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Economia

Cervejarias artesanais da Capital usam informação para tranquilizar clientela

Contaminação de cervejas em MG deixou muitos consumidores preocupados mas não chegou a afetar movimento nos estabelecimentos

Rosana Siqueira | 22/01/2020 15:35
Movimento de clientes não teve queda nas cervejarias artesanais da Capital. (Arquivo Pessoal)
Movimento de clientes não teve queda nas cervejarias artesanais da Capital. (Arquivo Pessoal)

Informação é o melhor marketing. A frase é de empresários que atuam no ramo de cervejaria artesanal na Capital. Eles contam que estão usando a estratégia de muita conversa para espantar o temor de alguns consumidores com relação ao consumo de cerveja artesanal. O "medo" ocorre após a contaminação de produtos da marca Backer com as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol que tem movimentado o mercado de cervejas artesanais, que se articula para não sofrer grandes impactos com a crise.

A cervejaria mineira, responsável por mais de 20 marcas, é a maior artesanal do país em volume de produção, com quase 800 mil litros mensais, mas teve a comercialização dos seus produtos proibida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) após auditoria feita na fábrica constatar que havia água contaminada com dietilenoglicol em uma etapa anterior ao tanque de fermentação, onde o composto químico já tinha sido encontrado. A substância, detectada em lotes de uma das suas principais cervejas, a Belorizontina, está relacionada com a síndrome nefroneural – causadora da morte de quatro pessoas nas últimas semanas.

Na Capital as cervejarias artesanais relatam que apesar do assunto trazer muita preocupação a alguns clientes não houve queda no movimento nos estabelecimentos. De acordo a empresária Vanessa Dambros, proprietária da Eden Beer tem a produção localizada em Maringá não detectou redução da freguesia no local. “Nossa fábrica fica em Maringá. Na nossa cervejaria não usamos o dietilenoglicol (substancia tóxica) em nenhuma parte do nosso processo. A pasteurização acontece após a cerveja já estar engarrafada e lacrada e é feita apenas com água pura e filtrada”, explica. Segundo ela que também é engenheira de produção, a forma como o processo é feito garante mais segurança ao produto. Além disso ela destaca que os tanques da cervejaria são refrigerados com etanol (álcool).

Ela disse que no estabelecimnto não “viu diferença no movimento devido a essa questão da Backer. Apenas alguns questionamentos sobre como isso acontece, em qual parte da produção poderia ocorrer e tal”, enfatizou.

“Nós explicamos como ocorre o processo na nossa cervejaria. Então não corremos esse risco de contaminação. Mas pelo que vimos, pelo menos nosso público frequentador do bar e o pessoal que compra de delivery e pontos de venda, são mais esclarecidos quanto a isso”, admite.
Na avaliação da engenheira o caso da Backer foi isolado. “Entendemos que esse foi um fato isolado, nunca ocorrido antes. Inclusive esse produto é utilizado também em resfriamento de alimentos”, esclareceu.

Na sua cervejaria ela diz que sempre prezam pelo que há de natural na fabricação. “Inclusive também todo o processo não utiliza nada de fonte animal. Sendo assim é uma cerveja vegana, que é da preocupação de muitas pessoas hoje”.

Em relação a composição das cervejas artesanais ela informa que muitas marcas utilizam gelatina, que é comum e floculante feito de membrana de peixe. “Aqui não utilizamos isso”.
Mesmo assim ela reconhece que o que houve com a Backer, realmente foi algo muito triste e sério. “Minas Gerais tem grande tradição em cervejas artesanais, portanto há de se investigar se foi realmente um caso acidental ou proposital (criminoso)”, argumenta.
Sobre fiscalizações sobre o glicol, a empresária afirma que como seu produto não é fabricado aqui, não sabei se há alguma fiscalização no Estado. “Mas de qualquer forma é um produto legal e de uso comum em vários setores”, frisou.

Informação salva - Para o empresário e sommelier de cervejas Renan Heimbach Vieira da cervejaria Canalhas, informar é a melhor saída neste caso. “Acho que o melhor marketing de todos é a informação. O caso teve muita repercussão, até por que envolve vidas humanas”, lembrou.

Ele explica que na sua cervejaria não notou queda no volume de clientes. “Nós não adotamos nenhum plano específico por enquanto e ainda não sentimos os efeitos como queda nas vendas por exemplo. Mas percebemos que tem sim muitas pessoas vindo conversar querendo saber mais”, afirmou. Ele ainda enfatiza que o caso poderia acontecer com qualquer indústria, o uso do glicol não é restrito somente as artesanais”, explicou.

O episódio da Backer na avaliação do empresário “é realmente uma lástima”. “O processo da cerveja artesanal é com certeza mais seguro e feito com muito rigor, mais do que um restaurante ou uma cozinha comum por exemplo”, enfatizou.

De acordo com ele, no seu estabelecimento ele aposta na chamada cerveja fresca, que é produzida duas vezes por semana. “Somos uma cervejaria muito pequena ainda. Mas uma característica nossa é que como nosso volume é pequeno nosso foco e cerveja fresca: e em chope não trabalhamos com envase ainda”, afirmou.

Vieira lembra que no processo de fabricação, especificamente não utilizamo o glicol. “Nossos tanques são auto refrigerados, por um sistema semelhante a um motor de freezer e nosso resfriamento pós fervura e feito somente com água gelada, sem qualquer aditivo nela. O que realmente só é bastante eficiente por causa do tamanho da nossa produção que é pequena ainda”, explicou.

A cerveja, segundo ele, não estraga como outros alimentos, mas muda as características com o tempo. “Cervejas mais alcoolicas por exemplo, servem para guarda como vinhos tintos”, destaca lembrando as cervejas que fabricam não duram mais de 30 dias.

Com relação ao caso da Backer, o empresário alega que acende a cautela. “Precisamos aguardar as investigações das autoridades para saber qual foi o real problema. O assunto é complexo até mesmo para os especialistas, e sem saber de verdade todos os fatos da investigação qualquer conclusão é simples especulação”, conclui.

Cervejarias apostam em produtos naturais e até pegada vegana na Capital. (Divulgação)
Cervejarias apostam em produtos naturais e até pegada vegana na Capital. (Divulgação)

Normas - Diante da crise, a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) encaminhou um pedido aos órgãos reguladores solicitando a proibição das substâncias utilizadas para resfriar a produção. A entidade solicita ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que elaborem norma específica para a utilização de agentes anticongelantes no sistema de resfriamento de cerveja com a permissão de apenas substâncias de grau alimentício, em virtude da possibilidade incidental de contato com a cerveja nas etapas de fabricação.

Na semana passada, o Ministério da Agricultura interditou a fábrica da empresa, na Região Oeste de Belo Horizonte apreendendo 139 mil litros de cerveja engarrafadas e 8.480 litros de chope. Na ocasião, tanques e demais equipamentos de produção foram lacrados.
Sob investigação, a cervejaria Backer informa seguir apurando internamente o que poderia ter ocorrido com os lotes de cerveja apontados pela polícia e reitera que em seu processo produtivo, utiliza, exclusivamente, o agente monoetilenoglicol.

Apesar do comunicado, as análises realizadas pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária identificaram a presença do contaminante dietilenoglicol em oito produtos da Cervejaria. Além das Belorizontina e Capixaba, o composto foi encontrado em lotes das marcas Backer D2, Backer Pilsen, Brown, Capitão Senra, Fargo 46 e Pele Vermelha.

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