ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, QUINTA  28    CAMPO GRANDE 22º

Finanças & Investimentos

Não, o capitalismo não está morrendo!

Por Emanuel Gutierrez Steffen (*) | 04/12/2015 08:40

Grandes crises podem levar a grandes agitações políticas. Pense na Grande Depressão e o subsequente aumento do fascismo na Europa e o New Deal nos Estados Unidos. Entretanto, o que ficou notório na crise financeira de 2008 foi à natureza limitada desta reação.Partidos feitos nas ruas, à esquerda e à direita, têm ganhado terreno, mas apenas na Grécia ganharam poder. A maior mudança política foi à introdução do afrouxamento quantitativo, uma mudança técnica que despertou pouca paixão nas ruas.

Essa falta de ação é uma fonte de frustração da esquerda, para quem 2008 pareceu o precursor do colapso do capitalismo. Alguns, incluindo Paul Mason, o autor de um novo livro chamado “Postcapitalism”, ainda mantém a esperança. Eles veem a “economia compartilhada”, em que a completa propriedade de bens é menos importante (pense nos clubes de empréstimos de carros e móveis “freecycled”), como um sinal da morte iminente do capitalismo. Jeremy Rifkin, em seu livro “The Zero Marginal CostSociety”, fala sobre a “internet das coisas, os espaços comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo”.

Porém, se você define capitalismo como a interação de indivíduos em uma economia de mercado, o sistema está avançando, não retrocedendo. Sites de nova-economia como o Airbnb e Etsy permitem às pessoas ganharem dinheiro de novas maneiras – alugando suas casas enquanto estão de férias, ou vendendo artes e artesanato. No passado, proprietários de casas poderiam lutar para encontrar locatários e aficionados para encontrar compradores; sites agregadores tornam a tarefa muito mais fácil.

É verdade que alguns desses novos websites enfraquecem modelos de negócios existentes, como as companhias de mídia publicitária de música, e o mais estridente caso do Uber na indústria do transporte privado. Mas os investidores esperam que a maioria dessas companhias seja lucrativa ao final, ao julgar pelos valores que elas atraem. O Google começou um negócio de buscas na internet de forma gratuita, mas encontrou uma forma de monetizar seu alcance. O movimento de uma economia baseada em bens físicos para uma baseada em software e propriedade intelectual parece permitir maiores retornos ao capital do que antes. A internet tem sido usada amplamente há 20 anos, e lucros corporativos estão perto de uma alta pós-guerra como proporção ao PIB dos Estados Unidos.

Ao reduzir o custo da informação, a internet mata alguns modelos de negócios. Mas não todos. Novos modelos irão aparecer e as pessoas sempre estarão dispostas a pagar por produtos que transmitem status, seja relógios luxuosos, carros rápidos ou roupas de marca. Elas podem ouvir música de graça, mas as pessoas irão gastar vastas somas para ouvir bandas de rock tocarem ao vivo.

Outro efeito da nova-economia é que a velha ideia de emprego por toda a vida está enfraquecendo. Mais pessoas estão seguindo “carreiras portfólio”, mudando de um empregador, ou até indústria, por outra à medida que a economia muda. Isso irá necessitar não apenas aprender novas habilidades à medida que envelhecem, mas monitorar a economia por novas oportunidades.

Muito mais pessoas estão dispostas a ser autônomas, oferecendo serviços a uma ampla gama de consumidores. Em certo sentido, elas irão ser artesãos, não empregados. Atividades como vendas, marketing e contabilidade – assuntos que empregados salariados deixam nas mãos de colegas especialistas – irão se tornar a responsabilidade do indivíduo. Tais trabalhadores terão que ser mais, não menos, sensíveis à economia de mercado que o típico drone de escritório.

E então tem as pensões. Duas décadas atrás, muitos trabalhadores podiam confiar em um sistema paternalista em que as companhias forneciam uma renda de aposentadoria ligada ao salário final. Novos trabalhadores do setor privado meramente criam uma poupança, que eles devem usar para viver durante os anos de aposentadoria da melhor forma que puderem.

Na Grã-Bretanha esse pote costumava ser convertido em uma anuidade, uma renda garantida para a vida toda, outra solução paternalista. Ao invés disso, os bretãos devem agora adivinhar sua provável longevidade, calcular seus gastos por duas décadas ou mais enquanto preveem o efeito de inflação, decidir sobre a alocação de ativos para seus fundos, avaliar os méritos de fornecedores rivais e ajustar pelo impacto de suas taxas. Essas são decisões que podem derrotar o manager (gestor) defundos hedge mais brilhante. Novamente, as pessoas terão que ser mais sensíveis às minúcias do mercado que no passado.

Poderia ser que esse processo irá tornar trabalhadores em uma direção de esquerda; eles irão demandar por mais proteção governamental do ciclo econômico. Mas as coisas podem mudar para o outro lado. Pioneiros da nova economia podem ser socialmente progressistas, mas suas visões econômicas tendem a ser libertárias. Os indivíduos que vendem coisas no eBay, ou gerenciam aluguéis e almoços compartilhados, também são capitalistas, mesmo que eles não pensem si mesmos dessa forma. E eles tendem a não gostar de mais regulação governamental, ou maiores impostos sobre seus ganhos.

Fonte: The Economist// Tradução de Robson da Silva. Revisão de Ivanildo Santos III – libertarianismo.org
Disclaimer – A informação contida nestes artigos, ou em qualquer outra publicação relacionada com o nome do autor, não constitui orientação direta ou indicação de produtos de investimentos. Antes de começar a operar no SFN - Sistema Financeiro Nacional o leitor deverá aprofundar seus conhecimentos, buscando auxílio de profissionais habilitados para análise de seu perfil específico. Portanto, fica o autor isento de qualquer responsabilidade pelos atos cometidos de terceiros e suas consequências.

(*) Emanuel Gutierrez Steffen, criador do portal www.mayel.com.br

Nos siga no Google Notícias