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Economia

Entre remédios e colchões, só quem se reinventa suporta a concorrência

Em Campo Grande, um dos segmentos com mais concorrência é o de farmácias, apesar de queda no número de lojas

Silvia Frias e Liniker Ribeiro | 04/09/2019 06:27
Alcides mantém a farmácia há 28 anos e ainda aposta na relação de amizade e confiança com cliente (Foto: Kisie Ainoã)
Alcides mantém a farmácia há 28 anos e ainda aposta na relação de amizade e confiança com cliente (Foto: Kisie Ainoã)

Há sete anos, um desiludido empresário causou polêmica em reportagem do Campo Grande News ao lamentar o fechamento de casa noturna e dizer que aqui “é terra das farmácias e lojas de colchão”. A fama ficou, embora não represente mais a realidade do mercado. De 2012 para cá, caiu o número de farmácias, por exemplo, segundo dados da Jucems (Junta Comercial de Mato Grosso do Sul). Mas a concorrência aumentou consideravelmente, o que obriga quem continua de portas abertas e se reinventar. 

Há 7 anos, eram 585 empresas do ramo na atividade (somando farmácias de manipulação e homeopáticas). Este ano, são 432 na cidade, o que representa queda de 26,15% de empreendimentos em atividade no segmento.

O mercado sofreu um grande impacto com o fechamento de várias unidades da São Bento Comércio de Medicamentos e Perfumaria, rede fundada em 1948 e que entrou com pedido de recuperação judicial em 2015. Antes, a rede mantinha 91 lojas e cerca de dois mil funcionários.

A justificativa no processo na Vara de Falências, Recuperações e Insolvências de Campo Grande, era a “concorrência desleal” das recém-chegadas marcas Raia e Drogasil. O acúmulo de dívidas da Rede São Bento ultrapassava os R$ 70 milhões e, para quitar ao menos as trabalhistas, a rede vendeu, em julho, o prédio localizado na Rua 14 de Julho, por R$ 807 mil.

Para quem permanece ou entrou no ramo de farmácias, mesmo com o fechamento de várias unidades da rede, a disputa é grande com a chegada de outras concorrentes de peso.

Na registradora de Alcides, as anotações das contas dos clientes (Foto: Kisie Ainoã)
Na registradora de Alcides, as anotações das contas dos clientes (Foto: Kisie Ainoã)

Para o empresário Alcides de Lima, 64 anos, o segredo de ter drogaria em funcionamento há 28 anos, a Violeta, é o modelo “clássico” de atendimento. “As redes tem descontos maiores, mas não tem o diferencial, a assistência em casa: aferir pressão, aplicar injeção, a gente faz isso em domicílio, se for necessário”.

Alcides mantém a tradição até de anotar as contas do cliente. Para muitos dos compradores, as vendas a prazo são na base da confiança. “Pode pagar no início do mês, não precisa de cartão, já temos uma amizade forte e cativa ainda mais o cliente”.

O empresário Daniel Filho, 51 anos, abriu a TrevoFarma na Avenida Manoel da Costa Lima, no bairro Guanandi, há seis anos, mas trabalha no segmento há 32, antes, como funcionário de rede farmacêutica. Quando abriu, essas grandes concorrentes ainda estavam no centro e, há pouco tempo, começaram a “invadir” os bairros. “Não é fácil, mas a gente tenta manter preço baixo e ser diferenciado no atendimento, tem muita gente que chega por indicação”, disse.

Daniel saiu de rede para abrir a própria farmácia no Guanandi (Foto: Kisie Ainoã)
Daniel saiu de rede para abrir a própria farmácia no Guanandi (Foto: Kisie Ainoã)

No segmento de colchões, a proporção é inversa: de 2012 até agora, houve aumento de 26,64% de lojas em Campo Grande, passando de 563 para 713 estabelecimentos comerciais.

Entre os novos e antigos no ramo, a perspectiva é que o mercado comporta o número de concorrentes. Há 12 anos em atividade, a loja Ortobom na Avenida Calógeras ainda aposta na tradição entre os consumidores, diz o consultor Thiago Finamor. “Tem cliente que entra e fala que o pai comprou colchão há 8 anos aqui, e aí ainda temos o cadastro dele, é familiar, tradicional”, avaliou.

Para Thiago, além do segmento, o perfil do consumidor em Campo Grande tornou-se mais objetivo. “Eles já pesquisaram na Internet, entram sabendo o que querem”, diz.

O gerente da Mag Vida, Peter Marques, explica que trabalha no segmento desde 1998, mas há um ano, entrou em um nicho mais específico, o de colchões magnéticos. “Esse mercado foi muito explorado aqui, tinha feirão com fábricas de Maringá e Curitiba, mas vendem e vão embora; não davam segurança no pós venda, na assistência técnica”.

A diferenciação deu resultado e a empresa já está abrindo outras seis lojas no Estado. Peter acredita que colchões e farmácias estão entre as preferências do cliente campo-grandense por uma característica muito específica dos que moram aqui. “Pessoal aqui prioriza qualidade de vida e colchão e farmácia estão associados à saúde”.

Foco – O analista técnico do Sebrae, Rodrigo Sleiman disse que, independentemente do setor, a concorrência é inerente ao mercado varejista. “Dificilmente você estará no setor livre e tranquilo, é algo natural”.

Seja em setor inovador ou tradicional, o empreendedor tem que entender o seu mercado. “’Para quem eu vou vender?’ Esta é a pergunta que deve ser feita”, disse Sleiman. Um erro comum é que o empresário pensa somente na estrutura física, sem listar outras prioridades, como conhecer a formação de preço do produto, garantir reserva de segurança caso os recebimentos não entrem, ou seja, montar um plano de negócio.

Especificamente sobre tradicionais segmentos, ele diz que é setor de atuação conhecida e previsível. Por isso, é preciso avaliar se haverá clientes para o mercado e o que ainda pode ser oferecido. “Quem não se reinventa, vai ficar para trás, quem não busca inovar e fica no extremamente comum, igual a todo mundo, entra na concorrência via preço; não tem diferenciação, não tem valor específico para o cliente”.

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