira. A atuação dessa organização, desde seu início até hoje, também explica o êxito dessa doutrina no Brasil. Foi ela que organizou e definiu como deve funcionar um centro espírita e quais as estratégias que devem adotar para que não pare de crescer.

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