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Economia

Dois meses de estiagem afetam qualidade e preço de hortifruti

Paula Maciulevicius | 19/09/2012 17:05
Na Central de Abastecimentos, o que se vê vão clientes torcendo o nariz para a qualidade e o preço das hortaliças. (Foto: Simão Nogueira)
Na Central de Abastecimentos, o que se vê vão clientes torcendo o nariz para a qualidade e o preço das hortaliças. (Foto: Simão Nogueira)

A chuva desta quarta-feira ainda não foi suficiente para mudar o cenário na Ceasa (Central de Abastecimento). De produtores negociando preços e justificando a qualidade das hortifrutícolas e proprietários de restaurantes e mercados torcendo o nariz em cima das folhas. É que a estiagem dos últimos dias também traz transtornos da colheita à mesa. Produtos mais do que maduros ou até murchos e preços lá em cima. Uma conta inversamente proporcional. Qualidade em baixa e preços em alta.

Nas caixas, que correspondem a aproximadamente 25 quilos, o verde das hortaliças continua vivo. Embora maduro até demais para quem pretende revendê-las em sacolões ou feiras. O estoque em restaurante também tem os dias contados. Segundo o produtor e vendedor Cláudio Barbosa da Silva, 38 anos, a colheita que antes durava até cinco dias agora perece de um dia para o outro.

“Está vendo esse pimentão? Eu trouxe segunda-feira, estava verde e agora está maduro. A abobrinha chegou murcha já. A berinjela, foi colhida ontem e trazida aqui essa noite e olha já está murchando”, demonstrava.

Ele explica que a terra que depende de chuva está muito prejudicada. Onde é possível intensificar a irrigação, até dá para salvar os produtos. “Mas a gente perde muito. Não é que atrapalha na produção, mas é para colher”, diz.

O resultado vai parar muitas vezes em entidades beneficentes. Para não perder, muitos produtores da Ceasa doam. “Está bom para o consumo, mas para a comercialização, já não serve mais”.

Dona de restaurante, Antônia Pereira, aproveita a proximidade com a Ceasa para comprar produtos todos os dias. (Foto: Simão Nogueira)
Dona de restaurante, Antônia Pereira, aproveita a proximidade com a Ceasa para comprar produtos todos os dias. (Foto: Simão Nogueira)

A ‘maré’ de baixa qualidade das hortaliças é sempre na mesma época. Segundo os produtores, se inicia em meados de junho e finaliza na Primavera. Ou seja, tem muito agricultor contando os dias para que a mudança na estação traga a chuva de volta.

“Agora a conversa mudou”, respondeu outro produtor e vendedor quando a chuva de hoje começou a cair. Mas logo depois Davi Bicalho, 43 anos corrigiu. “Tem que chover no mínimo quatro dias seguidos para molhar, ainda assim por cima”.

Ele tem de cabeça a variação que teve de repassar ao consumidor. É o reflexo do investimento que fez na irrigação para conseguir colher. “É pelo gasto maior devido à seca. Só se consegue colher com muita água, aí a gente gasta mais”, explica.

De acordo com ele, os mais atingidos pela alta no preço foram berinjela, quiabo, couve-flor e vagem. A caixa de vagem contendo em média 25 quilos, que antes era vendida entre R$ 35 e R$ 40 a caixa, sai agora entre R$ 70 e R$ 80 o dobro do preço. O quiabo também teve o preço alterado. A caixa que até quando a chuva deixou era vendida a R$ 45, agora sai em torno de R$ 70, um aumento de 55%. O limão azedou também o bolso do comprador. O que um dia foi vendido a R$ 10, chegou perto dos R$50, ou seja quatro vezes mais.

De um lado os produtores explicando e justificando que a culpa é da meteorologia. De outro, proprietários que tiveram de mudar o planejamento na hora de ir às compras. A Ceasa passou a ser frequentada mais vezes durante a semana. Isso para manter a qualidade e o frescor para o consumidor.

Também dono de restaurante, Eduardo de Souza tenta ver o que dá para levar que dure pelos próximos dias. Tarefa um tanto difícil por conta da seca na plantação. (Foto: Simão Nogueira)
Também dono de restaurante, Eduardo de Souza tenta ver o que dá para levar que dure pelos próximos dias. Tarefa um tanto difícil por conta da seca na plantação. (Foto: Simão Nogueira)

Entre uma entrevista e outra, era possível ouvir dos produtores “eu acabei de dizer a ela, chegou verde, mas já madurou tudo”. “É a falta da chuva”.

Leandro de Jesus dos Santos, 31 anos, vem três vezes por semana de Maracaju para a Capital. Ele compra hortaliças para abastecer o mercado no município. A estratégia de chegar cedo para pegar os melhores produtos, segundo ele, vale agora mais do que nunca.

“Se percebe que alguns produtos subiram muito. Venho cedinho para pegar o mais fresco possível. Tem que ter controle também, se não o lucro vai todo na quebra”, resume.

Entre cenoura, alface e cheiro-verde. A dona de restaurante, Antônia Pereira, 42 anos, escolhia os melhores. A vantagem dela é que como o comércio é perto da Ceasa, as compras são feitas todos os dias. Garantia de qualidade na mesa de saladas.

“Subiu um pouquinho, mas ainda está melhor do que o mercado”.

E está mesmo. Também dono de restaurante, Eduardo Gonçalves de Souza, 44 anos, diz que segurou o quanto pode, mas vai ter de repassar os preços para os clientes. É que além das hortaliças, ele alega aumento também no óleo e arroz.

“É automático, mexeu no bolso o cliente reclama. Mas nós somos apenas o passador, quem atende a necessidade do consumidor. Se a roça está ruim, não chove e tem seca, não tem como não subir, é para conseguir manter o equilíbrio”.

De acordo com o agrometeorologista Cláudio Lazaroto, uma chuva como a de hoje ainda não representa alívio aos produtores. Melhoras as condições gerais, no entanto é preciso de no mínimo 80 milímetros de água.

“Nós teríamos que ter chuvas em torno de 100 milímetros para Campo Grande e região para dizer que há normalidade no solo”, explica. A previsão, segundo o especialista, é de que o índice seja alcançado até o final deste mês.

(Foto: Simão Nogueira)
(Foto: Simão Nogueira)
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